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quarta-feira, março 31, 2021

Entenda os critérios que determinam prioridade na fila de regulação de UTI Covid-19 na Bahia

por Jade Coelho

Entenda os critérios que determinam prioridade na fila de regulação de UTI Covid-19 na Bahia
Foto: Paula Fróes/GOVBA

Com a demanda de leitos de UTI Covid-19 maior que a oferta, critérios de prioridade foram adotados no sistema de saúde da Bahia para determinar o paciente que vai ser transferido para uma vaga de tratamento intensivo, assim como em outros estados brasileiros.

 

Nos últimos três dias, a Bahia registrou uma média de 194 pacientes infectados pelo novo coronavírus aguardando uma vaga na UTI. A fila não funciona de forma comum, então entrar nela primeiro não garante que uma pessoa será a primeira a conseguir o leito disponível. A Bahia adotou o “protocolo de Manchester” para estabelecer os critérios e as prioridades. Através dessa norma, é definida a ordem de atendimento médico, de acordo com a gravidade do paciente. Quanto mais grave for o quadro, mais rápido será o atendimento.

 

Um exemplo da aplicação do protocolo de Manchester é o utilizado das Unidades de Pronto Atendimento (UPA) ou algumas emergências de hospitais, em que o paciente chega, passa uma triagem com um profissional da saúde e recebe uma pulseira com uma cor que indica se o caso é uma emergência, urgente, pouco urgente ou não urgente.

 

Quando o paciente está em um estado de emergência normalmente a cor é vermelha e significa que ele necessita de atendimento imediato; muito urgente a cor é laranja, cujo atendimento deve ser praticamente imediato; urgente (amarelo) é aquele paciente que precisa de atendimento rápido, mas que pode aguardar por um tempo; e os pouco urgente (verde) ou não urgente (azul) podem aguardar atendimento ou ser encaminhados para outros serviços de saúde. Cada cor também determina o tempo de espera daquele paciente, entenda:

Como funciona o protocolo de Manchester (clique para ampliar) | Foto: Reprodução/REDEC

 

Em relação a transferência de pacientes com a Covid-19 para UTIs na Bahia, além do estado de saúde, a central de regulação também leva em conta a localidade em que a pessoa está. Então a partir da definição do protocolo de Manchester, é verificado se o município onde o paciente está possui o recurso solicitado; em caso negativo, a área de busca é ampliada para a região de saúde, macrorregião, e finalmente, o estado inteiro.

 

A oferta de leitos é diferente e desproporcional na Bahia, que é o 5º maior estado do país em extensão territorial, e maior até que alguns países do mundo. Salvador concentra o maior número de leitos destinados ao tratamento da Covid-19, e por este motivo recebe pacientes do estado inteiro.

 

Um exemplo dado pela Central de Regulação ao Bahia Notícias foi de um paciente localizado em Lapão (região de saúde de Irecê, macrorregião Centro-Norte), é solicitado apoio ao Hospital Regional Mário Dourado Sobrinho, em Irecê; em caso de negativa por qualquer circunstância, a Central passa a buscar a vaga na outra referência, que é Jacobina. Persistindo a negativa, a busca passa a ser nas macrorregiões do Centro-Leste e Leste, e assim por diante.

 

A Sesab destaca que o protocolo é o mesmo em todo o estado. A pasta inclusive emitiu uma série de Notas Técnicas para a adoção do mesmo critério, independente da natureza do prestador (público ou privado).

 

CRITÉRIOS DA AMIB

A Associação de Medicina Intensiva Brasileira divulgou um documento no ano passado sugerindo critérios de prioridade para uso de recursos em meio a crise sanitária da Covid-19.

 

A entidade tomou como base a Resolução CFM 2156/2016 que estabelece as seguintes prioridades: 1 é aquela que se refere a pacientes que necessitam de intervenções de suporte à vida, com alta probabilidade de recuperação e sem nenhuma limitação de suporte terapêutico; prioridade 2 é aquela que caracteriza os pacientes que necessitam de monitorização intensiva, pelo alto risco de precisarem de intervenção imediata, e sem nenhuma limitação de suporte terapêutico; prioridade 3 caracteriza os pacientes que necessitam de intervenções de suporte à vida, com baixa probabilidade de recuperação ou com limitação de intervenção terapêutica; prioridade 4 é relacionada aos pacientes que necessitam de monitorização intensiva, pelo alto risco de precisarem de intervenção imediata, mas com limitação de intervenção terapêutica; por fim, a prioridade 5 tem como referência os pacientes com doença em fase de terminalidade, ou moribundos, sem possibilidade de recuperação.

 

Lara Kretzer, uma das autoras do protocolo sugerido pela Amib, concedeu entrevista ao Estadão em que explicou que uma vez que o objetivo é salvar o maior número de vidas, os profissionais precisam identificar entre os pacientes aqueles que terão mais chances de sobreviver com os recursos escassos. Diante disso, o primeiro ponto observado é o da gravidade da doença aguda, quantos e a gravidade em que órgãos foram afetados.

 

Ela apontou como segundo critério a avaliação sobre as doenças de base, crônicas e muito avançadas apresentadas pelo paciente. "Avaliamos se aquele paciente estaria caminhando para o fim de sua vida antes mesmo da Covid", disse à reportagem. O terceiro critério é o de funcionalidade, em que é verificado o quão bem o paciente está fisicamente para aguentar não só a doença como o próprio tratamento em UTI. 

 

"A missão do sistema de saúde é fazer o atendimento centrado na pessoa. O horrível é que, no momento em que não podemos atender todo mundo, temos de deslocar a decisão do nível individual para o nível de população. Só vou salvar mais vidas se identificar quem tem mais chance de sobreviver. É uma decisão muito cruel, que vai contra todas as conquistas dos últimos anos", lamentou Lara Kretzer.

 

Santa Catarina é um dos estados que adotou o protocolo da Amib. A Sesab não informou detalhes dos critérios adotados, informou apenas que segue o protocolo de Manchester.

Bahia Notícias


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