Eles querem o conforto psicológico de terem as suas pernas mentais incapazes de qualquer movimento, para terem uma longa naninha intelectual.
Por Alexandre Soares Silva (foto)
Tem pessoas que só conseguem dormir com o lençol bem apertado. Se sentem mais confortáveis assim, bem aninhados e protegidos.
Essa é a única analogia que consigo fazer para entender o brasileiro em sua busca constante por menos liberdade. Os brasileiros querem o conforto psicológico de terem as suas pernas mentais incapazes de qualquer movimento, para poderem dormir uma longa e tranquila noite de naninha intelectual.
São como essas crianças que você vê que sofrem porque os pais são muito moles. Um profundo ressentimento contra o mundo inteiro começa a brotar nas suas carinhas ranhentas, só porque o pai é meio moleirão, a mãe fracota de vontade e disciplina.
Ou, para usar outra analogia, e não sei mais se já estamos na segunda ou na terceira, são como essas mulheres liberadas que vivem com uma dose evidente de raiva contra os homens ocidentais, que apesar de todo mundo ver que são flácidos, fracos e moles, vítimas de ginecomastia, barbudinhos bebedores de IPA, acusam de serem patriarcas inflexíveis saídos da Bíblia. Você vê claramente que algumas dessas mulheres só vão ser felizes no dia em que se submeterem à civilização islâmica.
Estava pensando na piada do tal de Léo Lins. Tenho uma repugnância sensata ao stand-up brasileiro, porque gosto de rir, sabe, e ir para um teatro só pra interromper a minha rotina de gargalhadas e ficar duas horas sem conseguir rir me parece lúgubre. Mas começo a sentir alguma simpatia pelo segmento, agora que algumas centenas de (para usar o jargão que eles amam mas não costumam aplicar a si mesmos) Corpos Petistas quiseram censurar uma piada, e censuraram.
Aliás, como são competentes os esquerdistas: quiseram censurar, e censuraram. Quando eles querem fazer uma coisa eles acabam fazendo essa coisa, o que é uma metodologia política que nós conservadores ainda não desenvolvemos. Geralmente, nós queremos fazer alguma coisa durante décadas, debatemos, damos palestras, vendemos cursos, choramingamos, brigamos entre nós, comentamos nossa derrota em artigos inteligentes, e depois de algum tempo admitimos que estávamos errados e que nem devíamos ter querido essa coisa em primeiro lugar.
Esse é o modus operandi conservador arquetípico. Querer fazer uma coisa e logo depois fazer essa coisa nos soa como mais um desses absurdos que os esquerdistas sempre fazem.
Sobre a piada em si, é esta: “Negro não consegue achar emprego, mas na época da escravidão já nascia empregado e também achava ruim.”
Estamos entre pessoas inteligentes aqui, todo mundo soube encontrar o caminho pra fora dos lençóis hoje de manhã, então não preciso explicar que a graça está no absurdo lógico do que está sendo dito, certo? E que se rimos é porque achamos essa lógica absurda e insensata, e se achamos absurda e insensata (e rimos) não somos racistas rindo de uma “piada racista”. Entendemos isso, porque é bastante claro. Mas até mesmo pessoas sensatas de esquerda, que defendem a liberdade de contar essa piada, usam a expressão “piada racista” para descrevê-la. Por quê?
Porque, nos últimos anos, o acúmulo de centenas de matérias de jornais e TV convenceram os esquerdistas mais mentalmente frágeis de que, no Brasil, é possível lotar uma plateia inteira de stand-up com pessoas que de fato querem a volta da escravidão. É isso que esses esquerdistas veem quando Léo Lins conta essa piada e o público ri. Não interpretam como algo propositalmente absurdo do qual as pessoas riem porque é propositalmente absurdo, mas como a expressão séria de um desejo finalmente não reprimido.
Ou vejam o caso da romancista e jornalista Giovana Madalosso. Passeando pela cidade de Urubici, em Santa Catarina, Giovana viu duas casas com a palavra HEIL pintada no telhado e achou que estava numa cidade inteira de nazistas. Ela escreveu um artigo na Folha descrevendo sua experiência aterrorizante de publicitária aterrorizada (a expressão “telhas arianas’ está lá em algum trecho, a sério).
Uma cidade inteira de nazistas. Isso foi plausível pra ela. É implausível para mim, e é implausível para a própria estrutura da realidade, onde o HEIL nos telhados era só o sobrenome da família que aluga as casas.
No Brasil inteiro só devem existir uns oito nazistas não irônicos. Mas nazistas brasileiros, às centenas, ou aos milhares, ou até aos milhões se pensarmos nas tias que usam camiseta da seleção brasileira, é o tipo de coisa que é plausível para escritores, jornalistas, ministros do STF e pessoas não muito reflexivas desse tipo. Essa é a visão que a esquerda toda tem do país, porque eles mesmos se hipnotizaram com histórias absurdas durante anos — todos os sinais sutis que indicavam a presença de nazistas secretos, como o número 88, Felipe Martins fazendo o sinal de ok, loiros dolicocéfalos bebendo leite etc.
Para combater esses nazistas imaginários, é óbvio que a liberdade tem que ser restrita. E nem acho que eles usem esse argumento de modo cínico. São como crianças que contaram tantas histórias de fantasmas para si mesmas que agora estão com medo de dormir no escuro.
Revista Crusoé