Juliana Castro
O Globo
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O ex-governador Luiz Fernando Pezão afirmou, em depoimento à Justiça Federal nesta segunda-feira, dia 3, ter sido uma violência muito grande ter sido preso em pleno mandato. Ele reclamou de todo o processo que envolveu sua prisão em novembro de 2018.
O ex-governador Sérgio Cabral também prestou depoimento e afirmou que Pezão recebia propina desde o início do governo e foi o inventor da expressão “taxa de oxigênio”, a cobrança de 1% dos contratos.
“VIOLÊNCIA” – “Achei uma violência muito grande e pior: fui investigado e denunciado na primeira fase da Lava-Jato (em Curitiba), fui investigado três anos pela força-tarefa da Lava-Jato e tive minha vida vasculhada de tudo enquanto é jeito, cartão de crédito, telefone… A Polícia Federal pediu arquivamento”, disse.
“No STJ (Superior Tribunal de Justiça) foi arquivado. De março de 2015 a março de 2018, fui investigado. O que aconteceu de março de 2018 a novembro para a PF ir lá me prender, a mando do ministro Félix Fischer e da procuradora Raquel Dodge, que fui responder na sede da PF? Era um abuso tão grande como são essas colocações que o Sérgio Castro (delator e operador), Cabral, fizeram que fica até difícil de eu responder”, disse ao juiz Marcelo Bretas.
ENTALADO – Logo no início do depoimento, Pezão disse estar esperando para falar há mais de um ano. “Estou esperando há 14 meses pra falar. Fui julgado, condenado e preso sem poder falar. Tem muitas questões que queria levantar antes de responder. Fui tirado de dentro do Palácio Laranjeiras de uma maneira particularmente para mim muito violento. Não esperava, faltando 33 dias para terminar o governo, viver o que vivi “, disse, afirmando que seis pessoas de fuzil e quatro de pistola, apontando arma para a cabeça dele e da esposa. Depois, os procuradores questionaram Pezão sobre a declaração.
O ex-governador negou todas as acusações. “Nunca recebi dinheiro, propina (…). Não tem um a prova, um empreiteiro que sentou aqui e falou de mim” disse, completando em outro momento do depoimento: “Eu fiquei em estado de choque. Como se tira um governador eleito em cima de questões daquelas”, afirmou sobre a argumentação do Ministério Público Federal (MPF).
INVERDADES – Pezão classificou como inverdades e inverossímeis os depoimentos de delatores e do próprio Cabral, que afirmam que ele recebia propina. Ele citou especificamente o delator Sérgio Castro, operador de seu antecessor no governo: “O seu Sérgio Castro veio aqui dizendo que me entregou dinheiro e fui assaltado (sua casa no Leblon) no dia seguinte. Eu estava na Itália nesse dia”.
Ele negou afirmações de seu antecessor, que falou antes, de que tem dinheiro guardado e de que participou de reuniões de passagem com empresários, em que foi falado que ele assumiria os recebimentos de propina depois que Cabral deixasse o governo.
BENEFÍCIO – Depois do depoimento, Pezão concedeu entrevista e afirmou que Cabral “está querendo um benefício” porque “esta com uma delação para ser homologada”. Falou ainda sobre o período em que ficou preso:
“Foi um período muito difícil e injusto. Graças a Deus, tenho muita resiliência. A prisão não é lugar para você ficar um dia. Eu fiquei um ano e 12 dias lá dentro, então sei o que sofri. A gente está num momento em que os políticos estão jogados todos na mesma vala comum. Então, a gente tem casco grosso e aguentei com muita resiliência”.
ACUSAÇÕES – Pezão foi denunciado pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Ele é acusado, junto de outras 14 pessoas, incluindo o ex-governador Sérgio Cabral Cabral e dois ex-secretários de ter recebido vantagens indevidas que somam R$ 39,1 milhões, em valores atualizados. Entre os agora réus, estão ainda empresários, que teriam pagado propinas ou se beneficiado do esquema.
A denúncia contra Pezão toma como base provas obtidas durante as operações Calicute e Eficiência, que apuraram crimes cometidos por Cabral. Pezão é acusado ainda de ter operado um esquema de corrupção próprio, que teria começado quando ele ainda era vice-governador e secretário de Obras.
Ele teria recebido R$ 150 mil mensais em propinas, pagas em 85 parcelas por Cabral, entre março/abril de 2007 e março/abril de 2014. O valor incluiria até 13º, segundo o relato de um delator. O objetivo seria favorecer empreiteiras que mantinham contratos para grandes obras do Estado.
FETRANSPOR – Pezão também é acusado de receber propinas da Fetranspor durante um ano, a partir de junho de 2014, que chegaram a R$ 11,4 milhões (R$ 14,6 milhões em valores atuais). Ele também teria recebido R$ 240 mil, divididos em oito parcelas, de empresas fornecedoras de alimentação para a Secretaria estadual de Administração Penitenciária e para o Degase.
A propina era dada para que faturas em atraso fossem pagas pelos órgãos. Ele negou e disse que foram o ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado Jonas Lopes e seu filho, Jonas Lopes Neto, quem tentaram receber dinheiro das empresas.
BOCA DE LOBO – Pezão virou réu em janeiro do ano passado, quando o juiz Marcelo Bretas aceitou denúncia da Operação Boca de Lobo . Até então, o ex-governador só havia sido alvo de inquéritos no Superior Tribunal de Justiça (STJ), órgão no qual tinha foro privilegiado. O emedebista foi preso durante o exercício do mandato, em novembro de 2018.
Por conta do cargo, foi denunciado pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, ao STJ em dezembro daquele ano. Como o mandato de Pezão terminou em 1º de janeiro, o caso foi para a 7ª Vara Federal Criminal do Rio, que julga os processos da Lava-Jato no Rio. Bretas, então, acolheu a denúncia e manteve todas as decisões anteriores sobre o caso, incluindo a prisão do ex-governador.
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CABRAL DELATA PEZÃO :
CABRAL DELATA PEZÃO :