Pró-Pinochet, Stroessner, Ustra e Daniel Silveira, contra Nise da Silveira e Paulo Freire
Por Eliane Cantanhêde (foto)
Enquanto o presidente Jair Bolsonaro enaltece sanguinários como Augusto Pinochet, Alfredo Stroessner e Carlos Brilhante Ustra e faz homenagem de duas horas no Planalto para um sujeito como Daniel Silveira, seu governo ataca a psiquiatra Nise da Silveira, o educador Paulo Freire, o cientista Ricardo Galvão, o compositor Chico Buarque e a nossa diva do teatro Fernanda Montenegro.
O Congresso aprovou a inclusão da Dra. Nise no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria, mas Bolsonaro vetou, alegando que não é possível avaliar “a envergadura” do trabalho dela, e bolsonaristas da Câmara já articulam trocar a Dra. Nise por Olavo de Carvalho, o canastrão rejeitado pela própria filha que xingava até nossos generais aos palavrões. Isso, sim, é uma loucura!
A Dra. Nise, um marco no tratamento psiquiátrico, substituiu crueldade por humanidade, eliminou eletrochoque, lobotomia e confinamento e, em troca, pôs pintura, música e convívio com animais. Reconhecida mundo afora, mereceu dois filmes, O Coração da Loucura, de Roberto Berliner, e Olhar de Nise, de Jorge Oliveira, que comentou o veto: “É lamentável o Brasil conviver com tal ignorância”.
E o governo que põe no Ministério da Educação Vélez Rodríguez, Abraham Weintraub, Milton Ribeiro e um que fraudava currículo ataca Paulo Freire, autor de Pedagogia do Oprimido, defensor de justiça, inclusão e generosidade pela educação, ensinando os cidadãos a pensar; a aprender a aprender.
Enquanto no Brasil bolsonaristas ameaçam destruir o monumento de Paulo Freire no MEC, o maior educador brasileiro merece estátuas numa praça em Estocolmo, na Suécia, e na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, por sua “tolerância e diálogo”. Como é o mundo...
Já o físico Ricardo Galvão foi demitido do Inpe por dados sobre o desmatamento da Amazônia depois sobejamente comprovados. Membro da Academia Brasileira de Ciências, o primeiro dos dez cientistas mais importantes da revista Nature em 2019 e premiado pela Associação Americana para o Avanço da Ciência, ele não serve para Bolsonaro.
Na música, Bolsonaro se recusou a assinar o Prêmio Camões (Brasil-Portugal) que Chico Buarque ganhou. No teatro, Roberto Alvim, que veio a ser secretário de Cultura, chamou a nossa Fernanda Montenegro de “sórdida” e “mentirosa”, anunciando “profundo desprezo” pela classe artística.
É nesse ambiente, com ódio, civis armados e policiais fora de controle, que geramos o George Floyd brasileiro: um homem com distúrbios mentais trancado no porta-malas de um camburão e assassinado com gás pela polícia. O que diria a Dra. Nise da Silveira?
O Estado de São Paulo