Por Hugo Garbe, professor Doutor de Ciências Econômicas na Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).
Foram retirados da lista produtos como petróleo bruto, minério de ferro, celulose, suco de laranja, aviões e peças da Embraer, além de alguns produtos plásticos. Todos os itens com peso significativo na pauta de exportações brasileiras, mas, mais importante do que isso, são insumos cruciais para setores industriais e produtivos americanos, cuja substituição — ao menos no curto prazo — é custosa, lenta ou simplesmente inviável. A decisão, portanto, não é ideológica, tampouco simbólica, ela segue a lógica do custo-benefício. Produtos em que o Brasil ocupa posição de destaque na cadeia de suprimentos global foram poupados. O recado é direto: “precisamos de vocês, por enquanto.” Já os produtos mantidos sob tarifação revelam outra face dessa política: o protecionismo seletivo, voltado a preservar nichos internos sensíveis, especialmente em ano eleitoral. Permanecem taxados, por exemplo, carne bovina, café e pescados, setores em que os EUA têm produção doméstica forte, lobby estruturado e onde o Brasil aparece como concorrente direto. Aqui, o objetivo não é suprir, mas proteger. Não há dependência crítica. Há competição. E Trump, como bom estrategista político, entende que defender o produtor americano, mesmo à custa de tensões comerciais, rende votos em estados-chave como Texas, Iowa e Flórida. Do ponto de vista brasileiro, o alívio parcial deve ser reconhecido: o impacto de uma taxação sobre petróleo, celulose ou minério seria brutal para o saldo da balança comercial, a arrecadação de royalties e o desempenho de empresas do porte de Suzano e Embraer, que registraram alta nas bolsas no dia do anúncio. Mas convém olhar além da superfície. O episódio escancara a fragilidade da nossa pauta externa. Continuamos excessivamente dependentes da exportação de commodities e produtos primários, muitos deles insubstituíveis no mundo, mas facilmente substituíveis politicamente. Basta um decreto para inviabilizar relações de bilhões de dólares. Não há garantia de estabilidade comercial quando o relacionamento com grandes parceiros depende da conveniência política do momento. E Trump mostrou isso com clareza: quem serve aos interesses estratégicos dos EUA é mantido. Quem compete com eles, afastado. Portanto, mais do que um episódio pontual, o tarifaço (mesmo que agora esvaziado em parte) deve servir de alerta. O Brasil precisa urgentemente de uma estratégia de inserção internacional que não seja apenas reativa. É necessário diversificar mercados, agregar valor à exportação e reduzir a dependência de decisões unilaterais de parceiros externos. No xadrez do comércio internacional, não basta ter boas peças. É preciso ter jogo. E o Brasil ainda tem jogado com poucas alternativas. *O conteúdo dos artigos assinados não representa necessariamente a opinião do Mackenzie. Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie A Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) foi eleita como a melhor instituição de educação privada do Estado de São Paulo em 2023, de acordo com o Ranking Universitário Folha 2023 (RUF). Segundo o ranking QS Latin America & The Caribbean Ranking, o Guia da Faculdade Quero Educação e Estadão, é também reconhecida entre as melhores instituições de ensino da América do Sul. Com mais de 70 anos, a UPM possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pela UPM contemplam Graduação, Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras. Informações Assessoria de Imprensa Instituto Presbiteriano Mackenzie imprensa.mackenzie@ Eudes Lima, Eduardo Barbosa, Guilherme Moraes, Kelly Teodoro e Mariana Chávez Celular de plantão: (11) 9.8169-9912 |