Carlos Chagas
Por estar pendurado no cabide, deve-se concluir ser o paletó um produto do cabide? Pois é assim que o Alto Tucanato responde ao sucesso do governo Lula. Tudo o que aconteceu nos últimos seis anos foi decorrência das realizações do governo Fernando Henrique…
Está em curso a tentativa do PSDB de enquadrar José Serra através do raciocínio de que o presidente Lula só conseguiu realizar metas sociais porque a administração tucana privatizou patrimônio público, abriu a economia para o capital estrangeiro, revogou direitos sociais e comprimiu os salários.
Bobagem, porque se não tivesse recebido essa herança o atual governo poderia ter ido bem mais longe. Mas é por aí que os tucanos pretendem engessar o seu candidato, para ele refluir na tendência de reconhecer que os tempos mudaram e que o neoliberalismo saiu pelo ralo, exigindo da próxima administração federal acoplar-se a uma série de projetos e concepções da atual.
Não se trata de Serra estar aderindo à estratégia do Lula, muito pelo contrário. O problema, para os agora anacrônicos cultores da prevalência do mercado na economia, é ter o governador de São Paulo percebido a tolice que seria desenvolver uma campanha centrada no espelho retrovisor.
Num exemplo recente: como deixar de apoiar o modelo adotado pelo governo dos companheiros para a exploração do pré-sal? É o estado que tem de gerir as operações.
Manter a formatação anterior que quase privatizou a Petrobrás e deu às petrolíferas estrangeiras o filet mignon da atividade energética, como pretende o Alto Tucanato, equivaleria a arriscar a vitória eleitoral prevista nas pesquisas.
Ao contrário, dar continuidade às decisões acertadas do Lula, mesmo batendo firme no monte de erros praticados nos últimos seis anos e meio, parece o caminho lógico para o candidato. Coisa que os adoradores dos deuses do passado rejeitam, com o sumo sacerdote do atraso à frente. A referência, claro, vai para o ex-presidente Fernando Henrique.
Em suma, querem vestir José Serra com a fantasia hoje esfarrapada das elites financeiras que quase levam o planeta à bancarrota. Como de bobo o governador não tem nada, resta-lhe cuidar para que a voz dos anacrônicos não perturbe a sua trajetória. Importa-lhe não se deixar enquadrar.
Beirando o ridículo
Continuam muitos governadores encenando uma farsa para suas platéias estaduais, certamente com vistas às eleições do ano que vem. Exigem participar dos bilhões que o pré-sal um dia fornecerá, comportando-se como se o dinheiro, antes mesmo do petróleo, já estivesse à disposição do governo federal.
O presidente Lula está longe de repetir o todo-poderoso primeiro-ministro Oliveira Salazar, que ao receber a notícia da descoberta de petróleo em Angola, então colônia portuguesa, saiu-se com uma exclamação: “só me faltava mais essa!”
A riqueza do pré-sal é muito bem vinda pelo chefe do governo e pela nação, também pelos estados. Todos devem participar de suas benesses, mas é bom botar os pés no chão. Apenas em vinte anos o petróleo das profundezas estará sendo explorado comercialmente. Mesmo assim, se tudo der certo, desde as previsões sobre os bilhões de barris em estoque até a confiança na capacidade da Petrobrás.
É mais do que bobagem dividir o tesouro, desde já, entre escaramuças sobre que estado deverá receber maiores quantias. Parece malandragem eleitoral, ou seja, enganação para obter, em 2010, votos que os eleitores de 2030 jamais recordarão. Acresce que o fato de determinados estados apresentarem litorais mais próximos do pré-sal não pode credencia-los como condôminos privilegiados de um conteúdo situado a 300 quilômetros deles, e lá em baixo. Por que o Acre, ou Mato Grosso, Goiás e até Minas deveriam beneficiar-se menos do que Espírito Santo, Rio de Janeiro ou São Paulo?
Fonte: Tribuna da Imprensa
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