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segunda-feira, março 03, 2025

‘Mundo livre precisa de um novo líder’, diz Europa depois de briga de Trump

Publicado em 2 de março de 2025 por Tribuna da Internet

Thierry Monasse/Getty Images

Kaja Kallas decepcionou-se com a postura de Trump

Jamil Chade
do UOL

“Ficou claro que o mundo livre precisa de um novo líder. Cabe a nós, europeus, assumir esse desafio”. Foi assim que a chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas, reagiu depois da crise no Salão Oval entre os presidentes Donald Trump e Volodymyr Zelensky.

Sua declaração foi a tradução pública de um sentimento de mal-estar por parte da Europa diante de seu parceiro histórico, os EUA.

REUNIÃO AMPLA  – Neste sábado, em Londres, governos de 16 países se reuniram com a União Europeia e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) para estabelecer bases de uma unidade sobre a defesa do continente. Reino Unido e França anunciaram neste domingo que irão trabalhar em um plano de paz com Kiev para apresentá-lo aos EUA. A cúpula, assim, se transformou em uma resposta às investidas de Trump contra a Ucrânia.

Uma segunda reunião, na próxima quinta-feira, tem como objetivo desenhar uma posição comum dos 27 países da UE para a eventual negociação entre russos e ucranianos.

Uma das ideias defendidas por britânicos e franceses é o deslocamento de tropas de paz da Europa em território da Ucrânia, um tema que vinha sendo negociado com Trump.

TRUMP ASSUSTA – O americano já havia causado um choque quando anunciou que a Ucrânia deveria ceder territórios aos russos e que não deveria entrar na Otan. Trump também forçou para que os EUA tenham acesso aos recursos naturais do país, como parte de um acordo para acabar a guerra.

A exclusão da participação da Europa numa solução para o confronto tinha causado indignação em Berlim, Paris e Londres.

Mas, desde a briga entre os líderes ucraniano e americano, na sexta-feira, as principais diplomacias da UE mergulharam numa operação para admitir a existência de uma ruptura promovida pela Casa Branca e apressar uma nova organização de sua própria segurança.

NOVA ETAPA – Para muitos, o ato tem o potencial de gerar uma nova etapa na relação transatlântica e na própria condução da política da UE, profundamente ligada aos EUA desde o final da Segunda Guerra Mundial.

A constatação é de que se tratou de uma arapuca, montada pelos americanos para humilhar e deslegitimar o líder ucraniano, reforçando a tese de que o único parceiro viável para uma negociação é Vladimir Putin.

Se o russo sempre teve como objetivo a queda de Zelensky e a promoção de uma mudança de regime em Kiev, essa possibilidade ficou ainda mais forte diante do comportamento de Trump.

TROCA DE PRESIDENTE – Para os europeus, o objetivo da armadilha foi acelerar a troca de liderança na Ucrânia. Diplomatas destacam como as provocações começaram mesmo antes da troca de farpas. Ao chegar à Casa Branca, Zelensky foi recebido com um comentário irônico por parte de Trump.

O presidente americano “elogiou” a roupa que o ucraniano vestia, seu tradicional uniforme usado desde o primeiro dia da guerra. Momentos depois, no Salão Oval, ele seria uma vez mais criticado por não usar gravata.

A difusão de teorias conspiratórias, em sites e contas de trumpistas nas redes sociais, também reforçou a ideia de que a briga pode não ter sido tão espontânea como os republicanos querem fazer supor.

MACRON AO TELEFONE – Neste fim de semana, coube ao presidente da França, Emmanuel Macron, telefonar para Trump e para Zelensky, na tentativa de apaziguar a crise.

Enquanto isso, as declarações de apoio aos ucranianos, que surgiram ainda na sexta-feira, começaram a ser traduzidas em atos.

Zelensky foi ao Reino Unido e viu demonstrações de apoio dos europeus. Os líderes britânicos não apenas o receberam, como prometeram um novo pacote de dinheiro para resistir aos russos, no valor de 2,2 bilhões de libras esterlinas. Neste domingo, ele será recebido pelo rei Charles, uma rara audiência política do monarca.

MAIS RECURSOS – Annalena Baerbock, ministra de Relações Exteriores da Alemanha, pediu que seu governo libere 3 bilhões de euros para a defesa da Ucrânia.

No Uruguai, o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, se reuniu com diversos líderes sul-americanos ontem e deixou explícita sua preocupação com a crise. “A diplomacia fracassa quando os parceiros de negociação são humilhados diante do mundo”, disse.

Steinmeier apontou que a cena na Casa Branca o “deixou sem fôlego”. “Eu nunca teria acreditado que teríamos que defender a Ucrânia dos Estados Unidos”, disse. “Devemos evitar que a Ucrânia seja forçada a aceitar a escravidão”, completou.

DISSE LULA – O presidente Lula, que se encontrou com o colega alemão no Uruguai, classificou como “cena grotesca” e disse que Trump quis humilhar Zelensky. O brasileiro declarou que disse ao presidente da Alemanha que “é bem possível que a Europa fique responsável pela reconstrução da Ucrânia, fique responsável pela manutenção da Otan”.

O primeiro-ministro tcheco, Petr Fala, destacou que a Europa vive um “teste histórico” e que o caso mostra que “ninguém mais vai cuidar” da segurança do continente. Para ele, novos recursos devem chegar aos ucranianos.

O único a destoar da unidade europeia foi Viktor Orbán, primeiro-ministro de extrema-direita da Hungria e aliado tanto de Trump como de Putin. Ameaçando bloquear um consenso da UE, ele alertou que apenas a postura dos EUA na negociação pode ter êxito.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Tudo isso significa que o mundo não mudou nada. Apesar de alcançar um desenvolvimento tecnológico espantoso, tudo continua como antes nesse mundo verdadeiramente cão, apesar de os canídeos não serem tão abjetos e desprezíveis. (C.N.) .

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