Pedro do Coutto
Numa entrevista ao canal TV Democracia na Internet, transformada em reportagem por Paulo Cappelli, O Globo de sexta-feira, o ex-presidente Lula afirmou que é plenamente possível que o PT não tenha candidato próprio a presidência da República em 2022. Relativamente à situação da Argentina, Lula disse que a ex-presidente Cristina Kirchner, por exemplo, aceitou ser vice na chapa de Alberto Fernandez, vitoriosa nas urnas de 2019.
Lula acentuou que o PT poderá ter candidato à vice presidência, desde que a candidatura ao Planalto seja competitiva. Na minha opinião, Luiz Inácio da Silva acenou com a possibilidade de pessoalmente apoiar Bolsonaro à reeleição e, além disso insinuou que ele, Lula, poderia vir a ser o vice, desde que tivesse condições legais de candidatar-se.
EXEMPLO ARGENTINO – Para mim, a insinuação ficou clara a partir do momento em que o ex-presidente destacou o exemplo do que aconteceu na Argentina. A ex-presidente Cristina Kirchner compôs com Alberto Fernandez a chapa vitoriosa. Por quê Lula teria citado o exemplo de Cristina?
A resposta, a meu ver, está como a nuvem de um recado tanto ao Partido dos Trabalhadores quanto ao eleitorado brasileiro de modo geral. Para ele a chave do problema sucessório está na passagem para o segundo turno, quando as forças políticas, se formam especificamente para a decisão final.
Lula voltou a criticar Ciro Gomes, frisando ter mais carinho por ele do que ele “por mim”. Ciro Gomes deveria ter ficado no Brasil e apoiado Fernando Haddad no segundo turno, disse. No meu modo de ver, Lula colocou o enigma no quadro político. Deve repercutir principalmente no Palácio do Planalto e nos quadros do PT.
RENDA DESPENCA – A renda familiar dos brasileiros recua. Reportagem de Thais Carrança, Folha de São Paulo de ontem, com base em pesquisa do Datafolha, revela que a renda dos brasileiros diminuiu 46% do início da pandemia até hoje. Para 45% ficou igual e para 9% espantosamente aumentou.
Para os que ganham até dois salários mínimos, 48% acham que diminuiu. Entre os que ganham de dois a cinco salários mínimos, 46% dizem que diminuiu. Para os que percebem de 5 a 10 salários, a perda atinge 45%, e acima de 10 salários mínimos a redução afeta 34%.
PERDAS REGIONAIS – A pesquisa por regiões indica que a percepção de perda se espalha de 41% a 48%. Para o Centro-Oeste e Norte, o recuo também atingiu 41%. Para o Nordeste, chegou a 43%, para a Região Sul, 49%. E o índice alcançou 48% na região sudeste.
Os trabalhadores sem registro foram os mais atingidos: 61%. Para os profissionais liberais o declínio afetou 54%. Para os empresários, 56%.