Redação CartaCapital
Ainda é maio, mas a sucessão de escândalos a envolver o Congresso dá sinais de que 2009 será um ano fervilhante em Brasília. Entre os destaques, o caso do ex-diretor do Senado João Carlos Zoghbi, dono de empresas com negócios milionários com o próprio Senado, segundo revelou a revista Época. Ou os 181 diretores “descobertos” também no Senado, como aquele responsável pela garagem, com salário de 18 mil reais. Ou ainda o escândalo das passagens aéreas utilizadas por familiares ou pelos próprios parlamentares em passeios no Brasil e no exterior. Na avaliação do cientista político Marco Antonio Teixeira, professor da Fundação Getulio Vargas, trata-se de algo “sem precedente” na história, cheia de altos e baixos, do Parlamento nacional. “Estamos presenciando uma sucessão de escândalos que não tem intervalo temporal algum. E isso contribui para a falta de uma agenda positiva no Congresso”, avalia. CartaCapital: Na sua avaliação, o País já assistiu a uma crise no Congresso semelhante à atual? Marco Antonio Teixeira: Em termos quantitativos e em um espaço tão curto de tempo, não há precedente. Claro que, desde os anos 80, tivemos diversos escândalos que marcaram a nossa história política. Mas o que estamos presenciando nos últimos anos é uma sucessão de escândalos que não tem intervalo temporal algum. E isso contribui para a ausência de uma agenda positiva do Congresso. CC: Existe algum denominador comum nesses escândalos? MAT: Há uma questão importante nessa série de escândalos mais recente, que é a gente perceber o quanto uma parcela de nossos políticos simplesmente confunde o seu próprio bolso com o bolso do Estado. Eles não levam em consideração o fato de que o dinheiro deve ser usado em atividades públicas, de interesse público. Basta olhar para o caso das passagens aéreas. Alguns parlamentares quiseram justificar descaradamente passeios com a família como algo que não era ilegal. Podia não ser ilegal, mas era no mínimo imoral, já que se trata de uma atividade privada. Esses casos revelam a falta de espírito republicano. CC: A natureza dos partidos influencia o grau de desfaçatez dos políticos? MAT: Os partidos políticos não cumprem o seu papel de representantes da sociedade ou de setores perante o Estado. Eles têm sido muito mais uma correia de transmissão de poder para as elites partidárias do que instrumentos de representação de interesses sociais. Dentro dos partidos, existem muito mais oligarquias partidárias do que um programa político coeso que, de alguma maneira, oriente os seus parlamentares. CC: E qual o papel da mídia nessa história? MAT: Não existiriam os escândalos não fosse a cobertura da imprensa. A mídia tem funcionado como o principal instrumento de repercussão desses fatos, que só chegam à opinião pública a partir do próprio noticiário. Mas é preciso ver também que as instituições brasileiras foram sendo obrigadas a se abrir mais, a dar maior transparência a seus atos, e boa parte do material divulgado pela mídia é produto da necessidade de publicização. Não podemos esquecer, porém, que a mídia também é alimentada muitas vezes pela própria disputa pelo poder. CC: E o senhor vê uma luz no fim desse túnel? MAT: Os assuntos públicos não estão tão encobertos como já estiveram. Por outro lado, o Legislativo não evoluiu da mesma maneira, apesar de que não há como negar que houve algum avanço. A definição de regras para as passagens é um exemplo. Talvez possamos ver uma luz no fim do túnel não só quando nos escandalizamos, mas também quando temos como resposta a criação de normas, de sistemas de controle que evitem que essas coisas voltem a acontecer. As instituições vão aprendendo com os seus erros. ::
Fonte: Carta Capital
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