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quinta-feira, maio 26, 2011

Dilma: “Isso é uma vergonha”. Lembranças e reminiscências da madrugada do Código Florestal. Os personagens que se destacaram. Dona Marina e Serra, silenciosos.

Hélcio Fernandes

Compareceram 450 deputados à votação que começou na terça-feira e entrou pela madrugada de ontem, quarta. Como não era nada definitivo, 82 por cento é um bom número de comparecimento. Houve muita hostilidade. Vejamos.

Dona Marina, presidenciável – Ficou o dia e a noite no plenário. Praticamente sem uma palavra, mas acompanhando tudo. Era chamada de “candidata para 2014”, e nos bastidores do PV isso era fato consumado. Parece mesmo. Mas Dona Marina se baseia em quê? Nos 20 milhões que em 2010, à ultima hora, “fugiram” para ela? Não tem uma possibilidade em 1 milhao de ganhar. De Dilma, Lula ou outro adventício.

“Grande Aldo” – Nunca imaginou que fosse tão aplaudido pelos mais reacionários dos ruralistas. Ficou tão empolgado que exagerou, hostilizou, agrediu, foi advertido, jeitosamente mas duramente, pelo presidente da Câmara. Se acomodou, reconheceu que se exaltou. Não respondeu mais a ninguém.

Marco Maia – Desde a Constituinte de 1946, conheci grandes presidentes da Câmara. O de hoje, que presidiu a votação do Código Florestal (ou do assim chamado) merecidamente fica entre os melhores. Presente, sério, compreensivo, duro, regendo tudo como um maestro no Scala de Milão. A sessão chegou ao fim por causa dele.

Chico Alencar-Ivan Valente – Foram os mais destacados, pelo menos do lado ambientalista. Falaram varias vezes para “encaminhar” a votação, denunciaram os interesses multinacionais, que “comandavam os ruralistas”, davam os nomes dessas multinacionais. Não tiveram a menor ilusão, sabiam que estavam perdendo, mas combateram até o final.

Ronaldo Caiado – Foi o grande artífice da vitória (momentânea) dos ruralistas. Estava em todos os lugares, discursando, convencendo. A colaboração de Aldo Rebelo foi teórica, a de Caiado, efetiva. Sendo conservador quase reacionário, grande vitorioso.

Alfredo Sirkis – Foi insistente, não desapareceu um minuto que fosse. Seu combate foi incessante, e fustigando os ruralistas de forma veemente. Chegou a falar como líder do PV, mostrou que essa bancada também está dividida. Na tribuna, o líder nominal do PV foi ao presidente e disse que ele é que devia falar. O que Marco Maia podia fazer? Deu a palavra a ele.

Henrique Eduardo Alves – Obedecendo às ordens de Michel Temer, desapareceu, ou melhor, não apareceu. Falou uma vez 40 segundos como líder (?), muito cumprimentado pelos ruralistas. Como é que aparecerá no Planalto? Nenhum constrangimento, será recebido por Palocci.

Candido Vaccarezza – Líder inexpressivo, ou melhor, sem expressão. Apenas pedia calma, não se destacou em qualquer momento, não é nenhuma personalidade, está longe de ser orador. Por que o governo “entroniza” um líder como esse? É a vocação da derrota. Paulo Teixeira, “líder do PT”, é muito melhor. Sem ser brilhante, é mais competente e até combatente.

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A EXPLOSÃO DA BASE

A grande derrota do governo Dilma, se deu em duas fazes. E não foi vitória dos ruralistas, e sim conspiração dos trânsfugas do PMDB e do próprio PT. Não era segredo que o governo perderia, como aconteceu na semana passada.

A aprovação do Código Florestal representou duas derrotas alarmantes (o Planalto entende que essa é a palavra?) na mesma noite. É realmente para preocupar. A primeira, acachapante, que palavra, levou o Planalto ao desespero. 410 deputados votaram contra o governo, aprovaram a alteração do Código. Era apenas o início.

Já se conhecia a insatisfação do PT e do PMDB. O partido do governo “se queixava” que o PMDB estava recebendo compensações exageradas. A cúpula do PMDB, através do próprio vice-presidente, reclamava: “O PT leva tudo, o PMDB fica assistindo”. Isso é o que chamam de “base”,

O PT fez tudo para parar na primeira votação, não conseguiu. Os que não queriam votar mais, não tinham comando ou liderança, mas não podiam se enganar. Sabiam que não venceriam e, mais grave, a base partidária explodiria, não sobraria coisa alguma. Foi o que aconteceu.

O PT e o PMDB, unidos, dariam a vitória ao Planalto. Mas tiveram que ir para o “sacrifício”. Aí o governo estava empenhadíssimo, a mobilização foi total. Os 63 do PT e PMDB que votaram contra a aprovação, passaram a 182, foram derrotados pelos 273 que apoiaram os ruralistas. Votando com o que haviam estabelecido, teriam ganho.

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DIVIDIR, DIMINUIR E TRAIR

Os 182 que votaram com o Planalto, com os outros 63 (que fugiram do compromisso), atingiriam o número de 245, mais do que suficiente para a derrota dos ruralistas. Estes, que tiveram 273 votos, recuariam para 210, se os 63 tivessem honrado os compromissos e as compensações que receberam.

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“ISSO É UMA VERGONHA”

O bordão de Casoy, usurpado por Dilma. Se a base tivesse votado de forma, digamos, homogênea, a presidente não precisaria utilizar o que o apresentador consagrou como chavão. Mas o que é que a presidente Dilma dizia que era uma vergonha?

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PLURIPARTIDARISMO E PARLAMENTARISMO

No pluripartidarismo não há certeza de vitoria, mesmo com a vasta distribuição de cargos. E ainda mais grave: o pluripartidarismo dentro do presidencialismo é uma excrescência. O presidencialismo só pode ser exercido com o sistema bipartidário.

Para um território maior e uma população bem mais alta (190 milhões na Filial e 300 milhões na Matriz), os representantes aqui, inacreditavelmente exagerados. São 513 e ainda querem aumentar esse número. Nos EUA são 425 deputados.

Na Itália, o maior exemplo desse sistema parlamentarista, o povo vota nos partidos, o presidente e o primeiro-ministro não são eleitos. O presidente (personagem idoso e notável) chama o líder do partido majoritário e “pede a ele que forme o Gabinete”. Ele então vai fazendo acordos com os diversos partidos, até conseguir maioria suficiente, que resista a “um voto de confiança”.

No pluripartidarismo parlamentarista, os acordos são feitos antes, abertamente, o povo acompanha, sabe que é assim mesmo. No pluripartidarismo brasileiro, os “acordos” são feitos depois, não escapam de identificação de CORRUPTOS, e são mesmo.

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PS – Agora o país terá que esperar um tempo enorme até que o projeto chegue ao Senado, seja discutido, votado, emendado, aprovado de qualquer maneira. Aí volta para a Câmara, dependerá das emendas feitas no Senado.

PS2 – Então vai para a presidente, que tem c-o-n-s-t-i-t-u-c-i-o-n-a-l-m-e-n-t-e o Poder de veto. Mas o que é que ela chama de VERGONHA? A traição dos “partidários” ou a ameaça, que o “líder” Vaccarezza transmitiu usando o nome dela?

Fonte: Tribuna da Imprensa

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