Carlos Chagas
Realizam-se hoje eleições que seriam rotineiras e serviriam para definir o Brasil como uma democracia estável, não fosse a contribuição inusitada do Poder Judiciário com vasta carga de lambanças. O eleitor vai às urnas sabendo que seu título não vale mais nada, tornou-se dispensável. Ao mesmo tempo, ignora-se se a lei ficha limpa vale ou não, quer dizer, candidatos condenados no passado poderão concorrer, vencer e ter sua diplomação negada. Ao mesmo tempo, proíbe o Tribunal Superior Eleitoral a divulgação do número de votos dados aos candidatos ficha suja, que ficarão na dependência de posterior decisão judicial sobre sua diplomação. Enquanto isso, paralisam-se os cálculos a respeito dos votos em legenda.
Com todo o respeito, mas as intervenções dos tribunais tem causado muito mais confusão do que esclarecimento, no processo eleitoral. Da constitucionalidade da lei ficha limpa ao uso dos títulos eleitorais, não há certeza de nada. Virou tudo fumaça.
AÇÃO ENTRE AMIGOS
Outra definição não se aplicaria melhor ao último debate entre os candidatos presidenciais encerrado na madrugada de sexta-feira: ação entre amigos. Um pouco de educação e civilidade não faz mal a ninguém, mas, convenhamos, abandonar a discussão sobre temas polêmicos em troca de rapa-pés e salamaleques em nada contribuiu para esclarecer o eleitor. Dilma Rousseff e José Serra, em especial, evitaram enfrentar-se. Deixaram Marina Silva pendurada no pincel, sem escada, assim como Plínio de Arruda Sampaio, lança em riste, investindo sobre moinhos de vento. Quantos votos teriam mudado de destino uma vez encerrado o debate? Nenhum.
A DÚVIDA DO SEGUNDO TURNO
Só por volta da meia-noite de hoje saberemos da realização ou não de um segundo turno das eleições presidenciais. Dilma poderá ter vencido em definitivo, mesmo por pequena margem, ou Serra terá suas esperanças renascidas. Nesta última hipótese, serão mais quatro semanas de campanha, propaganda obrigatória pelo rádio e a televisão, novos debates insossos e, com toda certeza, mais algumas decisões polêmicas da Justiça Eleitoral. Para os que fazem das campanhas uma atividade comercial, ótimo. Para o eleitorado, péssimo.
NA DEPENDÊNCIA DOS ALIADOS
Prováveis, uns, garantidos, outros, o PT não elegerá mais do que cinco governadores: Tião Viana, no Acre, Agnelo Queirós, no Distrito Federal, Tarso Genro, no Rio Grande do Sul, Marcelo Deda, em Sergipe, e Jacques Wagner, na Bahia.
Caso as representações parlamentares sigam a mesma tendência, ficará difícil aos companheiros elegerem as maiores bancadas na Câmara e no Senado. Permanecerão na dependência de alianças com o PMDB e penduricalhos para viabilizar seus projetos. Na hipótese da vitória de Dilma Rousseff, emergirá a liderança do então vice-presidente Michel Temer, aquele da prática de ver distribuído o pão.
Fonte: Tribuna da Imprensa