Aguirre Talento
O Globo
Assessor do juiz federal Marcelo Bretas, o diretor administrativo da 7ª Vara Federal do Rio, Fernando Antonio Serro Pombal, relatou em depoimento à Polícia Federal ter recebido mensagens e telefonema anônimos com ameaças destinadas ao juiz da Lava-Jato, com recado para arquivamento de uma investigação.
Pombal atribuiu a autoria de uma das mensagens ao advogado Nythalmar Dias Ferreira, que foi alvo de uma operação da PF em 23 de outubro sob suspeita de vender influência junto a Bretas. Nenhuma dessas mensagens com ameaças apresentou provas concretas contra o juiz, de acordo com o depoimento. O inquérito contra o advogado não tramita sob os cuidados de Bretas, mas sim na 3ª Vara Federal do Rio.
SIGILO – O depoimento sigiloso foi prestado à PF em 10 de novembro, no inquérito que tramita sobre as suspeitas de tráfico de influência de Nythalmar. Nele, Pombal relata duas conversas com interlocutores desconhecidos, que teriam lhe procurado por meio do aplicativo Whatsapp.
A primeira conversa, segundo ele, foi em 6 de novembro a partir de um número desconhecido, com DDD no Rio de Janeiro. Nesse diálogo, o interlocutor teria dito, sem apresentar provas, que soube da existência de áudios comprometedores contra Bretas apreendidos pela PF em uma investigação.
Segundo Pombal, essa primeira mensagem dizia “que na busca e apreensão feita no dia 23/10/2020 na casa de um advogado, não citando o nome deste, a Polícia Federal havia apreendido um notebook onde haveria arquivos de áudio que comprometeriam o juiz (não citando o nome deste), bem como a Lava-Jato”. O assessor fez cópia dessa conversa e apresentou à PF. Pouco depois, de acordo com o relato do assessor, o mesmo número lhe telefonou por meio do aplicativo Whatsapp.
VOZ DE MULHER – Era uma voz de mulher, que disse não ser policial nem jornalista, e se identificou como uma pessoa “colaboradora e preocupada com a Operação Lava-Jato”. “A mulher citou que o arquivo de áudio que estaria no notebook apreendido se trataria de uma reunião entre o advogado, o juiz e o MPF acerca de uma ‘delação premiada’ ; que a mulher ao telefone insistia que o declarante tomasse alguma medida de intermediação e mediação junto à Polícia Federal quanto ao inquérito que estava em curso”, diz o depoimento.
Poucos dias depois, em 10 de novembro, Pombal recebeu mensagem de um outro número anônimo. Desta vez, o interlocutor lhe enviou fotos de uma carta e pedia que fosse repassada ao juiz Marcelo Bretas. Segundo o relato de Pombal, a carta não estava assinada, mas “deixa claro” que se tratava de uma mensagem do advogado Nythalmar Dias Ferreira — investigado pela PF sob suspeita de vender facilidades junto a Bretas, ele chegou a ser alvo de busca e apreensão em 23 de outubro. O documento também foi apresentado à PF.
NARRATIVA – “Nesta carta o subscritor não se identifica, mas deixa claro trata-se do advogado Nythalmar, inclusive pela riqueza de detalhes no processo da Lava-Jato e da forma de narrativa em relação ao juiz Marcelo; que o texto encaminhado faz uma série de ameaças ao dr. Bretas, inclusive dizendo que acabaria com a vida pessoal dele e sua carreira”, narrou Pombal em seu depoimento.
Segundo o assessor, o autor da carta diz “ter diversos documentos e arquivos que comprometeriam o dr. Bretas” e afirma que ele “teria até o dia de hoje (10/11/2020) para arquivar o inquérito em curso contra ele”.
A 7ª Vara Federal Criminal informou que o dr. Marcelo Bretas e o dr. Fernando Pombal não irão se manifestar sobre o assunto. O GLOBO procurou Nythalmar na tarde desta quarta-feira, mas ainda não houve resposta.