Por: Agência Estado
O Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que age dentro e fora dos presídios, tem 391 'soldados' soltos pelas ruas de São Paulo aptos para serem recrutados para as missões ilícitas e terroristas da organização na cidade. O número, que cresce a cada dia, representa quase metade da tropa (809) em liberdade de todo o Estado, segundo análise do serviço de inteligência da Polícia Militar.
Dos soldados soltos na Capital, 275 deveriam estar atrás das grades por prática de crimes graves, como homicídios, latrocínios, tráfico de drogas e assaltos, mas se encontram foragidos. Os demais estão soltos por decisão judicial: ou porque já cumpriram sua pena ou porque progrediram para o regime aberto. Esse número inclui 78 homens apontados como 'pilotos' (líderes de determinada região).
A tropa está esparramada por toda a Capital, daí a facilidade de deflagrar atentados simultâneos e espalhar o terror de uma hora para outra nos quatro cantos da Cidade. Mas, a maioria se concentra na periferia das zonas Sul e Leste, como os bairros do Jabaquara, São Miguel Paulista, Itaquera e Guaianazes, de acordo com os dados do Fotocrim - banco de dados com fotos, características físicas e histórico criminal, com mais de 320 mil criminosos cadastrados.
São esses os homens que a cúpula do PCC aciona na hora de executar seus crimes. Um deles, o homicida e assaltante Alexandre Campos dos Santos, 28 anos, o Jiló, por exemplo, é apontado como um dos operacionais da facção na rua.
Ao lado de Carlos Alberto da Silva, o Balengo ou BL, e de Sherley Nogueira dos Santos, o Fininho, ele é suspeito de ter participado do seqüestro do repórter Guilherme Portanova e do auxiliar técnico Alexandre Calado, funcionários da Rede Globo, no dia 12 de agosto. Para libertar Portanova, o PCC exigiu que a Globo exibisse um vídeo em que repudia o regime disciplinar diferenciado (RDD) e reivindica o fim da "opressão carcerária". Os três suspeitos estão sendo procurados.
Mas nem todas as ofensivas do PCC têm sucesso. Sete horas antes do seqüestro dos profissionais da Globo, o assaltante Getúlio Arakaki Liubomirsch morreu em confronto com os policiais das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), durante o cumprimento da missão que tinha como objetivo a execução de dois juízes criminais de Osasco (Grande São Paulo). Arakaki e outros três comparsas ocupavam uma camionete Mitsubishi roubada especialmente para o crime. Armados com uma pistola 9 mm e um fuzil 7,62 mm, em vez de atender o sinal de parada dos policiais, decidiram enfrentá-los. Levaram a pior.
Após uma rápida perseguição, Arakaki e um dos comparsas morreram no confronto. Outros dois fugiram. No bolso da calça do criminoso, a ordem da organização: "É para matar sem dó". Os nomes e endereços dos juízes estavam registrados na correspondência apreendida por policiais da Delegacia Seccional de Osasco, que investiga a origem do manuscrito, assinado com o lema da facção: "Paz, Justiça e liberdade." A correspondência também dizia que Arakaki não podia refugar a missão, sob pena de ser condenado à morte.
Para evitar que o PCC atinja sua meta de matar juízes, diretores e agentes de presídio, a Polícia Militar está lançando mão de seus sistemas de inteligência para monitorar os homens da facção e conter a expansão do crime organizado.
O coronel Joviano Conceição de Lima, comandante do Policiamento de Choque, afirma que o Fotocrim é uma ferramenta de extrema importância para instruir as operações que são realizadas na Grande São Paulo.
"Sempre que vamos realizar uma Operação Saturação por Tropas Especiais (OST) ou Bloqueio de Área, recorremos ao Fotocrim para saber quem são os criminosos da região, seus comparsas e áreas em que atuam", afirma Lima. "Se não fosse o Fotocrim, estaríamos às escuras". O coronel foi um dos fundadores do sistema de inteligência, que começou a ser implementado pela PM em 1996.
O capitão Ulisses Puosso, oficial responsável pelo Fotocrim, afirma que o sistema inteligente melhora a eficácia da polícia sem aumentar em um só centavo os custos para o Estado. O sistema foi criado a custo zero e é atualizado pelos próprios policiais. Dados da Secretaria da Administração Penitenciária também ajudam a alimentar o banco de dados.
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