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terça-feira, agosto 31, 2021

Coaf aponta movimentação financeira de Ricardo Barros ‘incompatível’ com o patrimônio

Publicado em 31 de agosto de 2021 por Tribuna da Internet

Deputado Ricardo Barros foi incluído na lista formal de investigados pela CPI - Agência Senado

Barros, líder do governo, está cada vez mais enrolado

Paulo Cappelli, Natália Portinari e Julia Lindner
O Globo.

Líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR) teve “movimentação financeira incompatível com o patrimônio, a atividade econômica ou a ocupação profissional e a capacidade financeira”. É o que aponta relatório enviado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) à CPI da Covid e obtido pelo GLOBO.

O levantamento também aponta que Barros movimentou recursos com familiares ou “estreitos colaboradores” sem que fossem justificados por eventos econômicos e destaca, ainda, “movimentação por meio de saques, os quais dificultam identificar os beneficiários finais dos recursos”. Procurado, o parlamentar negou qualquer irregularidade e disse que suas operações estão “dentro da normalidade”.

LAVAGEM DE DINHEIRO – O órgão do Banco Central, que busca combater a lavagem de dinheiro, apontou que Barros movimentou R$ 169.849,97 acima da capacidade declarada. Entre primeiro de março de 2021 até 31 de março de 2021, transferências de Ricardo Barros somaram R$ 418 mil. O valor chamou a atenção por representar 94% do que o deputado diz ter como patrimônio líquido declarado: R$ 446 mil.

Dentro dessas transferências estão pessoas físicas e jurídicas das quais Barros é sócio. No relatório de movimentações consideradas atípicas envolvendo Ricardo Barros, o COAF analisou 13 pessoas físicas e 24 pessoas jurídicas. O órgão ouviu uma mulher apontada como administradora das contas correntes do grupo econômico. Ela relatou que parte da movimentação é decorrente da venda de imóveis, que em sequência são destinadas a pagamentos de empréstimos contratados entre as empresas do grupo.

OUTROS CRIMES – No relatório, é registrado ainda que Ricardo Barros é investigado por corrupção passiva, crime eleitoral, crimes contra a administração pública, formação de quadrilha, fraude, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e lavagem eleitoral.

“É investigado pelo MP-PR, por supostamente aproveitar-se de sua influência política para adquirir metade de um lote de R$ 56 milhões em Marialva (PR), após ter declarado à Justiça Eleitoral um patrimônio total de apenas R$ 1,8 mil. Barros, que também responde por sonegação fiscal, foi citado na lista dos políticos com ‘fichas sujas’”, diz o documento.

Procurado, Ricardo Barros se pronunciou por meio de nota: “Reforço que todas as movimentações financeiras pessoais ou referentes as minhas empresas são compatíveis com a minha renda e são operações dentro da normalidade. Não há relação entre movimentação financeira e patrimônio declarado. São coisas incomparáveis. A Receita Federal inclusive já acatou a minha defesa em processo administrativo que questionava essas movimentações. Não há nada de irregular”.

ALVO DA CPI – Ricardo Barros virou alvo da CPI da Covid após o deputado Luis Miranda (DEM-DF) relatar à comissão ter levado suspeitas de corrupção na aquisição da vacina indiana Covaxin ao presidente Jair Bolsonaro. Este, por sua vez, teria dito durante o encontro se tratar de um “rolo” de Ricardo Barros, que nega qualquer irregularidade.

Após a suspeita de corrupção vir à tona, o Ministério da Saúde decidiu suspender o contrato de R$ 1,6 bilhão com a fabricante do imunizante, a indiana Bharat Biotech.

 

Barros, que já prestou depoimento à CPI, trava uma briga com a comissão e, reclamando do vazamento de dados sigilos, recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF).

ACESSO AOS DADOS – A ministra Cármen Lúcia, então, determinou no último sábado que apenas o presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), tenha acesso aos dados do deputado.

Segundo a decisão, acesso a outros senadores membros da comissão só deverá ser concedido “mediante requerimento formal e com motivação idônea”. A ministra, porém, negou abertura de inquérito para apurar o suposto vazamento.

