O eixo SP-Minas deixou de ser tucano, mas mantém peso determinante na gestação de alternativas de poder
O fim de uma eleição presidencial é o início da próxima. A disputa de 2026 poderá se dar em bases distintas. Com a saída de Lula da cena política, haverá uma troca de gerações no PT e a ascensão de lideranças que se consolidaram hoje nas urnas. A distribuição do comando político entre os principais Estados da federação tende a colocar novos personagens na disputa pelo Planalto em 2026, insinua uma potencial reordenação de forças em busca da centro-direita perdida e mantém no cenário a possibilidade de Jair Bolsonaro capitanear uma oposição barulhenta e radical.
A sucessão de Lula no PT nunca foi colocada a sério e a dependência do partido de seu líder único deixou a renovação a meio caminho. Fernando Haddad é o político mais próximo do presidente eleito e com mais chances de substituir Lula em eleições presidenciais, como fez em 2018, quando o ex-presidente estava preso em Curitiba. Lula ofuscou outros pretendentes natos do partido. Após seus dois primeiros mandatos, quando teve de escolher quem concorreria ao Planalto pelo PT, Lula ignorou os quadros partidário e optou por uma militante recém-egressa do PDT, Dilma Rousseff, cujo governo foi muito mal-sucedido. O PT tem bons quadros regionais, mas praticamente nenhum de projeção nacional, com exceção de Haddad.
A sucessão petista poderá importar menos se Lula fizer um mau governo ou for impedido de governar por uma oposição generalizada. Esse seria o pior cenário, o status quo da alternância dos dois polos na Presidência, com Lula sucedendo Bolsonaro e depois sendo sucedido por Bolsonaro novamente, ou por alguém com as mesmas posições políticas. Resta, no entanto, saber qual o papel que Jair Bolsonaro desempenhará a partir de janeiro. Pela primeira vez em 32 anos, estará na planície, sem mandato e possivelmente com dezenas de processos o perseguindo na Justiça.
Bolsonaro não teve interesse em criar um partido seu e o atual ao qual é filiado, o PL, pertence a Valdemar Costa Neto, cujos interesses não coincidem sempre com os do clã Bolsonaro. Sem ser formalmente líder de nada, indisciplinado e destrutivo, é duvidoso que Bolsonaro construa, com ou sem o PL, um movimento organizado longevo. Até hoje não teve nenhum interesse nisso.
Com o crescimento dos bolsonaristas no polo extremo, há um vácuo na centro-direita a ser preenchido - a terceira via não conseguiu fazê-lo em 2022 -, e que foi ocupado pelo PSDB. Pelo lado das forças políticas que não se inclinaram para o bolsonarismo, Simone Tebet (MDB), a governadora eleita de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), e o governador reeleito do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), podem galvanizar um reordenamento de grupos centristas que desapareceram do mapa político. Tebet, que fez uma boa campanha presidencial, continuará em evidência, pois deverá fazer parte do novo governo de Lula.
Entre os que ascenderam apoiados na onda bolsonarista, há candidatos naturais a tentar a sorte em uma disputa em que os favoritos do passado, como Lula, se foram e sem outro líder popular, como Bolsonaro, no páreo. O governador reeleito de Minas, Romeu Zema (Novo), é um deles. Zema é conservador, apoiou o presidente no segundo turno, mas guardou prudente distância dele no primeiro turno, quando enfrentou a candidatura apoiada pelo PT de Alexandre Kalil (PSD). Moderação e movimentos em direção ao centro podem posicioná-lo na próxima corrida presidencial.
Ao assumir o comando do Estado mais rico do país e desbancar os tucanos, que governaram São Paulo por 28 anos, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, reuniu condições políticas para pensar em voos mais altos em 2026. Mais burocrata que homem de partido, Tarcísio bateu tucanos e petistas e alinhou as forças conservadoras do Estado. Se Bolsonaro naufragar na operação política de comandar a oposição ao governo Lula, algo difícil de se realizar sem cargos públicos ou partidários que lhe deem evidência e publicidade, Tarcísio pode tentar voo em aliança com legendas mais moderadas, como o PSD, de Ratinho Jr, reeleito para o governo do Paraná.
O PSD de Kassab, por seu lado, esteve na operação que engendrou a candidatura de Tarcisio e de Kalil e, ao que tudo indica, fará aliança com Lula. Kassab foi ministro de Dilma Rousseff. Tem a quinta maior bancada na Câmara, com 42 deputados.
O eixo SP-Minas deixou de ser tucano, mas mantém peso determinante na gestação de alternativas de poder. O desempenho do governo Lula determinará, claro, as chances de seus opositores e a de seu sucessor.
Valor Econômico