Publicado em 30 de junho de 2022 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
O governo, sem dúvida alguma, perdeu a batalha que travou para impedir a ofensiva da oposição para iluminar as sombras no Ministério da Educação, as quais abriam caminho para as ações de corrupção protagonizadas pelos pastores do MEC em conjunto, seja diretamente ou indiretamente, com o ex-ministro Milton Ribeiro.
Aliás, Milton Ribeiro, atingido fortemente pelo requerimento do senador Randolfe Rodrigues criando a CPI, foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro. No O Globo, a reportagem é de Camila Zarur, Natália Portinari e Geralda Doca. Também excelente a reportagem de Renato Machado e Danielle Brant, Folha de S. Paulo.
REPERCUSSÃO – Obtendo o número mais que necessário para a instalação automática da CPI, a repercussão na imprensa e nas emissoras de televisão, principalmente pela TV Globo e pela GloboNews, foi enorme. A imagem do governo ficou abalada e assim também ficará a imagem de qualquer senador que vier a recuar nesta altura dos acontecimentos.
Rodrigo Pacheco não poderá vacilar, pois caso contrário ficará exposto a uma reação gerada pela opinião pública. Afinal, criar CPI não pode ser crime. Absurdo foram os atos praticados pelos pastores e por Milton Ribeiro.
RELAÇÃO DE MILITARES – Em ofício enviado no final da tarde do dia 28 ao ministro Edson Fachin, o ministro da defesa, Paulo Sergio Nogueira, simplesmente apresentou os nomes de 20 militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica que ele escalou para fiscalizar as eleições de 2 de outubro.
Reportagem de Pedro Paulo Furlan, publica os nomes dos militares que foram designados para uma função que não foi criada pelo TSE, mas pelo ministro da Defesa.
O chefe da equipe, escolhido por Paulo Sérgio Nogueira, é o coronel Marcelo Nogueira de Sousa. Surpreendente, mais uma vez, é a atitude do general Paulo Sérgio Nogueira que formaliza a indicação de vinte militares para uma função que ele próprio está criando no TSE. A iniciativa do ministro Edson Fachin quando propôs a participação das Forças Armadas no acompanhamento das eleições de outubro revestia-se de uma proposta de sentido completamente diferente.
OBRIGAÇÃO – O general Paulo Sérgio Nogueira transformou a possibilidade numa obrigação e, tanto assim, no ofício enviado a Fachin apenas comunicou os militares designados por ele para fiscalizar as eleições.
Provavelmente a atitude de Nogueira refere-se somente às eleições presidenciais. Ou a todas as eleições? Sim, pois se é para fiscalizar, a tarefa deve ser geral. Mas o episódio não se esgota aí. Ele está significando mais uma pressão do general Paulo Sérgio Nogueira contra a atuação do TSE.
Não creio que Fachin reaja mal, na medida do possível, à nova investida do ministro da Defesa. Pelo contrário. Politicamente deve absorver o episódio, sobretudo para não fornecer um pretexto para o desencadeamento de um falso confronto entre as Forças Armadas e a lei eleitoral que é o objetivo de setores do governo.
OPINIÕES DE GABEIRA – O jornalista Fernando Gabeira, em dois programas da GloboNews, fez também duas observações muito importantes sobre o quadro político. Uma delas foi no entardecer de terça-feira quando analisou a decisão de Bolsonaro de manter o general Braga Netto como seu vice, contrariando a vontade do Centrão que desejava substituí-lo pela deputada Tereza Cristina.
A outra observação foi há cerca de duas semanas, quando ele tocou num ponto bastante sensível em termos de campanha eleitoral. Assinalou que o último Datafolha não apresentou sinal de recuperação por parte do atual presidente da República na corrida pelas urnas de 2 de outubro, o que sintetiza um fator crítico.
SEM RETORNO – O candidato que se encontra no poder e que, portanto, detém nas mãos a caneta mágica, refletida na máquina de votos, não está conseguindo captar esses votos apesar de ocupar o poder.
No caso de Braga Netto, Gabeira lembrou que a confirmação do general como vice é sinal de que Bolsonaro prepara-se para contestar o resultado das urnas, já que elas são desfavoráveis a ele. Em função disso, prevê a hipótese de uma pressão militar que seria mais fácil de obter com Braga Netto do que com a deputada Tereza Cristina.
APOIO A HADDAD – Provavelmente o fato político mais importante do dia, juntamente com a CPI dos Pastores do MEC, está contida na matéria de Cátia Seabra e Carolina Linhares, Folha de S.Paulo, sobre a nova posição assumida por Márcio França do PSB de desistir da candidatura ao governo de S. Paulo e apoiar Fernando Haddad, sendo candidato ao Senado com o apoio de Lula em consequência.
O fato fortalece a posição de Lula e de Haddad em São Paulo, com reflexo nas eleições federais, uma vez que o estado é o maior colégio eleitoral do país, com 22% do eleitorado. Esse fato político é bastante importante e deve ser considerado nas análises que se seguem no quadro partidário do país no decorrer desta semana.
DECRETO DE BOLSONARO – O presidente Jair Bolsonaro assinou na segunda-feira um decreto atribuindo à Advocacia-Geral da União a possibilidade de decidir a respeito da legalidade da criação de benefícios de políticas públicas pelo Planalto na fase eleitoral a seis meses antes do pleito.
É o caso do aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600. Esse aumento não vai alterar votos numa linha pretendida por Bolsonaro. Mas essa é outra questão. O problema essencial é que a AGU não é uma escala judiciária. Não tem o poder, portanto, de decidir sobre aplicação de benefícios sociais. Bolsonaro tenta criar uma realidade que não existe.
PRESIDÊNCIA DA CEF – Reportagem de Bela Megale, Lauro Jardim, Malu Gaspar e Jussara Soares, O Globo, revela que as acusações de funcionárias da Caixa Econômica Federal contra assédio sexual praticado pelo presidente do banco, Pedro Guimarães, devem fazer com que o mesmo seja substituído.
Acentua a matéria que o próprio presidente Bolsonaro na terça-feira disse a Guimarães que os episódios denunciados são inadmissíveis e sua permanência do cargo é insustentável. Pedro Guimarães pretende defender-se na Justiça, mas poderá ele próprio anunciar a sua demissão ainda na manhã de hoje.