Opinião: Ausências em convenção expõem brigas e fragilidades que o PP precisa enfrentar
Por Fernando Duarte
Não está inteiramente pacificada a situação do Progressistas na Bahia. A saída de Ronaldo Carletto, que assumiu a direção do Avante, foi a ponta do iceberg disponível ao grande público. Nos bastidores, aqueles que detêm mandato e que estão “travados” diante da legislação tensionam a relação para justificar uma saída. Isso expõe a fragilidade de um grupo que, outrora, foi uma das sustentações ao governo petista de Rui Costa na Bahia.
O ex-presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), Nelson Leal, é quem mais personifica essa insatisfação. Ao se ausentar da posse de Mário Negromonte Jr. como presidente do PP na Bahia, Leal nem precisou mandar recado: não concorda com os rumos que o partido tomou. Uma parte disso é para tentar colar a imagem de desconforto para migrar para o Avante junto com Carletto. Outra é um aviso que, se ele perder prestígio ou poder, o PP não deve contar com ele no processo eleitoral já de 2024, quando se constroem as alianças com prefeitos e vereadores que catapultam as legendas dois anos depois.
Leal, no entanto, deve ser cobrado pelas vezes em que o PP “comprou briga” por ele. Primeiro, quando ele tentou articular uma reeleição na AL-BA, que culminou com um desentendimento público entre o então vice-governador João Leão (PP) e o senador Otto Alencar (PSD). Depois, quando a legenda defendeu que, sem a direção do Legislativo, caberia a ele uma secretaria, o que gerou uma realocação do próprio Leão - até então satisfeito com a Secretaria de Desenvolvido Econômico (SDE).
Se o deputado estadual pode ser considerado águas passadas para alguns caciques, não deixa de ser surpresa o fato do herdeiro político de Ronaldo Carletto permanecer na direção do Progressistas. Neto Carletto é um dos vices de Negromonte Jr., numa linha horizontal de comando que dividiu as forças internas – os outros vices são Cacá Leão e Cláudio Cajado. Com essa posição, o deputado federal fica com um pé no Avante (ou alguém duvida do contrário?) e o outro no PP. De um jeito ou de outro, mantém-se próximo às esferas de poder disponíveis. Ruim não está.
Enquanto no plano federal, o Progressistas insiste no discurso de oposição com Ciro Nogueira, ainda que parte da bancada vote com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva - especialmente os baianos -, na Bahia a legenda vive um momento de reaproximação com o PT e o governador Jerônimo Rodrigues. Entretanto, perdeu o principal interlocutor, Ronaldo Carletto, ao tempo em que teve brigas internas expostas ao público. Ou seja, chega com capacidade de negociação bem menor do que já teve e entra em disputas com certa fragilidade, tendo que conviver com a sombra crescente do ex-filiado.
Com a convenção e a posse de Negromonte Jr., o partido terá uma boa oportunidade de realinhar os rumos e, quem sabe, recuperar o prestígio que já teve nas rodas de negociação da política baiana. O PP está longe de ser um nanico, que fique bem claro. Mas também não tem a mesma dimensão de quem disputou, ombro a ombro, para ver quem conquistava mais prefeituras baianas. A eleição do próximo ano será, efetivamente, a prova de fogo do que se tornou a legenda.