Carlos Newton
Não deve causar estranheza o sumiço dos brasilianistas, como eram chamados os historiadores e jornalistas estrangeiros que se dedicavam a estudar a política brasileira. Foram rareando igual às espécies em extinção, até não sobrar mais nenhum, é mais fácil encontrar um ornitorrinco perdido em Ipanema. Todos debandaram, porque a coisa mais difícil sempre foi entender a política brasileira, mas agora é muito pior, porque ninguém entende também a justiça e o governo.
Em compensação, poucos países do Terceiro Mundo têm tantos correspondentes estrangeiros, Atualmente, são 110 jornalistas de outros países. O detalhe é que todos ficam baseados no Rio de Janeiro, onde viver ganhando em dólar é o paraíso na Terra. Antigamente eles tinham até um Clube dos Correspondentes Estrangeiros, com sede na Urca, que maravilha viver, diria Vinicius de Moraes.
DOCE VIDA – Como ninguém consegue entender o que se passa, os jornalistas estrangeiros pouco tem a fazer. Para disfarçar, trocaram o nome do Clube, que virou uma Associação.
É compreensível a situação deles. Veja-se o exemplo da Lava Jato, que deu bastante trabalho aos correspondentes, pois tinham de fazer a cobertura da maior operação mundial contra a corrução. Eles já não aguentavam mais tanta notícia de busca, apreensão ou prisão de políticos e autoridades.
Mas houve eleição em 2018. Um ex-capitão do Exército assumiu o poder e tudo mudou. O Brasil passou a ser o único país, entre os 193 membros da ONU, a somente prender corruptos após julgamento em quarta instância, algo inacreditável, porque a maioria das nações só tem três instâncias.
LULA SOLTO – Os correspondentes nem sabiam o que é tribunal de quarta instância, tiveram dificuldade de explicar a situação de Lula da Silva, por isso no exterior quase todos ainda acham que o ex-presidente é perseguido político igual ao Nelson Mandela, até agora nenhum universidade cassou os títulos dados a Lula, um enganador de categoria internacional, podemos dizer.
Agora a coisa se complicou. Nas intermináveis rodadas de chope de chope e caipirinha na orla da Zona Sul do Rio, os jornalistas estrangeiros se perguntam o que aconteceu à Lava Jato.
De repente, o juiz Sérgio Moro, uma das personalidades mais importantes do mundo, passou a ser tratado de forma desprezível, querem anular seus julgamentos, já confirmados em três instâncias, uma grande loucura. Como explicar isso no exterior?
TUDO MUDOU – Agora, surgiu mais um fato concreto e inacreditável. O delegado federal André Moreira Branco dos Santos, inocentou a corretora Pionner, que chegou a ser multada em cerca de R$ 90 milhões pelo Banco Central por prestar ‘informações falsas’ sobre os clientes que movimentaram recursos ao exterior.
A corretora contratou irregularmente 2.189 transações cambiais, somando quase US$ 115 milhões. Sete anos depois de aberto o inquérito, na semana passada o delegado federal inocentou a corretora, apesar do depoimento de Leonardo Meirelles, diretor da falsa empresa que lavava os dólares. Ele se declarou réu confesso e confirmou que era testa-de-ferro do doleiro Alberto Youssef, o principal delator da Laca Jato.
Diante dessa mudança se rumo, os correspondentes estrangeiros concluem que não é possível explicar essa situação no exterior e pedem mais uma caipirinha. Desse jeito, fica muito difícil trabalhar no Brasil.
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P.S. – Quando a gente diz que a demolição da Lava Jato é um dos principais itens do pacto entre os três Poderes, ainda há quem duvide. Mas até os correspondentes estrangeiros já perceberam que algo de muito estranho ocorreu, embora não consigam explicar o que realmente houve. Então, pedem mais um chope. (C.N.)
P.S. – Quando a gente diz que a demolição da Lava Jato é um dos principais itens do pacto entre os três Poderes, ainda há quem duvide. Mas até os correspondentes estrangeiros já perceberam que algo de muito estranho ocorreu, embora não consigam explicar o que realmente houve. Então, pedem mais um chope. (C.N.)