Denúncia da PGR contra Roberto Jefferson é fogo de palha, dizem procuradores

por Mônica Bergamo | Folhapress

Denúncia da PGR contra Roberto Jefferson é fogo de palha, dizem procuradores
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

A denúncia feita pela PGR (Procuradoria-Geral da República) contra o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), aliado do presidente Jair Bolsonaro, está sendo vista como fogo de palha por procuradores do Ministério Público Federal.
 

A peça é assinada pela subprocuradora-geral da República, Lindôra Araújo, que acusa Jefferson de incitação ao crime. Ao final da denúncia, no entanto, ela pede que “seja apreciado eventual declínio da competência” —sugerindo que o caso não deve ser analisado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e que, portanto, a PGR não tem atribuição para fazer a denúncia.
 

Se o pedido da subprocuradora-geral for atendido, o caso de Roberto Jefferson deixaria o Supremo e iria para a primeira instância, o que daria a ele mais prazo e instâncias para recorrer.
 

Procuradores ouvidos pela reportagem avaliam que o parecer abre brechas para que a defesa do ex-deputado conteste a denúncia e afirmam que Lindôra Araújo “planta nulidade” ao fazer uma acusação que não deve prosperar, já que é baseada, principalmente, em recortes de jornais.
 

A denúncia também é apontada por membros do Ministério Público Federal como um gesto de Araújo, braço direito do procurador-geral da República, Augusto Aras, para rebater a acusação de que a PGR é omissa diante de casos que envolvam o entorno e o próprio presidente Jair Bolsonaro.
 

Um procurador chegou a dizer que a acusação desta segunda-feira (30), na verdade, foi feita para absolver Jefferson.
 

Essa não é a primeira vez que a PGR afirma que o STF não seria o foro competente para analisar o caso do ex-parlamentar. Contraditoriamente, o órgão também já impediu que um pedido de prisão contra Jefferson fosse analisado pela Justiça Federal de Três Rios (RJ), foro de primeira instância, como mostrou o jornal O Globo.
 

Na ocasião, em dezembro do ano passado, a PGR argumentou que o caso de Roberto Jefferson deveria correr no STF.
 

Líder nacional do PTB, o ex-deputado federal foi preso no último dia 13 no âmbito de inquérito que investiga suposta organização criminosa voltada a atacar as instituições e abalar a democracia. A detenção foi decretada a pedido da Polícia Federal e à revelia da PGR, que não cumpriu o prazo de 24 horas para se posicionar.
 

Após o ocorrido, a Procuradoria-Geral se manifestou de maneira contrária à prisão, afirmando que ela serviria apenas para impedir novas postagens do político e que resultaria somente no cerceamento da liberdade de expressão.
 

Na semana passada, o órgão defendeu a ida do ex-deputado para prisão domiciliar, justificando que o correto neste momento é que Jefferson use uma tornozeleira eletrônica e que seja revogada sua prisão preventiva.

Bahia Notícias

PL e Republicanos escancaram a insatisfação dos partidos do Centrão com o Planalto

Publicado em 30 de agosto de 2021 por Tribuna da Internet

Evangélico, Marcos Pereira defende políticos na canonização de Irmã Dulce |  Poder360

Marcos Pereira, da Universal, não apoio o Sete de Setembro

Thiago Prado
O Globo

Declarações fortes e gestos silenciosos da semana passada revelam que dois dos três principais partidos do Centrão, que sustentam o presidente Jair Bolsonaro no Congresso ,decidiram escancarar sua insatisfação com o Planalto. Enquanto Ciro Nogueira e Arthur Lira, do PP, elevam a sua influência a cada dia que passa, o PL, de Valdemar Costa Neto, e o Republicanos, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, não escondem mais a possibilidade de abandono do projeto da reeleição em 2022.

Nos últimos dias, dois deputados do PL expuseram nas redes críticas ao ministro da Economia, Paulo Guedes, antes restritas às rodas de conversas de parlamentares.

