Avanço das investigações por parte das autoridades, momento político, ambiente de alto conflito e influência do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), são motivos
Por Gabriel Hirabahasi
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro foi instalada nesta quinta-feira (25) sem a presença de alguns dos senadores mais experientes na Casa. O MDB, segunda maior bancada do Senado, encaminhou suas indicações somente na noite de quarta (24).
Os senadores Renan Calheiros (MDB-AL, ex-presidente do Senado) e Eduardo Braga (MDB-AM, ex-ministro e ex-governador do Amazonas) não farão parte da comissão, como era esperado há algumas semanas. Os dois são dos mais experientes na Casa. Braga chegou a ser citado como possível relator da CPMI.
Segundo fontes ouvidas pela CNN, o avanço das investigações sobre o 8 de janeiro por parte das autoridades (Polícia Federal e Supremo Tribunal Federal, por exemplo), o momento político em que a CPMI se insere, o ambiente de alto conflito e a influência do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), na comissão fizeram com que os emedebistas mais experientes optassem por ficar de fora da CPMI do 8 de janeiro.
Os senadores consideraram que já há uma série de encaminhamentos feitos pelas autoridades nas diversas fases da Operação Lesa Pátria e que as apurações do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, nos inquéritos em tramitação na Corte já estão avançados.
Segundo interlocutores dos senadores, a CPMI veio atrasada em relação ao trabalho que as demais autoridades vêm desempenhando na investigação dos atos criminosos que resultaram na invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília.
O segundo motivo citado é o momento político conturbado vivido atualmente, o espaço que a oposição bolsonarista terá na comissão e a estridência que esses parlamentares terão. Nesse sentido, o comparativo com a CPI da Covid fez a diferença para que os senadores optassem por não se submeter ao desgaste que haverá com a CPMI do 8 de janeiro.
Por fim, a presença de aliados de Arthur Lira na comissão também incomodou aliados dos senadores emedebistas. Além do presidente da CPMI, Lira também articulou indicações de outras bancadas. Fontes ouvidas pela CNN afirmam que os senadores do MDB receberam recados de que até na bancada do PT na Câmara a opinião de Lira foi levada em consideração para as escolhas dos indicados ao colegiado.
No Senado, algumas bancadas também se aliaram a Lira, que, além de adversário regional de Renan Calheiros no Alagoas, também disputa espaço na política nacional. Se nos anos 2000 e 2010 era o grupo de Renan, Michel Temer, José Sarney e Geddel Vieira Lima que garantiam a estabilidade política aos governos, agora é Lira quem tenta se consolidar nessa posição.
O colegiado, instalado nesta quinta-feira (25), se reunirá novamente na semana que vem para definir um plano de trabalho concreto e quais serão os próximos passos da investigação.
O deputado Arthur Maia (União Brasil-BA), aliado de Lira, foi eleito presidente da CPMI. A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) foi designada relatora.
A ideia da cúpula da comissão é que as reuniões sejam semanais e realizadas sempre às quintas-feiras, de modo a não atrapalhar as sessões dos plenários da Câmara e do Senado.
CNN