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segunda-feira, maio 29, 2023

Presença de ministros do STF no churrasco de Lula mostra promiscuidade de Brasília

Publicado em 28 de maio de 2023 por Tribuna da Internet

Charge do Zé Dassilva: churrasco presidencial - NSC Total

Charge do Zé Dassilva (NSC Total)

Merval Pereira
O Globo

A notícia de que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, além do ministro aposentado recentemente Ricardo Lewandovsky, estiveram no churrasco que o presidente Lula organizou na sexta-feira no Palácio Alvorada, juntamente com ministros do Governo e lideranças partidárias, não causou espanto pela frequência com que ministros do Supremo se encontram em Brasília com políticos, advogados e empresários em reuniões informais, mesmo quando esses respondem a algum processo que está ou poderá estar em votação no STF.

O tema do churrasco, por exemplo, era como enfrentar a rebelião no Congresso que esvaziou a política ambiental do governo. O caso pode parar no Supremo, mas essa possibilidade não inibiu os ministros.

PODER PROMÍSCUO – O fato se repete, não apenas em governos petistas, mas também no de Bolsonaro, além de conversas reservadas com presidentes como Michael Temer. Considerado o mais influente ministro do Supremo, Gilmar Mendes encontrou um concorrente à altura em manobras de bastidores no ministro Alexandre de Moraes, assim como já tivera no ministro Luis Roberto Barroso um constitucionalista de saber tão reconhecido quanto o seu.

Essa promiscuidade brasiliense não é prerrogativa da nossa capital, embora a discrição seja maior na maioria dos países. A Suprema Corte dos Estados Unidos, tida como exemplar na ação jurídica silenciosa e isenta, nos últimos anos tem revelado uma série de comportamentos fora da curva.

Recentemente, o ministro Clarence Thomas foi denunciado pela amizade com o bilionário Harlan Crow, grande doador do Partido Republicano e ativista das causas conservadoras. Thomas costumava passar férias em companhia de Crow, em passeios de iate ou viagens em jatos particulares.

EXEMPLOS LAMENTÁVEIS – A amizade é tão grande que o bilionário comprou da família Thomas a casa onde mora a mãe do juiz e outros terrenos em volta, alegando que um dia quer montar um museu em homenagem ao juiz da Suprema Corte.

Outro que teve sua aparente higidez moral posta à prova foi o juiz Antonin Scalia, encontrado morto em um resort de luxo no Texas depois de participar de uma caçada, em companhia de 40 amigos.

Esta foi a última de cerca de 85 viagens de caça e pesca com políticos e empresários. Tinha fama de “fazer qualquer coisa se você o levasse a uma caçada”, dizia o advogado Mark Lanier, que o levou em um avião fretado para caçar javalis. Um ícone da direita conservadora dos Estados Unidos, Scalia era considerado uma sumidade do constitucionalismo americano, o mais brilhante de sua geração.

NOVO PODEROSO – O ministro Alexandre de Moraes é o novo poderoso de Brasília, com o destaque que têm tido suas ações, muitas vezes contestadas, mas indubitavelmente relevantes para a defesa da democracia.

O inquérito sobre as fake news, junto com a investigação sobre os atos golpistas de 8 de janeiro, deram a Moraes destaque capaz de torná-lo decisivo em situações delicadas, como o julgamento do ex-presidente Bolsonaro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que preside.

Movimentou-se para que as duas vagas abertas no Tribunal fossem preenchidas por indicações suas, o que aconteceu em tempo recorde.

NOMEAÇÕES IMEDIATAS – Num dia, Moraes teve um almoço com o presidente Lula, no dia seguinte os dois advogados estavam nomeados. Moraes agora controla totalmente o plenário do TSE, o que o transforma em um poderoso partícipe do jogo político de Brasília.

Antes mesmo de ter conseguido nomear dois advogados ligados a ele, Alexandre de Moraes já conseguira a condenação, por unanimidade, do ex-promotor da Lava-Jato Deltan Dallagnol, que perdeu seu mandato de deputado federal no TSE.

Além do voto de relator, os demais ministros levaram cerca de 1 minuto para condená-lo, votação tida como articulada por Alexandre de Moraes, que queria uma decisão sem dissidências para fortalecer o tribunal. Pelo menos um ministro garantiu a Dallagnol que votaria a seu favor, mas mudou de ideia.


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