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A necessidade faz Lula se reaproximar do mentor Dirceu
Malu Gaspar
O Globo
Não foi só com Lula que José Dirceu falou ao telefone nos últimos dias a respeito das mudanças que ele defende que sejam feitas no governo do PT para recuperar a popularidade do presidente e garantir a reeleição em 2026.
Além de Lula, com quem esteve pessoalmente há alguns dias e falou ao telefone na semana passada, o ex-ministro da Casa Civil também já teve conversas reservadas com o chefe de gabinete, Marco Aurélio Ribeiro, o Marcola, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o favorito de Lula à presidência do PT, Edinho Silva.
PEDE MUDANÇAS – Em todas as conversas, Dirceu defendeu mudanças na organização do governo para melhorar a articulação política não só com o Congresso mas também com os empresários, o agronegócio e o mercado financeiro.
Aliado de Haddad no PT e seu defensor no governo, o ex-ministro da Casa Civil do primeiro mandato de Lula tem feito duras críticas ao governo nos bastidores. O discurso se repete em público, ainda que de forma mais comedida.
ARTIGO NA FOLHA – No final de janeiro, Dirceu publicou um artigo na Folha de S. Paulo com uma lista de pontos que considera importantes para que o governo se reinvente nessa segunda parte do terceiro mandato.
No texto, ele defende que Haddad lidere a agenda econômica (em contraposição à corrente interna do PT que diz que o ministro é excessivamente fiscalista e obediente à Faria Lima). Diz também que não adianta mudar a comunicação sem melhorar a articulação com os setores econômicos.
Na agenda de Dirceu também consta o estímulo à agricultura familiar e a formação de estoques reguladores para conter a inflação dos alimentos, além de uma nova política industrial e o reforço de alianças com a China para enfrentar a ofensiva tarifária dos Estados Unidos sob Donald Trump sobre os produtos de exportação.
VOLTA À POLÍTICA – Depois da publicação, Dirceu passou a fazer essas conversas reservadas com integrantes do governo e da cúpula do PT com quem tem mais afinidade.
O movimento visa ganhar terreno na disputa interna do partido para influenciar o rumo do governo Lula nesta segunda metade do terceiro mandato.
O presidente, que já conversou com Dirceu pelo menos duas vezes nas últimas semanas, não tem dado muitas pistas do que fará. Mas a troca da ministra da Saúde Nísia Trindade por Alexandre Padilha, da mesma corrente de Dirceu no PT, mostra que aos poucos o ex-ministro de Lula vai retomando a influência que já teve no partido e no governo.
DESAGRAVO DE LULA – No evento de aniversário de 45 anos do partido, no Rio de Janeiro, Lula fez um desagravo público a seu ex-ministro ao dizer que “o José Dirceu sabe o que é ser vítima da mentira. O companheiro Delúbio também sabe. O companheiro Vaccari não está aqui hoje”, referindo-se às condenações e à prisão de Dirceu nos casos do mensalão e do petrolão.
“Eles primeiro contam mentiras para tentar nos destruir. Eu sei o que eles fizeram comigo”, afirmou Lula sobre os 580 dias de prisão em Curitiba, entre 2018 e 2019.