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quarta-feira, outubro 27, 2010

Trombose é desconhecida por metade dos brasileiros

Vida e Cidadania

Quarta-feira, 27/10/2010

Antonio Costa/Gazeta do Povo

Antonio Costa/Gazeta do Povo / Aparelho de radiologia vascular: exame detecta obstrução em veias humanas Aparelho de radiologia vascular: exame detecta obstrução em veias humanas
Saúde

Trombose é desconhecida por metade dos brasileiros

Pesquisa feita pelo Ibope mostra que 44% dos entrevistados nunca ouviram falar ou não sabem como se manifesta a doença, responsável por mais de mil mortes em 2009

Publicado em 27/10/2010 | Vanessa Prateano

A trombose, doença que atingiu 5.398 pacientes em 2009, matando 1.098, é desconhecida por 44% da população. Os nú­­meros são de uma pesquisa realizada pelo Ibope com 1.008 brasileiros em todas as regiões do país e divulgada em São Pau­­lo ontem. Encomendado pela Sociedade Brasileira de Angio­­logia e Cirurgia Vascular (SBACV), Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), com o apoio do laboratório farmacêutico Sanofi-Aventis, o levantamento mostra ainda que 8% nunca ouviram falar da doença. Outros 36% já conheciam o termo, mas não sabiam do que se tratava.

A trombose, também chamada de Trombose Venosa Profunda (TVP), é a obstrução de uma ou mais veias profundas do corpo, causada por um coágulo que impede que o sangue venoso, rico em gás carbônico, volte para o pulmão, onde será oxigenado. Na maior parte dos casos, a trombose localiza-se nas veias da perna e causa inchaço e dores localizadas. Em 10%, no entanto, o coágulo se desloca pelo corpo e chega aos pulmões, onde causa embolia pulmonar (insuficiência respiratória, ou EP), levando cerca de um quinto dos pacientes à morte instantânea. Nesses casos, há o quadro de Trom­boembolismo Venoso (TEV), que é a junção das duas doenças. O desconhecimento da população em relação à EP é ainda maior: 78% dos entrevistados.

Áreas médicas precisam agir em conjunto

De acordo com especialistas das áreas de pneumologia e angiologia, para que o número de casos de trombose diminua, é fundamental o trabalho em conjunto com outras áreas da medicina, especialmente a ginecologia. O uso de hormônios, por meio de pílulas anticoncepcionais e da reposição hormonal na menopausa, potencializa o risco de a paciente ter trombose, mas muitos ginecologistas ainda prescrevem o tratamento sem checar o histórico da paciente.

O caso da estudante Yasmmin Caralp, 17 anos, é emblemático: com histórico de trombose na família, Yasmmin iniciou o uso da pílula muito cedo, para regular o fluxo menstrual. Nunca lhe foi pe­­dido um exame para detectar sua predisposição à doença. Resultado: há cerca de duas semanas, ela foi internada às pressas, após ter uma trombose que afetou as veias da perna e do abdômen, além de resultar numa embolia pulmonar. “Os hormônios femininos alteram a química das paredes da veia, como se fizesse pequenas lesões na parede venosa. Isso facilita a ocorrência de coágulos no lo­­cal”, explica o chefe do Setor de Ci­­­rur­­gia Vascular do Hospital Evangélico, Constantino Miguel Neto.

A aposentada Irene Cansield, de 72 anos, teve uma trombose na perna há 10 anos. Embora saudável e adepta de caminhadas diárias, Irene havia feito reposição hormonal cerca de 15 anos antes. Após complicações em uma cirurgia na bexiga, a ginecologista lhe recomendou que voltasse a tomar hormônio. O resultado foi um in­­cha­­ço que ia do pé esquerdo à virilha.

O médico Guilherme Pitta, da SBACV, afirma que, a partir deste ano, uma série de diretrizes elaboradas pelas sociedades das di­­versas áreas visa acabar com o con­­flito de informações. “Antiga­mente, cada sociedade elaborava suas diretrizes, que por vezes eram conflitantes. Agora, todas se reuniram e ela­­boraram diretrizes em con­­junto. Após isso, haverá uma revisão por parte da Asso­­cia­­ção Médica Bra­sileira (AMB). As diretrizes virarão resolução do Ministério da Saúde e todos os médicos, das mais diversas áreas, terão de cumpri-las.”

Doença silenciosa

De acordo com a professora do Serviço de Pneumologia do Hospital Universitário Professor Edgar Santos, em Salvador (BA), Ana Thereza Rocha, o desconhecimento dos sintomas e da prevenção é grave porque apenas 20% dos casos apresentam sintomas. “É uma doença silenciosa e traiçoeira. Em 80% dos casos, a pessoa não sente dor, mas a doença está ocorrendo.” Além da falta de informação da população, Ana Thereza aponta outro fator que ajuda a aumentar os números da doença: os profissionais de saúde ainda não estão preparados para diagnosticar os casos.

Atualmente, a embolia pulmonar é a causa mais comum de morte hospitalar evitável, mas muitos médicos, no momento da internação, não perguntam ao paciente se ele se encaixa em algum fator de risco, como fumar, usar pílula anticoncepcional, ter histórico da doença na família ou trombose anterior. A internação em si também é um fator de risco, já que a pessoa passa muito tempo deitada, o que compromete a circulação do sangue. “Pacientes que fizeram cirurgias que exigem muito tempo de repouso têm mais chances de ter a doença. Isso ocorre porque o retorno venoso se dá principalmente em função da musculatura da panturrilha. Se não andamos, não ativamos essa musculatura e o sangue não sobe”, explica o angiologista do Hospital das Nações, Maurício Abrão.

“É raro uma pessoa estar [internada] em um hospital e não ter um outro fator de risco. A profilaxia tem de ser rotina nos hospitais. É preciso que cada hospital tenha um comitê de prevenção da trombose, assim como há os comitês de prevenção de infecções hospitalares”, complementa Ana Thereza, que também coordena o programa TEV Saftey Zone no Brasil, patrocinado pela Sanofi-Aventis com o intuito de diminuir os casos de trombose e embolia pulmonar após as internações hospitalares.

Óbitos no Sul

A pesquisa do Ibope também apontou que a Região Sul figura em segundo lugar no número de óbitos, internações e gastos com tratamento, atrás apenas da Região Sudeste. Entre 2008 e no ano passado, de acordo com informações repassadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), os três estados sulistas tiveram mais de 21 mil internações na rede pública, com gastos da ordem de mais de R$ 10 milhões. Foram registradas, no mesmo período, 1.120 mortes. Para o presidente da SBACV, Guilherme Pitta, a possível explicação para os números se dá pela excelência do sistema hospitalar da região. “No Sul, há hospitais universitários excelentes, nos quais o tratamento está mais avançado. A notificação nesses locais também é maior. Muitas pessoas de outras regiões também vão para o Sul e o Sudeste em busca de tratamento, o que faz com que os casos ali tratados e diagnosticados aumentem.”

A jornalista viajou a convite da Sanofi-Aventis

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