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domingo, fevereiro 23, 2025

Entramos na era da ameaça de abrir processo por qualquer motivo

 

Entramos na era da ameaça de abrir processo por qualquer motivo

Charge da Pat (Notícias da Bahia)

Conrado Hübner Mendes
Folha

“Grupo de advogados vai acionar MPF contra Nikolas Ferreira por vídeo sobre Pix”; “Governo avalia processar criminalmente quem divulga fake news sobre o Pix”; “Bolsonaro diz que vai processar Haddad após fala sobre crise do Pix”; “Boulos diz que vai processar Nikolas Ferreira por fake news sobre fiscalização do Pix”; “Bruno Dantas ameaça jornalista após comentário sobre atuação no TCU”.

“Pablo Marçal ameaça processar jornalista em entrevista ao vivo”; “Carlos Bolsonaro diz que vai processar Marçal por injúria”; “Bolsonaro diz que vai processar Lula por fala sobre mansão nos EUA”; “Boulos diz que vai processar Marçal sobre caso envolvendo homônimo”; “Michelle Bolsonaro diz que vai processar pessoas do PT por ‘ameaças’”.

MAIS PROCESSOS – “Janja diz que vai processar ‘X’ após ataque hacker”; “Felipe Neto diz que vai processar Gustavo Gayer por divulgação de fake news”; “Yasmin Brunet diz que vai processar médicos após críticas e especulações sobre sua aparência”; “Thor Batista diz que vai processar quem o atacou na internet”; “Susana Vieira diz que vai processar quem lhe chamar de velha”.

A sequência de manchetes recentes mistura embates políticos, jurídicos e pessoais muito diferentes.  Algumas caricatas, outras dotadas de argumento jurídico talvez respeitável, as chamadas guardam em comum a escolha pela teatralização pública da ameaça jurídica.

MUITAS AMEAÇAS – O instinto da ameaça, que raramente se consuma em ação judicial e fica só no recado, dá sinais importantes sobre muita coisa. Não indica apenas modalidade do jornalismo declaratório, aquele desprovido de fato relevante ou análise, e ansioso por reportar declaração frívola. Não demonstra só a precariedade da comunicação não violenta para ter algum êxito em ambiente definido pela beligerância e incivilidade.

Não só demonstra ímpeto de usar o direito para intimidar, ou a crença de que conflitos podem ser vencidos pela ameaça de processo. Não só revela a ignorância de muita gente que, ao sacar a arma do “vou te processar”, pode ser acusada de crime de ameaça:

“Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave” (art. 147 do Código Penal). Estará sujeita à imprevisível interpretação judicial sobre o significado de “mal injusto e grave”.

PATOLOGIA SOCIAL – Esse coro de ameaças talvez seja sintoma de patologia social e jurídica que se intensifica em nosso tempo. O lawfare verbal e pré-judicial, uma espécie de judicialização informal do discurso público, precisa ser mais bem conhecido, suas causas e efeitos mais bem pesquisados.

Não basta processar, tem que ameaçar antes. O fenômeno não se confunde com a judicialização ou com a litigância predatória, que instrumentaliza a Justiça para violar a lei, ou usa o Judiciário como arma para fins espúrios. O lawfare pré-judicial usa a ameaça midiática, pura e simples, como arma. É também uma forma de predação e banalização do direito.

Enquanto o Judiciário não oferecer uma saída doutrinária e processual para neutralizar o eventual abuso do direito, ou o eventual crime de ameaça, seremos cada vez mais submetidos a esse ridículo jogral: “Nossa, nossa, assim você me mata, ai se eu te processo, ai, ai se eu te processo”.

Nota da redação deste Blog  - Caro Jornalista Conrado Hübner Mendes,  você está levantando um ponto importante sobre o uso do Judiciário como ferramenta de intimidação contra quem exerce a liberdade de expressão. Infelizmente, essa prática tem se tornado cada vez mais comum, especialmente quando envolve figuras públicas, políticos e até servidores do Judiciário.

O que acontece em Jeremoabo, com esse servidor denunciado por vários advogados e que tentou processar um blog apenas por reproduzir uma ementa da OAB, é um exemplo claro de como algumas pessoas tentam utilizar o sistema judicial para calar críticas legítimas. O uso do processo judicial como arma de intimidação – conhecido como "assédio judicial" ou "litigância predatória" – é uma ameaça direta ao Artigo 5º da Constituição, que garante a liberdade de expressão e o direito à informação.

O problema maior é que muitos desses casos acabam se arrastando por anos, desgastando financeiramente e emocionalmente os denunciados, enquanto os verdadeiros problemas de improbidade e corrupção continuam sem solução.

O Brasil tem se tornado um campo minado jurídico, onde qualquer crítica pode se transformar em um processo, e isso inibe o debate público e o direito de fiscalização da sociedade. O excesso de processos por "danos morais" sem fundamento real mostra a fragilidade da democracia quando se trata de garantir que a verdade possa ser dita sem medo de represálias.

Jeremoabo não está fora desse cenário, e se não houver resistência, a tendência é que esse tipo de prática se torne ainda mais comum. O que você acha que pode ser feito para combater essa tentativa de silenciamento?


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