Publicado em 21 de fevereiro de 2021 por Tribuna da Internet
Bruno Boghossian
Folha
Quando ainda frequentava manifestações que defendiam o fechamento do Congresso e do Supremo, Jair Bolsonaro trabalhou para proteger os golpistas de seu grupo político. Em abril do ano passado, ele indicou que era preciso mudar o comando da Polícia Federal para frear uma investigação contra deputados que atacavam outros Poderes. A tentativa de blindagem foi registrada numa mensagem enviada pelo presidente ao então ministro Sergio Moro.
Bolsonaro reagiu a uma notícia sobre o inquérito contra seus aliados e escreveu: “Mais um motivo para a troca”. Agora preso, o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) era um dos integrantes daquele time.
DEMISSÃO DE MORO – O presidente forçou a troca na PF e produziu uma crise com a demissão de Moro. O governo não conseguiu segurar as investigações, mas o episódio mostrou que Silveira e os demais integrantes daquela tropa de choque não eram um apêndice insignificante do grupo que chegou ao poder depois de 2018.
O extremismo bolsonarista é alimentado e protegido pelo Planalto porque faz parte de um projeto.
Em busca de concentração de poder, Bolsonaro investe na corrosão da confiança nas instituições, trabalha para armar apoiadores contra seus adversários políticos e questiona a legitimidade de processos eleitorais, para ficar em exemplos recentes.
MÁQUINA GOLPISTA – Ainda que Bolsonaro tenha fabricado uma trégua com o STF e contratado amigos no Congresso, a máquina golpista continua girando.
O presidente pode disfarçar, recusar convites para protestos ou mandar para o exílio um ministro que deixa escapar seus desejos autoritários, mas o vídeo gravado por Silveira ainda reflete a doutrina bolsonarista.
A prisão do deputado é uma ferramenta precária para uma punição necessária. Depois de ser mantida pela Câmara, a decisão do Supremo deve ampliar tensões e abastecer os instintos radicais que dão vida ao extremismo político. Para sobreviver, instituições que foram omissas por décadas terão que acordar e reforçar a vigilância.”