Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Ao sair de Brasília para dez dias de férias, hoje, o presidente Lula deixa sobre a capital federal uma nuvem de dúvidas antes inexistentes, mas agora adquirindo tonalidades carregadas: qual o significado de suas críticas formuladas esta semana a respeito da necessidade de um pacote de cidadania que não seja falado em economês?
Caem as cotações do trio Henrique Meirelles, Paulo Bernardo e Guido Mantega, catedráticos de economês, certamente porque de novembro até hoje não conseguiram chegar a um elenco de medidas em condições de destravar o País e restabelecer o crescimento econômico. As versões que discutiram e levaram diversas vezes ao presidente têm sido até agora rejeitadas, ou, pelo menos, consideradas insuficientes.
Mesmo mantendo o controle da inflação e a austeridade fiscal, o Lula quer mudanças mesmo, de verdade, na política econômica. E os três comandantes, presumidamente em desacordo, não chegam a uma conclusão. Teme o presidente do Banco Central desagradar o mercado, os meios internacionais e a ortodoxia do modelo até agora praticado.
O ministro do Planejamento, mesmo influindo menos, inclina-se por alterações que não prejudiquem a arrecadação federal, enquanto o ministro da Fazenda sustenta maiores facilidades para a atividade produtiva e menores para a atividade especulativa.
Há quem suponha não estar tão garantida assim a permanência dos três, isso depois de considerados indemissíveis, semanas atrás. Na verdade, o presidente Lula ganha tempo e aproveitará o período de descanso para refletir. Pode estar sendo grande a tentação de agir conforme discursou no dia da segunda posse, em especial porque no correr da semana continuou dando sinais de serem para valer os conceitos exarados no Congresso e em praça pública.
Numa Brasília cada vez mais deserta de informações, fluem boatos e especulações. Delfim Neto é um nome que volta a ser falado. No caso, para o Banco Central. O empresário Gerdau Johanpetter também. Até Ciro Gomes, que teria mergulhado no interior do Ceará por estratégia combinada com o presidente, não por divergências com ele. Quem pode deter a chave para a solução do enigma é a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Embolou o meio campo
O PT propôs ao PMDB que se Arlindo Chinaglia tiver o seu apoio para a presidência da Câmara, hoje, daqui a dois anos os companheiros votarão em bloco no candidato que os peemedebistas indicarem. Trata-se de um trunfo de razoáveis proporções, mas que acaba de ser neutralizado: Aldo Rebelo fez a mesma proposta a Michel Temer, presidente do PMDB. Caso o partido vote nele, agora, compromete-se a trabalhar desde já para ser sucedido, em 2009, por quem o partido indicar.
O jogo está empatado, apesar da disposição do PT de levar até o fim a candidatura de Arlindo Chinaglia. Porque Aldo Rebelo dispõe do não pouco discreto respaldo do presidente Lula.
Por conta disso e para evitar a ascensão de um Severino Cavalcanti qualquer, cresce no PMDB a corrente capaz de solucionar o impasse. Seria a apresentação, em fevereiro, de um peemedebista capaz de unir o partido. Eunício Oliveira? Pode ser.
Quem não está gostando nem um pouco da indefinição é o presidente Lula, mas foi alertado para preservar-se. O pior que lhe poderia acontecer seria a derrota do candidato que viesse a apoiar formalmente, como aconteceu há dois anos.
Renan garantido
Já na presidência do Senado, as dúvidas vão desaparecendo. Renan Calheiros continuará. Importa menos se por uma dessas curvas do caminho o presidente da Câmara também vier a sair do PMDB. Afinal alhos nada têm a ver com bugalhos e a tradição dá à maior bancada em cada casa do Congresso o direito de eleger seu presidente. O PMDB bate, de longe, qualquer outro partido no Senado, e, na Câmara, é superior ao PT.
Inexiste a teoria das compensações, como regra, ainda que tenha prevalecido uma ou outra vez, no passado. Mas ninguém deve esquecer que Ulysses Guimarães presidiu a Câmara por quatro anos, enquanto no Senado, também do PMDB, os presidentes foram Nelson Carneiro e, depois, Humberto Lucena.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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