Carlos Chagas
Continua gerando equívocos a mais do que justa e necessária festa pela escolha do Rio como sede das Olimpíadas de 2016. Deles não escapa o próprio presidente Lula, que na empolgação da vitória acaba de declarar poderem as favelas da antiga capital virar bairros com casas de alvenaria.
Com todo o respeito, nem para turistas existirão, no Rio, favelas de madeira e papelão. Em São Paulo ainda pode ser, tendo em vista os sucessivos e inexplicáveis incêndios lá registrados. Mas no Rio, nem pensar. Basta ver as imagens permanentemente apresentadas, do Complexo do Alemão à Rocinha e todas as outras. As casas são de alvenaria, algumas até com mais de três andares.
Do que as favelas cariocas precisam é de lei e ordem, dominadas que se encontram pelo tráfico de drogas e, mais recentemente, também pelas milícias. A falta de segurança pública, nos morros e no asfalto, é que poderá empanar o sucesso da competição longínqua, se até lá os governos federal, estadual e municipal não desenvolverem intensa ação pacificadora.
A questão da transferência
Fosse feita esta semana e toda pesquisa de opinião revelaria não os 81%, mas pelo menos 95% ou mais de popularidade para o presidente Lula. Fenômeno ímpar na História do Brasil, de sucesso em sucesso o primeiro-companheiro aproxima-se da unanimidade explícita. Bom para ele, bom para todos, mas será bom para Dilma Rousseff , também?
Há controvérsias. Muita gente sustenta, com exemplos do passado, que popularidade não se transfere. Nem votos. Os números dedicados à candidata ainda não parecem animadores, mesmo se tendo em conta que vão crescer. O grande esforço do governo será levar a chefe da Casa Civil para o segundo turno, junto com o favorito, José Serra. A indefinição de Ciro Gomes e falta de estruturas partidárias de Marina Silva poderão favorece-la, mas daí ao presidente Lula e o PT se conscientizarem de que poderão impedir a ascensão dos tucanos, a distância parece grande. Nessa hora ressurge o chamado Plano B, não mais expresso pelo terceiro mandato, aparentemente impossível, mas colado na hipótese de uma prorrogação geral por dois anos, a pretexto da coincidência com as eleições municipais. Deputados, senadores e governadores, a começar pelos da oposição, seriam capazes de sensibilizar-se.
De qualquer forma, a registrar está a força do Lula, cada vez maior e suficiente para juntar num mesmo pacote os banqueiros, os industriais, os beneficiados pelo bolsa-família e até os sem-terra. Atrás dos quais a classe média se deixaria conduzir.
Passou o prazo
Venceu sábado o prazo para o troca-troca de partidos, sobressaindo da data a impossibilidade de o governador Aécio Neves deixar o PSDB. Aliás, há muito que ele havia abandonado a sugestão feita por alguns amigos. Transferir-se para o PMDB seria um risco dos diabos, já que o maior partido nacional, entre outros adjetivos mais carregados, é inconfiável. Poderia tirar-lhe o tapete em quinze minutos, depois da mudança.
Sendo assim, Aécio continuará postulando a indicação tucana, mas estreitamente ligado a José Serra, favorito na disputa interna e na de outubro do ano que vem. Sabem, os dois governadores, que um não existe sem o outro, ou seja, Serra candidato sem apoio de Aécio arriscar-se-ia a colher desagradável surpresa nas urnas. E vice-versa, até com mais intensidade.
Por enquanto não é hora do movimento fundamental no tabuleiro sucessório, mas a natureza das coisas indica que oportunamente o PSDB anunciará a formação da chapa pura, ou seja, Serra para presidente, Aécio para vice. Senão imbatível, seria quase isso, porque o neto do dr. Tancredo levaria com ele 20 dos 22 milhões de votos mineiros, e o paulista, nunca menos do que 15, dos 30 milhões de seu estado. Uma dupla que começa com 35 milhões de votos assusta todo mundo.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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