ATAQUES PESADOS – Altineu Côrtes, líder da legenda no Rio, disparou para a sua lista de contatos no WhatsApp um vídeo pedindo a saída de Guedes por minimizar o aumento nas contas de luz. “Olha, ministro, o senhor está atrapalhando o governo Bolsonaro”, disse. No mesmo dia, o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (AM), foi ao Twitter e também atacou Guedes, por sua “desconexão com a realidade do povo”.

O PL está incomodado com Bolsonaro depois de entender que a nomeação de Flávia Arruda na Secretaria de Governo, em março, pouco significou para a sigla. Em um primeiro momento, o antecessor de Flávia na pasta, o ministro Luiz Eduardo Ramos, não a deixou fazer todas as nomeações que gostaria na articulação política.

Depois, com a chegada de Ciro Nogueira à chefia da Casa Civil, a ministra perdeu de vez a chance de exercer qualquer protagonismo na relação do Planalto com o Congresso.

MAIS ESPAÇO – Em conversas, o PL externa abertamente que quer mais espaço no governo. Ao longo do ano, Altineu Côrtes já defendeu a recriação do Ministério do Esporte, hoje uma secretaria na pasta da Cidadania. A ideia, contudo, jamais avançou. Foi, aliás, justamente de um nome consagrado do esporte brasileiro que surgiu mais um petardo recente do PL contra um integrante da equipe de Bolsonaro.

Há duas semanas, revoltado com a fala do ministro da Educação, Milton Ribeiro, que disse que a convivência de crianças com necessidades especiais atrapalha as outras, o senador Romário (RJ) o chamou de “imbecil” para os seus seguidores no Twitter.

Ao contrário do partido de Valdemar Costa Neto, o Republicanos é mais discreto nos sinais de insatisfação. A legenda, que comanda o Ministério da Cidadania com o deputado João Roma, chegou a ter um estilo mais questionador no auge da crise da Universal em Angola, quando, em maio, líderes da igreja foram denunciados no país por lavagem de dinheiro e pastores acabaram expulsos e mandados de volta para o Brasil.

GENRO DO BISPO – O homem forte do bispo Edir Macedo na Universal, o seu genro Renato Cardoso, passou a aparecer em vídeos na TV Record criticando a “omissão” do governo brasileiro o episódio.

O Planalto fez dois movimentos para tentar reatar as relações com a igreja desde então: enviou o vice-presidente Hamilton Mourão a Angola para tentar abrir diálogo com o governo local; e indicou o ex-prefeito do Rio Marcelo Crivella para uma Embaixada na África do Sul. As iniciativas, no entanto, não surtiram efeito, e a relação com a igreja seguiu ruim.

A maior demonstração de falta de engajamento da Universal com Bolsonaro pode ser percebida na mobilização que está sendo feita pelos evangélicos para as manifestações de 7 de Setembro.

SILÊNCIO UNIVERSAL – Enquanto pastores como Silas Malafaia têm articulado abertamente para colocar milhões de fiéis nas ruas em apoio ao presidente, a igreja de Edir Macedo está em silêncio sobre os atos. Ao ser perguntado sobre como enxerga as manifestações que vêm por aí, Marcos Pereira, presidente do Republicanos, diz estar preocupado com a possibilidade de incidentes nas ruas.

Há ainda mais um fator a explicar a má vontade da Universal com Bolsonaro. De um ano para cá, o chefe do Executivo escolheu Malafaia como seu principal interlocutor no segmento evangélico.

O pastor tem histórico recente de ataques à igreja de Macedo. No ano passado, chamou de “nojento” o apoio à nomeação de Kassio Nunes Marques ao Supremo Tribunal Federal (STF) — hoje, Malafaia faz o mesmo pelo ex-advogado-geral da União André Mendonça. Em outro momento, também disse que Bolsonaro apoiar Crivella para prefeito do Rio foi um “erro”.

