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sábado, agosto 01, 2009

Navalha no Senado

Por: Guilherme Fiuza
José Sarney não deve sair da presidência do Senado pelas irregularidades que cometeu. Deve sair por causa de seu bigode.
Tráfico de influência, nepotismo, atos secretos, favorecimento de negócios particulares com verba estatal – tudo é muito relativo. O próprio Sarney já respondeu que essas coisas todo senador faz. A única coisa concreta, que o diferencia de fato dos outros, é o bigode.
Lula já avisou ao povo que Sarney não é uma pessoa comum. Muita gente protestou, mas ninguém entendeu. O presidente se referia ao bigode.
Em vista disso, surgiu finalmente uma campanha inteligente sobre o assunto. Nada de passeatas, de gente vestida de branco, de preto ou de verde e amarelo. Nada de caras pintadas. Chegaram os caras peludas.
É a Greve do Bigode, movimento legítimo, tanto que não tem a UNE no meio. Nem partidos, nem OAB, nem ABI. A palavra de ordem vem de um publicitário paulista.
O slogan é simples: “Só tiro o meu bigode quando o Senado tirar o dele”.
A campanha não atrapalha o trânsito, não entope os bueiros com panfletos, não precisa de faixas e comitês. A sede é a internet. Tem informação, opinião e concurso de melhor bigode. Mulher pode participar, vale maquiagem.
Só não vale photoshop. O coordenador da campanha – que não é candidato a nada, nem tem tempo para isso – avisa logo que é diretor de arte e identificará no ato os bigodes forjados em computador. Quem quiser tentar fraudes, que vá pedir emprego no Senado.
Sarney não é um mal absoluto para o Brasil. É um político arcaico, um coronel, cujo clientelismo é reprovável. No entanto, a política é mais complicada do que parece.
Por que Lula insiste tanto nesse abraço patético a Sarney? Porque o cacique maranhense unifica um pedaço do Brasil. Um pedaço clientelista e fisiológico. Alguém tem que representá-los, é da democracia.
Evidentemente, o melhor seria acabar com o clientelismo e o fisiologismo. Mas enquanto isso, não dá para fingir que eles não existem. Ter essa turma ordenada sob um líder arcaico, mas ponderado, como Sarney, pode ser útil em vários aspectos – inclusive para reduzir as chantagens.
Como diria o artista incompreendido, não dá para fazer política sem botar a mão na m… O problema é se encantar com ela.
É por isso que gritar contra as bandalhas de Sarney não vai bastar. Elas fazem parte, miseravelmente, do equilíbrio democrático brasileiro. O que é preciso dizer é que a cara dessa democracia está velha. Basicamente, que ninguém agüenta mais olhar para aquele bigode.
A greve peluda é genial. Todo mundo ficando feio, homens grisalhos com bigodes fartos pintados de preto, jovens com bigodes tingidos de grisalho, mulheres bonitas aplicando pêlos sob o nariz. Uma foto de Juliana Paes bigoduda pode ser a revolução.
Só tire o seu bigode quando o Senado tirar o dele. E pare de sonhar com as passeatas de 68.
Fonte: Época

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