Publicado em 1 de junho de 2023 por Tribuna da Internet
Tácio Lorran
Estadão
O ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança-Institucional (GSI) general Augusto Heleno afirmou nesta quinta-feira, dia 1º, em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, na Câmara Distrital de Brasília, que os acampamentos golpistas organizados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) eram “locais sadios”.
Manifestantes que estavam no acampamento do Quartel-General do Exército, em Brasília, no entanto, participaram dos ataques golpistas no dia 8 de janeiro, quando os prédios do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional foram invadidos e depredados. Além disso, o mesmo local teria sido palco de um plano para explodir uma bomba próximo ao aeroporto de Brasília, nas vésperas da posse do atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
MUITAS ORAÇÕES… – “Eu não estive nenhuma vez no acampamento. Conhecia de fotografias. Mas acredito, pelo que se escuta, que o acampamento era um local sadio, onde se fazia muitas orações, se reuniam para conversar sobre assuntos políticos”, minimizou Heleno à Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF).
“Mas não sei como era a organização do acampamento. Tinha inclusive crianças, muitas mulheres. Durou muito tempo, sem nenhum acontecimento de maiores consequências”, argumentou.
Heleno falou na CPI dos Atos Antidemocráticos em condição de testemunha. Durante o depoimento, o general se manteve fiel – como ele mesmo admitiu – ao ex-presidente Bolsonaro. Além de ter negado o viés golpista do movimento, recorreu corriqueiramente à frase “não me lembro” para deixar de responder aos questionamentos da oposição.
TOMAR CALMANTE – Ao comentar um áudio em que disse que precisava tomar calmante para evitar que Bolsonaro tomasse “medidas mais drásticas”, Heleno disse que sua fala foi retirada de contexto.
“Se eu tivesse sido articulador [dos atos do dia 8 de janeiro], eu diria aqui. Acho que o tratamento que estão dando a essa palavra golpe não é adequado. Um golpe, para ter sucesso, precisa ter líderes, um líder principal, não é uma atitude simples. Esse termo golpe está sendo empregado com extrema vulgaridade. Uma manifestação, uma demonstração de insatisfação não se pode caracterizar um golpe”, afirmou o general.
Heleno chamou Ricardo Cappelli, ministro interino do GSI, de “mal-informado”, mas poupou críticas ao colega de farda, general Gonçalves Dias – chefe do Gabinete durante os ataques golpistas. “Lamento que o Dr. Cappelli conheça tão pouco do GSI. Ele não conhece nada do GSI”, afirmou Heleno. Cappelli assumiu o GSI interinamente após a saída de Gonçalves Dias e chegou a acusar o general bolsonarista de incitar ataques às instituições da República.
DEFENDENDO 1964 – Por fim, Heleno encerrou sua participação na CPI dos Atos Antidemocráticos defendendo o golpe de 1964. “As coisas são vistas só de um lado. O deputado acha que o movimento de 64 matou mais de 1 mil pessoas, acha que foi um movimento de vingança, de ódio, quando o movimento de 64 salvou o Brasil de virar um País comunista. O Brasil esteve a um passo de virar um País comunista”, disse, ao acusar a oposição de “deturpar a história”.
“Ele foi não somente evasivo, mas também cínico. Tentou relativizar tudo que ocorreu no dia 12 de dezembro e no dia 8 de janeiro”, afirmou o deputado distrital Fábio Felix (PSol).
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – As CPIs quase sempre acabam em pizza, basta lembrar a Comissão que investigou o combate à pandemia. Mas há quem pense (?) que vai convocar algum envolvido que admita ter participado dos crimes em investigação… É claro que o general Heleno, uma das grandes decepções do governo paramilitar, jamais reconheceria ter feito nada de errado na vida. Aliás, ele é perfeito, não perceberam? (C.N.)
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