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quarta-feira, agosto 06, 2008

PMDB quer a vice-presidência

Por: Carlos Chagas

BRASÍLIA - Vale começar repetindo o provérbio árabe de que "bebe água limpa quem chega primeiro na fonte". Por conta disso o PMDB está começando a entrar em ebulição. Transcorra a sucessão de 2010 dentro das regras atuais, com Dilma Rousseff de candidata, ou venha a confirmar-se a presunção do terceiro mandato para o presidente Lula, uma evidência transparece: o PMDB aceita abrir mão de disputar o pPlácio do Planalto, mas não cede à pretensão de indicar o candidato à vice-presidência.
Tanto faz se, daqui até as eleições, o Congresso tiver aprovado o direito de Lula eleger-se mais uma vez, certamente com os votos da bancada peemedebista. Ou se a atual Constituição for cumprida.
"Da vice não abrimos mão, desta vez!" é o slogan que mais se ouve na Câmara e no Senado entre parlamentares do PMDB, de José Sarney a Mão Santa, de Michel Temer a Eliseu Padilha, sem esquecer os governadores, os prefeitos, os vereadores e as bases.
Nomes existem aos montes, da senadora Roseana Sarney ao governador Roberto Requião. Todos acomodados à necessidade de mais uma vez seguirem a reboque das decisões do presidente Lula, desde que o companheiro de chapa dele ou de Dilma provenha de seus quadros.
Por isso tem sido grande a rejeição à dobradinha atribuída ao presidente Lula, de que Ciro Gomes seria excelente opção para companheiro de chapa da chefe da Casa Civil. Oferecer a presidência da República em holocausto à própria permanência nas beiradas do poder e suas benesses, o partido admite. Mas aceitar um cristão-novo de um pequeno partido, no caso o PSB, de jeito nenhum.
Disporá o PMDB de poder de fogo capaz de emplacar um seu candidato à vice-presidência? Depende. A bancada no Congresso é poderosa, mas desunida. Dificilmente seus deputados e senadores, em maioria, aceitariam deixar de votar os projetos oficiais como uma espécie de aviso à possível escolha de Ciro. Podem agir assim se a nomeação para alguma diretoria de empresa estatal demorar a sair.
A ameaça de lançar um candidato próprio à presidência da República gera pouca intranqüilidade, por enquanto, porque se ignoram quem poderá ser o candidato à vice-presidência, quanto mais em se tratando do candidato à presidência? Mesmo a hipótese do ingresso do governador Aécio Neves em suas fileiras é vista com muita descrença e alguma discordância, no partido.
Os dirigentes maiores do PMDB imaginam conseguir segurar a reação de suas bases até a proclamação dos resultados das eleições de outubro. Depois, caso seus candidatos tenham apresentado boa performance, poderão começar a negociar. Sem eles, o governo corre risco. Com eles, o preço a pagar pode ser demasiado.
O reverso da medalha
Caso não tenha sido adiada, acontecerá no final da tarde de hoje, no Clube Militar, no Rio, a audiência pública destinada a protestar contra a iniciativa do ministro da Justiça de reabrir as feridas do regime militar, identificando e processando acusados da prática de atos de tortura. O clima anda quente, entre os militares, não obstante a evidência de que os generais, almirantes e brigadeiros de hoje eram cadetes, aspirantes e guardas-marinha, em 1964.
Sustenta a oficialidade no serviço ativo, e mais, na reserva, que a anistia apagou tudo, desde os excessos praticados à sombra do poder público às ações de terrorismo e seqüestro desenvolvidas pelos adversários.
Para ambos os lados haverá prejuízo, ainda que pareça impossível esquecer o que se passou. Diz o Clube Militar não terem sido os militares que começaram esse novo confronto.
Se listas de possíveis torturadores vem sendo preparadas no Ministério da Justiça e adjacências, ninguém se iluda caso apareçam relações de pessoas antes empenhadas na luta armada e hoje ocupando cargos e funções no governo. Quanto a resultados práticos, nada haverá que esperar. Os crimes cometidos de parte a parte já prescreveram.
Coincidência?
O caos nos aeroportos, no fim de semana, nem chegou aos pés do que aconteceu há um ano. Vôos atrasaram, foram cancelados, montes de passageiros ficaram nos aeroportos à espera de informações, mas, no fim, tudo se resolveu.
Fora as instabilidades climáticas apontadas como parte da crise, registraram-se queda na transmissão de energia elétrica para a parafernália eletrônica que dirige o transporte aéreo. Coincidência, porque as paralisações seguiram-se à iminência de greve dos aeroportuários, afinal superada? Seria bom que uma sindicância pudesse afastar ilações e temores de sabotagem. Porque faltar luz nas instalações referidas equivale a faltar areia no deserto...
A velha discussão do diploma
Tão certo quanto o mar chegar a ondas na praia está sendo a mais recente tertúlia a respeito da obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo. Trata-se de lei, mas volta e meia o Judiciário oscila entre uma opinião e outra, aguçando a intransigência de um lado e de outro.
Escrever é um dom que nasce com o indivíduo ou é adquirido ao longo dos anos?
Escrever faz um jornalista ou um escritor?
Será bom jornalista aquele que sabe apenas escrever?
Estão os escritores proibidos de escrever nos jornais?
As perguntas sucedem-se de forma interminável. O dom de cortar carne faz um médico?
A facilidade de discursar faz um advogado?
As faculdades de Comunicação formam cada vez mais professores de jornalismo, mestres em teorias esotéricas, mas conseguem formar jornalistas?
Se deixam a desejar, as faculdades de Comunicação devem ser extintas ou aprimoradas?
Sem a obrigatoriedade do diploma, os donos de jornal comporão suas redações apenas com jovens que pensem como eles e só defendam os seus interesses?
Quem é o dono da notícia, o proprietário do jornal ou a sociedade para a qual a notícia se destina?
Quem deu aos jornais e aos jornalistas a prerrogativa de decidir o que será e o que não será publicado?
O cidadão que pretender entrar na interminável seqüela a respeito do diploma deveria, antes, tentar responder a cada uma dessas questões. Elas poderão exprimir o fim ou a redenção do jornalismo...
Fonte: Tribuna da Imprensa

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