Carlos Chagas
Política e futebol costumam andar juntos, especialmente depois que o Congresso reduziu os mandatos presidenciais para quatro anos, fazendo sem querer a coincidência entre as Copas do Mundo e as eleições. Antes disso, porém, já se estabeleciam paralelos.
O primeiro presidente da República campeão do mundo foi Juscelino Kubitschek, em 1958. Será sempre bom não esquecer que João Goulart também foi, em 1962. Dos generais-presidentes, só Garrastazu Médici conseguiu comemorar a vitória, em 1970. Depois, Itamar Franco, em 1994, para chegarmos ao penta em 2002, com Fernando Henrique.
Derrotados aparecem Washington Luís, na primeira Copa, em 1930, Getúlio Vargas, em 1934 e 1938, Eurico Dutra, em 1950, outra vez Getúlio Vargas em 1954, mais tarde Castelo Branco, em 1966, Ernesto Geisel, em 1974 e 1978, João Figueiredo, em 1982, José Sarney, em 1986, Fernando Collor, em 1990, Fernando Henrique, em 1998, e Luiz Inácio da Silva, em 2006.
Não há como vincular a conquista da taça com a popularidade dos presidentes, porque o mais popular deles, Getúlio Vargas, perdeu três vezes a Copa, ainda que Juscelino Kubistchek, festejado pela população, tenha vencido. Mas como explicar a sorte de Garrastazu Médici, aquele da repressão e da censura, ou de Fernando Henrique, das privatizações? É verdade que Itamar Franco, deixando o poder com 70% de popularidade, também ganhou.
Todo esse preâmbulo se faz às vésperas de mais uma Copa do Mundo, como sugestão para o PT preparar-se para o melhor e para o pior. Uma forma de poupar o Lula, popularíssimo, de uma eventual derrota do selecionado brasileiro na África do Sul. Realmente, não há vínculo entre a performance dos nossos craques e a dos presidentes da República. Ou em 2006, com o Lula no palácio do Planalto, também não perdemos?
O campeonato que o primeiro-companheiro precisa vencer é outro, o das eleições para sua sucessão. A esse respeito, depois da República Velha, exceção dos militares que não disputavam o voto popular, todos quebraram a cara, menos Itamar Franco, que elegeu Fernando Henrique. Em suma, o Lula poderá vencer a Copa do Mundo e perder a sucessão com Dilma Rousseff. Ou vice-versa. Ainda que também possa ganhar as duas. Ou ser derrotado em ambas.
Não há verdades absolutas
Em política costuma ser bobagem acreditar em verdades absolutas. Uma delas, a de que José Serra, se optar por permanecer em São Paulo, já estará reeleito. É o que espalham seus adversários e até alguns correligionários. Aqueles justificam o raciocínio para livrar-se da candidatura do governador a presidente da República. Estes, para garantir-se no poder, mesmo menor.
Pois não é nada disso. Supondo-se que Serra não dispute a sucessão presidencial, hipótese aliás quase impossível, que efeito esse gesto despertaria no eleitorado? De repúdio, sem dúvida. De frustração diante de um recuo inexplicável. O paulista detesta fugas. Por isso Jânio Quadros foi derrotado para governador, depois de haver renunciado à presidência da República.
Caso o improvável aconteça, José Serra precisará cuidar-se, pois o risco é de ficar sem nada. Além de deixar o Tucanato em desespero, porque Aécio Neves, se ainda pode aceitar a vice-presidência na chapa do colega paulista, sabe muito bem que para a presidência, não dá. Os mineiros o pegariam na palavra. Ou não anunciou a desistência, faz pouco?
O PMDB em cima do muro
A recente pesquisa da Datafolha estimulou os partidários de Dilma Rousseff e até entusiasmou a maioria do PMDB que apóia o presidente Lula. Mesmo assim, o partido mantém-se na encolha. Antes da definição do companheiro de chapa da candidata, nenhuma posição oficial será anunciada. Se as coisas permanecerem inconclusas, só na convenção de junho haverá a decisão. E subordinada à indicação do vice-presidente. O presidente Lula ainda negaceia a escolha de Michel Temer. Dilma Rousseff não deu uma palavra, até agora. São sinais de que ainda esperam outra solução. Pois enquanto mantiverem essa postura, certamente calcada no crescimento dos percentuais da ministra, receberão do PMDB o que parece uma vassalagem restrita. Afinal, o partido tem outras opções.
Sobre o atraso do PAC
As causas podem ser variadas, desde as chuvas até a paralisação de certos projetos por iniciativa dos tribunais de contas, do ministério público, do Ibama e sucedâneos. A verdade, porém, é que as obras do PAC não seguem cronogramas e promessas antes entusiasticamente feitas pelo presidente Lula e pela ministra Dilma. Resta saber se a oposição aproveitará esse retardo ou se está convencida de que não adianta, pois a propaganda oficial vem atropelando a realidade. Nem bissextamente se ouvem discursos, denúncias e protestos das bancadas do PSDB e do DEM a respeito dos atrasos. O que poderia constituir-se num contraponto razoável nessas preliminares da sucessão presidencial vem sendo desconsiderado pelos adversários do governo. Por que?
Fonte: Tribuna da Imprensa
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