Carlos Chagas
Amanhã, último dia do ano, ressurgirão as tradicionais e desmoralizadas resoluções de Ano Novo.
Parar de fumar. Comer menos. Beber pouco. Dirigir com atenção. Fazer exercícios físicos. Tirar a pressão com freqüência e marcar hora no cardiologista.
Dar mais atenção e carinho à mulher e os filhos. Ser tolerante com os subordinados e deixar de puxar o saco dos patrões. Economizar e investir o possível, para evitar dificuldades na velhice.
Integrar-se a campanhas cívicas como o combate à violência e à impunidade. Ingressar num partido político empenhado em promover a justiça social. Participar da vida nacional lendo jornais, mesmo para contrariar opiniões e tendências. Aprender a lidar com a parafernália eletrônica que nos assola. Ver menos televisão, banindo o lixo que as telinhas apresentam cada vez com mais intensidade.
Desta vez, será para valer. Ideologias à parte, chegou a hora do Homem Novo.
Como se trata de uma despedida, melhor aproveitar as últimas horas do que não acontecerá mais. Afinal, ninguém é de ferro, As festas já começaram a acontecer, mesmo para quantos não aproveitaram o recesso iniciado no Natal. O diabo é que amanhã começamos como terminamos, prenúncio de nenhuma mudança.
Também, é bom manter o otimismo. As resoluções acima referidas são para o Ano Novo que, salvo engano, começa em janeiro de 2011…
O mesmo de sempre
O presidente Lula termina o ano exatamente como começou: queixando-se da imprensa. No seu último pronunciamento de 2009, criticou a cobertura jornalística das atividades do governo, do Congresso e do Judiciário. Voltou a questionar as notícias que lê, ouve ou assiste, em suas palavras referentes apenas a fatos ruins. Tomou-se de dores em nome do Legislativo, acentuando que a avaliação da mídia é sempre negativa. O conjunto dos trabalhos do ano é positivo, mas os jornalistas teimam em optar pela condenação coletiva e o reconhecimento individual.
Não dá mais para um cidadão entrado nos sessenta anos mudar de concepções, mas se fosse possível sensibilizá-lo, bastaria um estudante do primeiro ano de jornalismo lembrar que notícia é o inusitado, não a rotina. A velha história de que se um cachorro morde um homem, não vai para as páginas do jornal, mas se um homem morde um cachorro, vai. Os aviões estão saindo no horário, assim como os deputados e senadores reúnem-se a semana inteira nos plenários e comissões? Não é notícia. Mas se faltam e viajam para seus estados nas quintas-feiras de manhã, só retornando às terças de tarde, vão para a mídia, em especial quando montes de vôos foram cancelados ou saíram atrasados.
Não adianta tentar convencer o primeiro-companheiro, mesmo quando abusos sem conta são cometidos pelos meios de comunicação. É assim que ele é e continuará sendo, apesar de que pelo menos uma vez na vida deveria dar atenção ao provérbio árabe, sobre ser melhor acender um fósforo do que amaldiçoar a escuridão.
Fonte: Tribuna da Imprensa