Pedro do Coutto
No processo de substituição do general Silva e Luna pelo economista Adriano Pires na Presidência da Petrobras, o projeto político que Bolsonaro traçou é o de equilibrar a Petrobras entre o tigre do mercado e o voto nas urnas de outubro; projeto extremamente difícil, mas que no fundo segue o rumo definido pelo presidente da República na luta pela reeleição.
É claro, como escrevi ontem, que a política de preços da estatal vai ser alterada. Pois caso contrário, não teria sentido algum a substituição de um presidente da estatal por outro.
DESAFIOS – Claro que o mercado financeiro tem as suas exigências e interesses, como no caso da Petrobras ficou evidente. Mas o processo político eleitoral também tem os seus desafios, os quais decorrem, como o Datafolha assinalou há poucos dias, que a opinião pública identifica a responsabilidade política do governo no caso do aumento dos preços dos combustíveis.
Efetivamente, aumentos sucessivos só podem causar desagrado nos eleitores e eleitoras do país. Não há como pensar o contrário à luz da lógica aparente dos fatos e de seus vínculos com o bolso de cada um e de todos. Por isso, a substituição foi estabelecida e Adriano Pires, que é considerado um comunicador eficiente, terá pela frente a missão de colocar em prática o que defende na teoria. Não será fácil. Mas também o que é fácil quando se trata da disputa pelo poder ?
PRIVATIZAÇÃO – Pires, conforme Malu Gaspar e Manuel Ventura lembraram no O Globo de ontem, já defendeu a privatização da Petrobras, mas é claro que não repetirá esse posicionamento, pois privatizar a Petrobras é altamente impopular.
E nem seria possível, se a vontade do novo presidente concretizar tal sonho num espaço dos meses que separam uma decisão de hoje dos votos nas urnas de amanhã. Sobre a privatização, Julio Witzak e Nicola Pamplona, Folha de S. Paulo, lembram essa opinião que já foi defendida por Adriano Pires.
Mas Adriano Pires não seria louco de repetir essa opinião voltada para privatizar a principal estatal brasileira. A onda seria enorme e os rumos da campanha eleitoral se tornariam mais difíceis ainda para Jair Bolsonaro.
DEBATE – Aliás, o debate sobre o petróleo começou. O ex-presidente Lula através do programa partidário do PT vem afirmando na televisão que o preço da gasolina, do diesel e do gás não podem seguir o dólar por dois motivos. Primeiro, a população brasileira não ganha em dólar, e segundo porque a Petrobras é autossuficiente na produção.
Inclusive, sustento que a questão das importações de derivados e exportações de petróleo bruto, já que as refinarias brasileiras não têm capacidade, como se alegou, de transformar o óleo leve do pré-sal em produtos refinados, necessita ser mais esclarecido ao longo da campanha eleitoral. Isso porque o assunto tem sido focalizado sob o ângulo da importação do óleo bruto e suas oscilações no mercado internacional.
Porém o caso não é de compra e venda de óleo bruto, e sim de venda de óleo bruto pelo Brasil e compra de gasolina e diesel pela Petrobras. Aí sim, o debate fica mais claro, ao contrário do que atribuir por igual as importações e exportações no mercado em geral.
PROTESTO – No fundo da questão, a política está presente em tudo, sem dúvida, refletindo interesses econômicos de várias fontes. O quase ex-presidente da Petrobras, Silva e Luna, praticamente formulou um protesto contra a sua substituição.
Luna disse – reportagem de Manuel Ventura e Daniel Gullino, O Globo – que a Petrobras não pode fazer política e nem ter aventureiros em seu comando. O ataque foi forte e a expressão “aventureiro” só pode ter sido dirigida a Adriano Pires ou a Bolsonaro.
NOVO MINISTRO – No Estado de S. Paulo, Renata Cafardo, ontem, assinalou que o reitor do Instituto Tecnológico da Aeronáutica, Anderson Ribeiro Correia, está entre os nomes cotados para assumir em caráter efetivo o Ministério da Educação.
Tem apoios políticos, inclusive de correntes do Centrão, conforme assinala a matéria. Por coincidência ou não é evangélico.
Sérgio Nogueira na Defesa
Na Folha de S.Paulo, Marianna Holanda, Vinicius Sassine e Ricardo Della Coletta, publicaram reportagem revelando que Bolsonaro vai nomear o general Paulo Sérgio Nogueira, atual comandante do Exército, para ministro da Defesa. Ele substitui Braga Netto que se desincompatibiliza para ser candidato a vice-presidente da República.
O general Sérgio Nogueira foi autor de várias manifestações bastante firmes em favor do processo democrático e do respeito às urnas populares. Numa de suas manifestações estabeleceu também a vacinação nas forças sob o seu comando. Na ocasião, o pronunciamento direto em favor da vacina contra a Covid-19 produziu reflexos, uma vez que tal posição não era, evidentemente, como a adotada pelo Planalto.
Mas prevaleceu e agora com a sua indicação para a Defesa, é claro que o Exército, como um todo, influiu na indicação. O caminho para as urnas ficou ainda mais claro e elimina possíveis sombras nas curvas do caminho.
Will Smith estraga a festa e o sentido do Oscar
No Estado de S. Paulo, Mariane Morisawa escreveu uma ótima matéria, inclusive acompanhada de fotos, sobre a absurda agressão do ator Will Smith contra Chris Rock, um humorista considerado como alguém que avança demais em suas colocações na busca do riso às vezes inconsequente.
Chris Rock, sem dúvida, foi inconsequente e grosseiro ao se referir à queda de cabelo da também atriz Jada Pinkett Smith, esposa de Will Smith. Mas a reação dele foi estúpida. Ele tinha razão em criticar o humorista, mas no momento em que o esbofeteou, alterou todo o panorama da festa tradicional. Deslocou o problema pessoal para o plano coletivo, envolvendo a todos num constrangimento que se generalizou. Foi um espetáculo lamentável a decisão dramática de um ator cujo sucesso foi produzido sempre pelo humor, pela comédia, pela desinibição.