Carlos Chagas
Vem aí nova rodada de pesquisas eleitorais. Dilma Rousseff cresceu. José Serra continuou na frente. Marina Silva ficou onde estava e Ciro Gomes caiu. Novidades, propriamente, nenhuma. Na simulação para o segundo turno, aquele que realmente interessa, o governador de São Paulo continua batendo a chefe da Casa Civil por razoáveis percentuais.
Poderão mudar as tendências? Claro. Imaginam-se alterações fundamentais? De jeito nenhum. Deixam de constituir fatores de alterações fundamentais a remota abertura da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão, que acabará mantendo os percentuais anteriores, assim como a expectativa de que votos poderão transferir-se de acordo com a popularidade de quem não será votado.
A menos que sobrevenham inusitados ou inesperados, está definido o desenrolar do processo eleitoral. Porque a disputa não será travada entre o finado governo Fernando Henrique e o pujante governo Luiz Inácio da Silva. O confronto dar-se-á, mesmo, entre José Serra e Dilma Rousseff.
Por certo que um inesperado será o choque contra o planeta de um asteróide gigante. Ou a chegada do segundo dilúvio universal. Quem sabe até a tentativa de um golpe militar. Fora disso, a natureza seguirá seu curso e a disputa acontecerá mesmo entre o governador de São Paulo e a chefe da Casa Civil. Nesse caso, as pedras estão dispostas no tabuleiro. Quem quiser que suponha lances inusitados e inesperados. Por certo eles poderão acontecer. Mas seguindo o processo como até agora, melhor será aguardar.
Água no chope
Vindo de Fortaleza, desembarcou ontem em Brasília o presidente de honra do PMDB, Paes de Andrade. Está disposto a botar água no chope de Michel Temer, na convenção nacional que o partido marcou para o próximo sábado.
A reunião, idealizada pela cúpula do PMDB, visaria apenas reeleger Temer para a presidência do partido, situação que reforçaria a indicação dela para companheiro de chapa de Dilma Rousseff. Uma espécie de chantagem com o presidente Lula, que pretender garfar Temer, no mínimo porque o parlamentar paulista não exerce qualquer liderança popular em São Paulo. No máximo porque não tardam a ser evidenciadas relações incestuosas entre a direção do PMDB e a lambança do mensalão de Brasília.
Paes de Andrade mostra-se disposto, primeiro, a contestar a reeleição de Temer para a presidência do partido. Afinal, licenciado desde que assumiu a presidência da Câmara, o parlamentar paulista havia-se comprometido a apoiar a candidatura do deputado Eunício Oliveira. Depois, porque sendo reeleito, Temer estaria forçando o presidente Lula a aceita-lo como companheiro de chapa de Dilma Rousseff, hipótese que o companheiro-maior rejeitou ao sugerir receber do PMDB uma lista tríplice. Questões ligadas ao mensalão de Brasília talvez repousem na decisão presidencial.
A razão principal da resistência do ex-embaixador do Brasil em Portugal é mais profunda. Porque os cardeais do PMDB decidiram proibir na convenção de sábado seja debatida a questão sucessória. Melhor será, para eles, manter o governo diante da ameaça de não apoiarem Dilma Rousseff, caso Temer não venha a ser o seu vice.
O problema é que as bases do PMDB começaram a reagir, entendendo que o maior partido nacional deve indicar candidato próprio à presidência da República. Desde já, gostariam de uma posição de suas bases, mesmo não definitiva. O candidato já existe, é o governador Roberto Requião, do Paraná, atualmente em campanha e já dispondo de doze diretórios estaduais. Qualquer manifestação dos convencionais, num sentido ou no outro, enfraqueceriam Michel Temer como parceiro de Dólmã e do governo.
Melhor será esperar a convenção de sábado. Temer com Dilma ou Dilma sem Temer poderão dar a tônica do que vai acontecer.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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