Toto divulgação
por Liziê Moz Correia
Assistimos, alguns com certa credulidade, outros com tédio ou desconfiança, a uma legião de jovens que se apresentam, no pleito deste ano, como representantes de uma tal "nova política". Mas, afinal, o que pode haver de novo nesta milenar atividade?
A política, como qualquer atividade social, tem o seu jargão, o seu modo intrínseco de ser, os objetivos que lhe são peculiares - e que são visados por todos os candidatos, sem exceção. O poder, por exemplo, é inerente à vida pública e não pode ser dissociado do cargo exercido. Entretanto, jovens que parecem apresentar certa superioridade moral, com seu forte discurso contra a corrupção e a cultura do patrimonialismo público, afirmam que não querem ingressar na política com vistas à obtenção de poder. O que querem, então? Sem o poder, por melhores que sejam as intenções de um político, ele nada pode fazer. É evidente que o poder, quando é aliado de quem busca atingir fins escusos, torna-se perigoso. Mas esse é o lugar-comum, tão velho quanto a humanidade. O que precisa ser dito é que, em contrapartida, as mais nobres intenções, destituídas de poder, são vazias, e só servem como belo discurso dos que dele sabem tirar proveito – ou seja, dos que, a despeito do que pregam, fazem política, nem nova e nem velha, mas a única possível, a única que existe.
Os "novos" políticos, respeitadores e sempre abertos às opiniões de todos, parecem glorificar o "debate", considerando-o superior ao velho modelo de propostas e ideologias, o que isenta-os, contudo, do encargo de terem de oferecer soluções efetivas a problemas reais e pungentes. Mas, afinal, será que já não ouvimos tudo isso antes? Jovens puritanos, que afirmam pretender conduzir a sociedade a um novo patamar ético, que se autointitulam honestos e íntegros, os portadores de uma mensagem de esperança, sempre existiram em todas as épocas e em todos os lugares, sempre prometendo um novo futuro e, após, sucumbindo diante da inexorável realidade da vida. Não se muda uma sociedade sem a construção de instituições sólidas, sem valores que são legados de geração para geração, sem, enfim, um embasamento moral sólido, que não se constrói com modismos ou novidades, mas com trabalho árduo ao longo do tempo. Todavia, não se pode fundar um novo paradigma em cima de ilusões. Quem afirma que não vai entrar na política para fazer conchavos, negociatas ou usar de sua influência para obter nenhum proveito, está a esquecer-se de um detalhe: política é tudo isso. E o é por ser um
reflexo de uma sociedade que funciona sobre esses pilares espúrios. Quem diz que representa uma "nova política" só pode sustentar a sua posição
caso se pretenda, também, reformador social. Só uma nova sociedade poderia construir a idealizada nova política. Mas surgirá uma nova sociedade sustentada sobre pilares de sal, pilares de areia?
A ideia nazi-fascista do "novo homem", mais evoluído e destinado a um futuro glorioso, a ideia marxista do "novo sistema econômico", mais justo e solidário, a ideia da "nova forma de governo", livre, igualitária e fraterna, enfim, todos os delírios de reconstrução instantânea das sociedades e das instituições fracassaram, quando acabaram bem – em geral, transformaram-se em retumbantes tragédias.
Por fim, nunca é demasiado lembrar que ser "do bem", ser ético ou engajado não são qualidades que capacitam ninguém ao exercício de um cargo público. São requisitos básicos para a aptidão ao exercício da cidadania e da vida em sociedade, e vangloriar-se deles é admitir que o eleitor, afinal, é massa de manobra – como o é para os "velhos" políticos. O jovem Robespierre, que, com suas afetações de superioridade e perfeição moral, foi alcunhado de "O Incorruptível", representava a nova política no fim do século XVIII. Era um ardoroso opositor da velha pena de morte – até tomar o poder e guilhotinar boa parte da população da França. Feliz e ironicamente, a última cabeça a rolar foi a dele. Enfim, a ideia de "nova política" nada fica a dever às ideias de "novo homem", "nova forma de governo" ou "novo sistema econômico". Mesmo contada de outro modo, trata-se da velha história, cujo desfecho já conhecemos de antemão. É a novidade que já nasceu velha.
reflexo de uma sociedade que funciona sobre esses pilares espúrios. Quem diz que representa uma "nova política" só pode sustentar a sua posição
caso se pretenda, também, reformador social. Só uma nova sociedade poderia construir a idealizada nova política. Mas surgirá uma nova sociedade sustentada sobre pilares de sal, pilares de areia?
A ideia nazi-fascista do "novo homem", mais evoluído e destinado a um futuro glorioso, a ideia marxista do "novo sistema econômico", mais justo e solidário, a ideia da "nova forma de governo", livre, igualitária e fraterna, enfim, todos os delírios de reconstrução instantânea das sociedades e das instituições fracassaram, quando acabaram bem – em geral, transformaram-se em retumbantes tragédias.
Por fim, nunca é demasiado lembrar que ser "do bem", ser ético ou engajado não são qualidades que capacitam ninguém ao exercício de um cargo público. São requisitos básicos para a aptidão ao exercício da cidadania e da vida em sociedade, e vangloriar-se deles é admitir que o eleitor, afinal, é massa de manobra – como o é para os "velhos" políticos. O jovem Robespierre, que, com suas afetações de superioridade e perfeição moral, foi alcunhado de "O Incorruptível", representava a nova política no fim do século XVIII. Era um ardoroso opositor da velha pena de morte – até tomar o poder e guilhotinar boa parte da população da França. Feliz e ironicamente, a última cabeça a rolar foi a dele. Enfim, a ideia de "nova política" nada fica a dever às ideias de "novo homem", "nova forma de governo" ou "novo sistema econômico". Mesmo contada de outro modo, trata-se da velha história, cujo desfecho já conhecemos de antemão. É a novidade que já nasceu velha.
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