Bolsonaro diz que crise da energia já chegou “no limite dos limites”, igualzinho a ele…

Publicado em 31 de agosto de 2021 por Tribuna da Internet

ImageVicente Limongi Netto   /    Charge do João Montanaro (Folha)

O presidente Jair Bolsonaro pede que a população economize energia, alegando que estamos “no limite do limite”. Nessa linha, os brasileiros também estão “no limite do limite” com Bolsonaro. Se somos “idiotas”, por querer feijão ao invés de fuzil, o presidente é o quê?

Reitero: passou da hora de Bolsonaro usar camisa e força e focinheira.  Ninguém aguenta mais a falta de limites do presidente com adversários e ministros do STF.

Tornou-se insuportável a falta de compostura e de postura do ainda chefe da Nação, sempre debochando das recomendações da ciência. Também já passaram dos limites do bom senso as deploráveis recomendações de Bolsonaro para seguidores. A maioria esmagadora da população conta os dias para ver o mito de barro fora da Presidência.

RETRATO IMPRECISO – Telê Santana era íntegro, técnico capaz e ex-excelente ponta direita. Foi pintado e idolatrado pelo “Esporte Espetacular”, domingo, na Globo. Exageraram, chamando o mineiro de “símbolo do futebol arte”.

Na seleção Telê não ganhou nada. Foi campeão no São Paulo. O programa usou ex-jogadores que trabalharam com ele, que também fracassaram na seleção. Jogavam bonitinho, mas não ganharam bulhufas. Um deles, Júnior, tratado como “maestro” por colegas dele que nunca jogaram nem pedra em vidraça, quanto mais futebol, afirmou que, com Telê, “faria tudo de novo”.

Caramba, vá gostar de cultivar derrotas assim no inferno. Também falou montes de besteiras sobre Telê aquele “analista” que tem as iniciais de Juscelino Kubitschek. Já estamos acostumados com elas.

GRANDE FAMÍLIA – Parabéns à matéria “Retribuindo o amor” na Revista do Correio Braziiense, neste domingo 29/08). Mostrou netos zelando pelos avós na pandemia. Com ternura, amor e dedicação. Incluo os meus na saudável relação. Com emoção e orgulho. 

Jovens e adultos de todas as idades, retribuindo o carinho e atenção que sempre tiveram dos avós. Bom verificar que, na correria pela vida, muitos netos ainda encontram tempo no coração e nos compromissos, para beijar os avós. Para saber como estão. Para saborear boas lembranças. Para rirem abraçados. Para saber se precisam de alguma coisa.

Nada mais sublime do que o afeto desinteressado. O gesto grandioso de saber ouvir e conviver com os mais experientes.  São exemplos marcantes de seres humanos que mostram que nem tudo está perdido no planeta Terra. Prova de que os milhões de jovens iluminados salvarão o mundo do caos da ignorância, da intolerância, da patrulha doentia e da barbárie de sentimentos. Sou avô feliz.

Aliados tentam moderar discurso, por temerem Bolsonaro mais autoritário após 7 de Setembro

Publicado em 31 de agosto de 2021 por Tribuna da Internet

TRIBUNA DA INTERNET | Com ataques em linguagem chula, Bolsonaro está  ficando cada vez mais sozinho, patético e ridículo

Charge do Brum (Tribuna do Norte)

Julia Chaib, Marianna Holanda e Mateus Vargas
Folha

Presidentes de partidos de diferentes lados do espectro político temem que os protestos de 7 de Setembro aumentem o tom autoritário de Jair Bolsonaro. Entre auxiliares no Palácio do Planalto, há o temor de que o discurso do presidente, normalmente feito de improviso, seja inflamado diante das ruas cheias.

Por isso, eles têm atuado junto ao presidente para convencê-lo da importância de fazer uma fala mais moderada. Interlocutores acreditam que Bolsonaro pode se acalmar ao ver que tem ainda grande apoio da população.

TESTE DE FORÇA – A adesão às manifestações, dizem tanto aliados como adversários, será um divisor de águas para testar a força do presidente.

O receio, inclusive de parlamentares que são da base governista no Congresso, é que, se houver muitas adesões, podem legitimar os ataques que ele tem feito ao STF (Supremo Tribunal Federal) e levá-lo a reforçar o discurso contra as instituições, podendo, inclusive, insistir no voto impresso, já derrotado pelo plenário da

Um presidente de partido disse à Folha temer que seja instaurado um clima de estado de sítio, sobretudo por conta de uma eventual politização das polícias militares, que já colocou em alerta os governadores.

