Jorge Gauthier Redação CORREIO Foto: Antonio Saturnino
Os alunos do ensino médio terão que estudar mais 600 horas a partir de 2010, segundo proposta do Ministério da Educação (MEC), que será avaliadahojedurante audiência pública em Brasília. As mudanças no currículo estão sendo forçadas pelas alterações no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que passará a funcionar como mecanismo de acesso para muitas universidades federais.
Mais 600 horas de aula para os estudantes de ensino médio a partir de 2010(Foto: Antonio Saturnino)O MEC apontou, em reunião técnica realizada na semana passada, que o programa chamado Ensino Médio Inovador deve modificar as diretrizes para todas as escolaspúblicas e privadasdopaís. A programação é manter a formação em três anos, o que justificará o aumento da carga horária anual nas escolas. Na rede particular, a possibilidade de mudança causa preocupação.O presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino da Bahia (Sinep), Natálio Dantas, garante que haverá perda considerável nas instituições. “Se a medida for implementada, as escolas perderão de 20% a 30% dos seus alunos, pois isso implica em um aumento no valor da mensalidade”, garante o presidente. O professor João Batista de Souza, diretor do Colégio Anchieta, que tem 1.270 alunos no ensino médio, admite que serão necessários investimentos para a adequação às novas regras. “Ainda é prematuro dizer, mas acreditamosque esse aumento de carga horária, provavelmente, trará a necessidade de mais investimentos”, defende. Apesar disso, Souza garante que ainda não há estudos referentes ao aumento da mensalidade.A propostado MEC é dividir o novo currículo por áreas, compondo quatro bases do ensino: a de linguagem e códigos, envolvendo língua portuguesa, artes, educação física e língua estrangeira; a de matemática; a de ciências da natureza envolvendo física, química e biologia e a área de ciências humanas com geografia, história, sociologia e filosofia. O presidente do Sinep admite que não há viabilidade econômica nas proposições do MEC. “Precisaríamos de 20 a 30 anos para mudar a mentalidade dos pais dos alunos para essa nova forma de ensino. As escolas teriam que formatar a estrutura de ensino em tempo integral. Isso é inviável para os estabelecimentos”. PreocupaçãoA diretora de comunicação do Sindicato dos Professores no Estado da Bahia (Sinpro), Heloísa Monteiro, alerta para a necessidade de uniformização do ensino em todas as instituições. “O MEC precisa traçar mecanismos para fiscalizar essa implementação na rede particular, pois os investimentos podem não ser feitos por conveniência financeira”. Além do crescimento da carga horária , está prevista a colocação da leitura como elemento central de todas as disciplinas e a regionalização dos conteúdos. A professora Heloísa, que é mestreemeducação pela Universidade Federal da Bahia, adverte que as alterações não são efetivas. “Essas novas mudanças não trazem nenhuma diferença real. É apenas uma repaginação de projetos anteriores”.A representante do Sinpro alerta para a necessidade de manter o projeto como algo vitalício. “Qualquer proposta que qualifique e traga autonomia ao aluno é justa e importante, mas precisa definir mecanismos que sejam efetivos e contínuos na formação e não apenas algo temporário. A educação precisa ser tratada como um planejamento de Estado e não apenas de um determinado governo”, defende. RegiãoO objetivo da mudança, segundo o MEC, é desenvolver perspectivas locais, contextualizando as aulas pela região do país. As horas a mais no currículo deverão ser distribuídas em atividades socioeducativas. “Há uma lacuna entre a prática acadêmica e a vida cotidiana. Já temos projetos socioeducativos. O que vamos fazer é aumentar o estímulo do estudantecoma inserção de atividades como xadrez, quadrinhos e audiovisual”, afirma o diretor de educação básica da Secretaria da Educação, Washington Carlos Oliveira. O educador admite a necessidade de mudar a visão educacional. “Temos que ter o cuidado para fazer isso com rigor científico e focado na aprendizagem para evitar que essas atividades virem apenas diversão. As escolas sempre trabalham com cultura e literatura como complemento para relaxar. O papel desse novo projeto é mudar essa visão nas escolas”. O resultado da audiência pública servirá como base para a participação brasileira na Conferência Mundial de Educação Superior, prevista para acontecer este mês, em Paris. Além disso, vai também orientar a realização de uma conferência nacional de educação, em 2010. Os debates devembasear a elaboração do Plano Nacional de Educação com metas até 2020.Estado promoverá mudanças A Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC) garante que o estado irá promover as alterações previstas pelo ministério, mas o diretor de educação básica da SEC, professor Washington Carlos Oliveira, ressaltou que parte da verba virá do governo federal. “Reconhecemos que isso não é simples de ser feito, mas no próximo ano já começaremos a fazer as alterações. O ministério vai entrar com um complemento financeiro para ajudar, pois não temos envergadura financeira para custear o projeto”, completa. O professor ressalta que a alteração curricular é fundamental para garantir a formação do estudante, mesmo que signifique aumento no custeio do ensino. “Há um aumento da evasão no ensino médio porque a juventude tem uma quantidade de informação muito grande, mas a escola não acompanha as mudanças da sociedade. Já temos uma percepção de que o ensino médio não está mais atendendo à juventude que frequenta as escolas”, explica o educador. A diretora de comunicação do Sindicato dos Professores no Estado da Bahia (Sinpro), Heloísa Monteiro, preocupa-se com a capacitação dos educadores para essa nova empreitada. “O ministério ainda não apresentou nenhum plano de reciclagem dos professores que vão garantir essa formação para os alunos. Como vamos aumentar a carga horária semqualificar o professor?”, questiona. Cada estado terá que apresentar um plano de estruturação para se adequar às novas determinações. O representante da SEC afirmou que, em Salvador, por exemplo, já havia uma proposta curricular pronta semelhante à perspectiva do ministério. “A mudança não será feita em todas as escolas inicialmente. O objetivo é aumentar a carga horária e diversificar o currículo para o contato com o conhecimento ficar mais atraente. A intenção é diversificar o tipo de disciplina para se aproximar das múltiplas juventudes”, explica Oliveira. A diretora do Sinpro analisa que há deficiência no sistema de orientação educacional dos alunos. “Essa proposta pode ser boa se aproximar as aulas da realidade do estudante do ensino médio”.
Fonte: Correio da Bahia
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