Bernardo Mello Franco
O Globo
A vida já foi mais leve para os ex-presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro. Depois de serem apeados do poder, agora enfrentam problemas com a polícia. Nesta terça-feira, dia 4, o americano terá que se explicar sobre a acusação de suborno para silenciar a atriz pornô Stormy Daniels. Na quarta-feira, dia 5, o brasileiro será ouvido pela PF sobre o escândalo das joias sauditas.
Como sempre, Trump está um passo à frente de seu imitador. O magnata já prestará depoimento na condição de réu.
QUANTO A LULA… – Na semana passada, um velho aliado entregou uma carta a Lula. Em tom de alerta, o texto enumerava tropeços no início do governo. E sugeria que o destinatário maneirasse para evitar novos conflitos e esfriar a temperatura política no país.
Para o conselheiro, o presidente erra ao alimentar a polarização em vez de combatê-la. Isso daria fôlego ao bolsonarismo e produziria efeitos negativos sobre a popularidade do petista.
O novo Datafolha confirma que Lula começou pior do que em seus dois mandatos anteriores. Às vésperas de completar cem dias no cargo, o petista é aprovado por 38% e reprovado por 29% dos brasileiros. Em abril de 2003, ele tinha 43% de bom e ótimo e apenas 10% de ruim e péssimo. Em 2007, após a reeleição, os índices eram de 48% e 14%.
LULA SE ATRAPALHOU – Todos sabiam que a nova largada seria mais difícil. O presidente venceu uma eleição muito apertada, que refletiu a divisão do país. E enfrenta uma oposição barulhenta e radicalizada, sem paralelo com a dos tucanos de duas décadas atrás.
Ainda assim, Lula teve a chance de virar a página e criar um clima de união nacional após os atos golpistas de 8 de janeiro. Ele acertou na reação imediata aos ataques, mas depois se atrapalhou com a própria incontinência verbal.
É consenso entre aliados que o presidente derrapou ao chamar Jair Bolsonaro e Sergio Moro de volta para o ringue. O capitão estava no corner após o escândalo das joias, e o ex-juiz sofria um nocaute por semana desde a sua estreia no Senado.
GOLPES AO VENTO – Os ataques ao mercado e o Banco Central também foram golpes ao vento. Não resultaram na queda dos juros e reacenderam a má vontade da elite econômica com o petista.
Na campanha, Lula se aliou a rivais históricos e prometeu voltar ao poder sem ressentimentos. Chegou a se comparar a Nelson Mandela, que amargou 28 anos de cadeia e depois liderou um governo de reconciliação na África do Sul. E Lula, ao abandonar o figurino “paz e amor reabilita adversários caídos e põe obstáculos em seu próprio caminho.
Nos próximos dias, o Planalto lançará uma ofensiva publicitária com o mote “O Brasil voltou”. A ideia é capitalizar a retomada de programas sociais que haviam sido desmontados pelo bolsonarismo, como Bolsa Família, Mais Médicos e Minha Casa, Minha Vida. A propaganda pode melhorar o humor do eleitorado, mas o presidente também precisa se ajudar.