OUTRA VERSÃO – Por outro lado, se os protestos forem menores do que o esperado, poderiam ser o gatilho para manifestações contrárias a Bolsonaro —mesmo que o impeachment hoje tenha poucas chances de prosperar.

Ao mesmo tempo, a oposição começa a convocar nas redes sociais um panelaço nacional para as 19h do dia 7. “Em homenagem a 7% de inflação, 7% taxa de juros, 7 reais a gasolina, 70 reais o kg da carne, 7 reais kWh bandeira vermelha VAMOS FAZER 7 minutos de panelaço 7 da noite 7 de setembro”, afirma postagem compartilhada com a hashtag #ForaBolsonaro.

Aliados do presidente esperam ato especialmente cheio na Avenida Paulista, em São Paulo. A expectativa, dizem, é que seja maior do que os protestos pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) vistos em 2015 e 2016.

EPISÓDIO DECISIVO – Para o presidente do PSB, Carlos Siqueira, não há dúvida de que Bolsonaro vai usar o episódio para cacifar o próprio discurso.

“Não tenha dúvidas, ele não vai deixar por menos. Diante de uma multidão, se houver essa quantidade de pessoas, e provavelmente haverá, ele vai certamente querer uma radicalização. Ninguém consegue contê-lo, é ilusão”, disse Siqueira.

Para o dirigente do PSB, o país deveria estar mais preocupado em discutir a alta inflação, o preço do gás e da gasolina, entre outras questões.

BONS EXEMPLOS – O deputado Baleia Rossi (MDB-SP), presidente nacional da sigla, vai na mesma toada. “Precisamos de bons exemplos dos nossos governantes. Radicalizar seria penalizar ainda mais à população mais pobre que já sofre com a inflação nos alimentos e os aumentos sucessivos nos combustíveis, gás e energia”, afirmou.

Outros dirigentes partidários falaram à reportagem reservadamente. Apesar do temor da escalada de tom de Bolsonaro no dia seguinte ao feriado e da preocupação de governadores com insurgências nas suas PMs, eles reforçaram à Folha não ver risco de ruptura pela avaliação de que o Exército não encamparia uma “aventura Bolsonaro”.

 


Um golpe de Estado, a essa altura, significa um projeto para desconstruir a nação

Publicado em 31 de agosto de 2021 por Tribuna da Internet

Charge: Fraude x Golpe. Por LaerteArminio Fraga
Folha

O mundo está cada vez mais complicado. A partir da guinada econômica de Deng Xiaoping na China nos anos 1970 e da queda do Muro de Berlim em 1989, parecíamos caminhar para um futuro de paz e prosperidade. E, de fato, houve muito progresso material e social, sem grandes guerras ou acidentes.

Mas não durou muito. Na virada do século veio um primeiro alerta, pelas mãos do terrorismo de origem religiosa, que mostrou sua força derrubando as Torres Gêmeas, episódio que completa 20 anos nos próximos dias.

DESASTRE GLOBAL – Em outra frente, a mudança climática aponta para um desastre global de enormes proporções. Em que pese a solidez da base científica do diagnóstico, as respostas até agora parecem modestas.

Li recentemente que o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg considera um absurdo as metas chinesas de emissões de carbono mirarem em 2050. Ele tem toda razão. É muito longe. Ainda no front de nossa relação com a natureza, vivemos hoje uma catastrófica pandemia, que ameaça se transformar em endemia, também a despeito dos esplêndidos avanços da ciência.

Esses e outros desafios, como a estagnação do comércio internacional, as crescentes ameaças cibernéticas e a guerra modelo século 21 entre China e Estados Unidos, sugerem que a governança global do planeta anda mal.

