Os senadores que compõem as duas seleções que se digladiam no campo enlameado do Palácio do Congresso parecem escabreados com a velocidade que a crise da roubalheira disparou e se dividem na solução: os exaltados insistem em tocar fogo no plenário e a provável maioria encurta o passo e reconhece que passou a hora de dar um basta, qualquer que seja a saída negociada.Vários dos principais craques estão com problemas à margem do sururu e que impõem a óbvia privacidade. A ministra-candidata Dilma Rousseff contem-se para não estourar na troca de versões contraditórias com a ex-Secretária da Receita Federal, Lina Vieira que jura, beijando os dedos em cruz, que foi chamada ao gabinete da Chefe da Casa Civil e ali recebeu o pedido para “agilizar a fiscalização do filho de Sarney. Não disse se ia ou não ia atender. Fui embora e não dei retorno.” Acrescentou que entendeu o recado: “Era para encerrar a fiscalização. Estava no processo de eleição no Senado, acho que não queriam nenhum problema com Sarney.”A ministra Dilma rebate, em desmentido categórico; “Quero dizer que em momento algum eu me manifestei nesse sentido, como também não me manifestei em nenhum outro.”Com justa preocupação com mais um aborrecimento em período azarado, o presidente acudiu em socorro da ministra-candidata: “Eu não acredito. Não faz parte da personalidade da Dilma e eu sem ter conversado com ela sobre o assunto de ontem para hoje, eu duvido que a Dilma tenha mandado recado ou conversado com qualquer pessoa a respeito.”Trata-se de um incidente menor, mas era melhor que não tivesse acontecido. E pior para o presidente Lula que caiu na crise do Senado sem querer, empurrado pelo racha na bancada do PT. Dos votos dos petistas no Conselho de Ética do Senado depende a aprovação ou a rejeição do processo pelo afastamento de Sarney da presidência do Senado. Até ontem com 41 assinaturas, mais da metade dos 81 senadores, com a adesão dos senadores Eduardo e Suplicy (PT-SP) Marina Silva (PT-AC). Para Lula, permanência de Sarney é fundamental para garantir o apoio dos tucanos e do DEM.Embaraços no dia em que o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) ocupou a tribuna para se desculpar com os colegas e eleitores pelo bate-boca da sessão de quinta-feira, com o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL) que o chamou de “coronel de merda” e a quem deu o troco mais barato de “cangaceiro de terceira categoria”.O senador Tasso recebeu a solidariedade da maioria dos presentes, que reconheciam no gesto o primeiro passo para aliviar a crise. O senador Renan ausente do plenário, negociou com o senador Paulo Duque (PMDB-RJ), presidente do Conselho de Ética, o adiamento da sessão marcada para esta noite, para dar um prazo para a articulação do entendimento.Com tantos e irritantes problemas, mais um com a marcha dos Sem Terra e da Via Campesina que invadiram o Ministério da Fazenda para exigir o contingenciamento de R$ 800 milhões para o assentamento de 90 mil famílias acampadas em vários pontos do país.Um grupo de ministro deve receber as lideranças dos Sem Terra para negociar uma solução.O presidente Lula, o PT, de raspão a ministra-candidata Dilma Rousseff, o Senado e a Câmara, partidos, lideranças e o eleitor em geral têm quatro meses e meio para tentar uma saída para fechar o ano, enterrado numa das piores fases dos últimos tempos, quando tudo virou de cabeça para o ar e pernas para cima
Fonte: Villas Bôas Corrêa
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