Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - A indagação continua: e o novo ministério? A última informação é de que começará a ser anunciado dia 5 de fevereiro, segunda-feira. Saber porque segunda-feira, e não domingo, constitui dúvida irrelevante, apesar de curiosa. Quer dizer que o governo não trabalha nos fins de semana? Claro que não, aliás, talvez não trabalhe sequer durante.
A especulação mais recente é de que o senador Francisco Dornelles será o novo ministro da Defesa, representando o PP e, mais do que o partido, o bom senso. Afinal, se já foi ministro da Fazenda, da Indústria e Comércio e do Trabalho, fica evidente sua propensão para curinga. Para os militares, alívio, tendo em vista a hipótese, de quando em quando admitida, de Aldo Rebelo. Apesar de acreditar em Deus, o homem é do PC do B, que décadas atrás desencadeou a guerrilha do Araguaia. Seria um pouco demais, mesmo na plenitude democrática.
Embaixada para Pires
Não deverá ser deitado ao mar como carga supérflua o atual ministro da Defesa, Waldir Pires, de reconhecida capacidade administrativa, jurídica e política, mas sem sorte por conta da crise nos aeroportos. Pode vir a ocupar uma embaixada, tanto quanto ser nomeado para a Advocacia Geral da União ou até a Consultoria Geral da República, que exerceu antes de 1964.
Guido Mantega viu crescer a cotação de suas ações para continuar, mas ficaria com os cabelos em pé, se não fosse careca, se soubesse o teor da conversa entre Lula e o ex-ministro Ciro Gomes. Como este logo depois cumpriu missão presidencial, tentando inutilmente um entendimento entre Aldo Rebelo e Arlindo Chinaglia, na disputa pela presidência da Câmara, há quem suponha o seu aproveitamento não na equipe econômica, mas na Coordenação Política, dita Relações Institucionais. Se viável essa ilação, Tarso Genro estaria a um passo do Ministério da Justiça. Caso contrário, Sepúlveda Pertence ainda continua no páreo para um ministério que Michel Temer, se convidado, jamais recusará.
O PMDB já pretendeu seis ministérios. Hoje ficaria contente com dois: preservar as Comunicações e conquistar outro de considerável orçamento, tanto faz se Transportes, Saúde ou Cidades. Dizem que o deputado Nelson Marchezelli, do PTB, já visitou as instalações do Ministério da Agricultura, apesar de o partido possuir o Ministério do Turismo. O problema é que o ministro Mares Guia está a um passo de trocar de legenda, ainda que dificilmente não de ministério.
Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento Industrial, joga nas onze. Deu sinais de que não queria continuar, pareceu que continuaria se recebesse intenso apelo do presidente Lula e agora, salvo engano, aferra-se à cadeira que exerce. O fato de viajar para Davos com o presidente, hoje à noite, pode significar que permanecerá, tanto quanto estar recebendo a derradeira homenagem do chefe.
Na marca do pênalti
Ministros atuais, daqueles que a gente nem sabe o nome, encontram-se na marca do pênalti, mas pelo menos dois continuarão. Quais? Talvez Silas Rondeau, das Minas e Energia, e Paulo Haddad, da Educação.
O presidente Lula, como seus antecessores, desde Deodoro da Fonseca, irrita-se com as especulações e até disporá do gostinho de não nomear quem já estava nomeado, só para desmentir a imprensa. Mas Delfim Netto ficará de fora? Martha Suplicy, também, apesar de o PT estar a um passo de perder espaço? Dos cotados para ficar, e tomara que não sejam mandados passear só por conta destas linhas, estão Dilma Rousseff, da Casa Civil, Luiz Dulci, da Secretaria Geral da Presidência, Jorge Haje, da Controladoria Geral da União, e quem mais?
Historiadores dizem valer o processo histórico mais do que os homens. Bertrand Russel dizia que se Napoleão não tivesse nascido, a Revolução Francesa acabaria desembocando em alguém como ele. Vamos discordar em parte. Os homens ainda são a mola mestra da História. Assim também no ministério.
Será irresponsabilidade supor os rumos do segundo governo Lula os mesmos, com estes ou aqueles ministros. Lula tem um quê de perverso, ao ficar adiando a reforma ministerial e ensejando especulações. Melhor faria se seguisse o exemplo de Getúlio Vargas, que antes de tomar posse, em 1951, rotulou sua primeira equipe de auxiliares como "o ministério da experiência". Depois, mudou mais de uma vez. No entanto, a tragédia de 1954 teria acontecido se aquele primeiro ministério tivesse continuado?
Fonte: Tribuna da Imprensa
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