DITADURA CHINESA – Chama a atenção a guinada interna em andamento na China de Xi Jinping. O que parecia ser uma suave transição a um regime mais aberto passou a ser hoje uma grande reafirmação da ditadura do Partido Comunista, que visa se perpetuar no poder. Destacam-se a perenização de seu líder, a onipresença de seus membros nos conselhos das principais empresas, o amplo acesso a cada passo da vida das pessoas —enfim, um grande e repressivo mecanismo, fonte de incerteza.

Em outras partes, proliferam cada vez mais regimes políticos autoritários e populistas, turbinados pelo uso competente das redes sociais, que favorecem esse tipo de liderança. O custo da transmissão massiva de informações é hoje relativamente baixo e permite a ampla difusão de todo tipo de fake news, que criam uma enganosa “realidade” paralela.

Vivemos hoje no Brasil uma situação com essas características. No início, o atual governo parecia ter adotado “apenas” uma versão da estratégia desenvolvida por Steve Bannon para Trump: atacar as defesas da democracia.

TEMA EM DEBATE – O tema é objeto de Jonathan Rauch em seu brilhante e recém-lançado livro “The Constitution of Knowledge”, ainda não traduzido, que estende artigo de mesmo nome publicado há três anos.

Rauch usa o termo “constituição” no sentido de carta de princípios — no caso, de defesa do conhecimento, motor fundamental do progresso e antídoto contra as fake news. Ele defende ampla liberdade de expressão, acompanhada de um sistema livre, independente e rigoroso de crítica às ideias que são apresentadas, especialmente as que embasam decisões públicas.

O sistema de defesa é composto pela academia, pela imprensa e, cada vez mais, pelo terceiro setor, todos atuando a partir de filtros rigorosos de apuração, de informação e de análise. Inclui também o mundo artístico e cultural, que de forma lúdica representa anseios de liberdade e mais igualdade. Seria como um enorme funil por onde entram livremente muitas ideias, mas relativamente poucas sobrevivem à crítica e aos valores da sociedade.

DESCASO E OMISSÃO – No Brasil de hoje, o descaso com as consequências da pandemia e do desmatamento da Amazônia vem sendo objeto de resposta vigorosa da sociedade, felizmente. Os efeitos desse esforço ainda não se fizeram sentir, mas boas sementes estão sendo plantadas.

No entanto, e infelizmente, os ataques do governo têm ido além da agenda Bannon. Hoje está em risco o sistema de pesos e contrapesos, que é parte fundamental de nossa democracia.

Acusações ocas e ameaças aos demais Poderes têm sido frequentes, sobretudo ao Judiciário, e em especial à higidez do sistema eleitoral. Não parece ser o caso hoje ainda, mas mais adiante a relação com o Legislativo pode azedar também, como ocorreu recentemente.

ARMAR O POVO – Um fator adicional de tensão advém da postura do presidente com relação a armamentos e a quem os porta. A noção de armar o povo para defender a liberdade não faz sentido algum, mas vem sendo repetida. Tampouco faz sentido qualquer tolerância com a existência de grupos informais armados operando à margem da lei.

Desde o início de seu mandato o presidente vem dando especial atenção às Forças Armadas e às polícias militares. Militares (inclusive da ativa) ocupam inúmeros postos-chave na administração pública, o que começa a comprometer a imagem das Forças Armadas.

Esse quadro geral é extremamente prejudicial à economia. Em tese, não faltam oportunidades de investimento ao Brasil, da infraestrutura à educação e à saúde. Mas a incerteza encurta os horizontes e inibe o investimento.

FOCOS DE TENSÃO – Não seria surpresa se pipocassem mais e mais focos de tensão, como se viu semana passada na Polícia Militar de São Paulo. Não é impossível imaginar cenários de violência à democracia.

Na medida em que as defesas da democracia se mostrem eficazes, aumentará a pressão sobre o governo atual, que vem fazendo água nas pesquisas. O presidente parece disposto a dobrar a aposta, pelo visto contando com o apoio de uma minoria agressiva.

No entanto, tenho convicção de que as lideranças das Forças Armadas e (espero) das polícias, além de defenderem a Constituição, entendem que estariam apoiando um projeto de desconstrução da nação.

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