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sábado, outubro 19, 2024

A política só pensa naquilo; mal acaba uma eleição e já está começando outra


Tarcísio e Lula já estão empenhados na eleição de 2026

Dora Kramer
Folha

O instituto Quaest divulgou na semana passada pesquisa sobre intenções de voto em 2026, naquela premissa de que, “se a eleição fosse hoje…”, fulano e beltrana seriam escolhidos por “x” por cento do eleitorado. No caso, a consulta aponta três cicranos na cabeça: Luiz Inácio da Silva (PT), Pablo Marçal (PRTB) e Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Como sabemos, com um “se” coloca-se Paris numa garrafa. Ou seja, tudo é possível. Inclusive porque a eleição presidencial não é hoje, e dois anos são uma eternidade, em tese. Na prática, nem tanto.

EXPECTATIVA DE PODER – Com a expectativa de poder no comando do espetáculo, na política mal acaba uma eleição e começa outra. Na Câmara dos Deputados, discute-se a sucessão de Arthur Lira (PP-AL) desde a reeleição dele na presidência, em fevereiro de 2023 e agora a coisa começa a ficar esquisita para ele, que pode não fazer o sucessor.

Falando em revezes, situação tampouco anda boa para o lado do presidente Lula. Embora não haja nada de novo no roteiro das antecipações, elas são matéria-prima para quem faz da política seu ofício. Do lado de cá ou de lá do balcão.

Normalmente, o reflexo das municipais nas eleições gerais, de presidente, governadores, senadores e deputados, se restringe ao Congresso. Partidos que saem fortes nas cidades tendem a fortalecer suas bancadas federais e estaduais.

TEMPOS ANORMAIS – É assim o jogo, mas, vejam, isso normalmente. Tudo o que não vivemos são tempos normais. A começar pela inelegibilidade do expoente mais visível da direita, o que deixa o partido do poder central sem o trunfo para reeditar a frente ampla de 2022.

Na ausência de Jair Bolsonaro (PL) na urna, o PT perde seu antagonista predileto. Vai de Lula, de Fernando Haddad? Ou, a depender do desenrolar dos acontecimentos, no limite pode pensar na opção por uma aliança em que o PT não estaria na cabeça da chapa? Aconteceu na atual eleição em São Paulo, no Rio e no Recife. Não é impossível, embora ainda improvável, que venha a acontecer no plano nacional.

Algum jeito a ala do centro à esquerda terá de encontrar para tentar barrar o avanço do campo da centro-direita à ultradireita, fortalecido pelos resultados municipais.

PLANO REALISTA – Vendo que suas posições foram bem aceitas pelas populações nas cidades, esse pessoal talvez se entusiasme e não se conforme só com o reforço das bancadas na Câmara e no Senado.

Hoje o plano realista é o de ampliar a presença no Congresso, concorrendo à presidência para marcar posição até que Lula saia de cena como candidato. No entanto, as condições objetivas, e mesmo as subjetivas, podem mudar. O presidente farejou isso ao perceber logo de início que o ambiente de 2022 não se reproduziria em 2024, e aí se afastou das campanhas no primeiro turno.

Há divisão na direita, cindida entre “ultras” e moderados, mas a batalha se dá em terreno com várias opções. Já a esquerda não briga entre si porque, além de atordoada, carece da existência de lutadores nesse ringue. Ninguém põe a cabeça de fora para não confrontar Lula.

DEPENDE DO CENTRO – Enquanto a direita anda rachada na abundância de votos, a esquerda segue unida na escassez. Para sair dessa situação adversa a tempo de se recompor para 2026, vai de novo precisar do centro democrático, mas o contrato terá de ser outro.

Aquele firmado na fase de transição, quando houve a nomeação dos ministros, ainda não foi cumprido nesses quase dois anos nos quais o presidente tem se apresentado mais petista do que nunca, numa versão anterior à da Carta aos Brasileiros de 2002.

Assim, na toada do atraso, Lula se arrisca a perder o bonde.


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