Para esclarecer algumas questões, a reportagem da Tribuna da Bahia procurou a infectologista Adielma Nizarala, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e fez alguns questionamentos
Por: Yuri Abreu
Passados quase nove meses da pandemia de covid-19, muita gente ainda tem dúvidas de como agir diante da doença que, em Salvador, já registrou quase 100 mil casos confirmados e levou a óbito 2.754 pessoas. Para esclarecer algumas questões, a reportagem da Tribuna da Bahia procurou a infectologista Adielma Nizarala, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e fez alguns questionamentos. Confira abaixo:
Tribuna da Bahia - O que fazer nos primeiros dias quando não se tem certeza se está contaminado?
Adielma Nizarala – Se tiver um contato suspeito ou uma confirmação de se teve um contato com alguém suspeito, a primeira coisa a se fazer é, se a pessoa mora com outras, fazer o isolamento, ficar dentro do quarto, usando máscara. Se eu trabalho, preciso informar a meu chefe imediato que eu vou fazer exames para afastar a possibilidade de ter contraído a covid-19 caso eu tenha tido contato com alguém que deu positivo para a doença. E, mesmo que esteja assintomático, não ir trabalhar. Há também a questão do “contato importante”, que é aquele em que você fica mais de 15 minutos conversando com outra pessoa e ambas sem uso de máscara a uma distância menor do que 1,5 metro. Se você teve esse tipo de exposição é prudente que se a pessoa positivou não vá trabalhar e espere o tempo necessário para fazer o teste. Importante é não expor ainda mais pessoas.
TB - Quais os locais para procurar atendimento de imediato?
AN – No caso de aparecer os primeiros sintomas, você tem toda a rede de atenção primária, as Unidades Básicas de Saúde, os PSFs [Programas de Saúde da Família], onde você pode dar entrada e lá fazer a consulta. O médico vai dar todas as orientações e solicitar a testagem - se estiver no tempo certo para testar. Porém, se for um quadro mais grave, você vai procurar uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Se você tiver convênio, pode marcar uma consulta se estiver com sintomas leves. Já se for um caso grave, procure uma unidade de emergência privada, caso tenha plano de saúde.
TB - Quantos dias após o aparecimento dos sintomas o paciente deve procurar atendimento médico?
AN – Três dias completos. A gente fala também em quatro dias porque quando o terceiro dia começa, o paciente já quer fazer o exame. Mas tudo vai depender do momento em que ele começar a sentir os sintomas. Então, é natural que o dia ótimo seja o terceiro dia completo após o início dos sintomas ou após o contato que você suspeita que você possa ter pego alguma coisa. Vale lembrar que esse tempo é para você fazer um PCR. Mas, supondo que você não teve como fazer o exame ao longo de sete dias, o PCR não vai adiantar. Porque o vírus que estava inicialmente nas vias aéreas, não estará mais após esse período. Só vai conseguir pegar agora anticorpos produzidos contra esse vírus. Aí, o teste rápido do dedinho é que vai definir.
TB - Quais recomendações para quem contrai a doença nesse momento?
AN – Pra quem contrai a doença, já tem o diagnóstico e está com sintomas leves, a orientação é ficar em casa, fazendo a hidratação, tendo uma alimentação saudável, mas mantendo o distanciamento social das pessoas que moram comigo. No mais é aguardar, porque naturalmente o seu corpo vai reagir a essa doença. Claro que você vai observar se, até o décimo dia, os sintomas piorarem, ou aparecem sintomas novos que você não tinha, você tem que procurar uma unidade de emergência, porque já foi demonstrado que a partir do oitavo, nono e décimo dia, os quadros podem começar a ter um agravamento, nessa fase da doença.
TB - Que tipo de medicação está sendo recomendada para sintomas leves? A ivermectina continua um reforço?
AN – A invermectina já foi descartada há muito tempo. Se alguém está usando, está fazendo por conta própria, provavelmente para tratar piolho ou verminose. Lá atrás, já foi demonstrado que a ivermectina não tem nenhum poder de curar contra o coronavírus. O que nós temos hoje são algumas medicações que ajudam a modular a resposta do seu corpo nos casos graves. Nessa situação, está indicado o uso de corticoides e antitrombogênicos, coisas que as pessoas já faziam uso, mas que não servem para matar vírus. Porém, não há nenhuma recomendação do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde que se faça, nem profilaticamente, nem mesmo para o tratamento de casos leves, o uso da ivermectina ou da hidroxicloroquina.
Tribuna da Bahia