Luci Ribeiro
Estadão
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O presidente Jair Bolsonaro incluiu igrejas e agências lotéricas na lista de serviços e atividades essenciais que podem funcionar durante a situação de emergência no País em decorrência do novo coronavírus.
A decisão, tomada por meio de decreto – que não depende de aval do Congresso -, abre brechas nas restrições impostas por governadores e prefeitos para reduzir a circulação de pessoas e evitar a propagação da doença. Em uma mudança de orientação do governo, Bolsonaro tem criticado medidas adotada na maior parte do País para conter o avanço da covid-19.
PRONUNCIAMENTO – Na terça-feira, dia 24, em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão, o presidente afirmou que “algumas poucas autoridades, estaduais e municipais, devem abandonar o conceito de terra arrasada”, em medidas como a “proibição de transportes”, o “fechamento do comércio” e o “confinamento em massa” – adotadas em diversos países para evitar a propagação do vírus e o colapso do sistema de saúde.
O argumento é de que os efeitos na economia resultarão em milhões de desempregados. O fim do isolamento, no entanto, contraria recomendações médicas e vai de encontro ao que o próprio Ministério da Saúde defendia até esta quarta-feira.
LOTÉRICAS – Bolsonaro já havia anunciado na quarta-feira, pelas redes sociais, que incluiria as lotéricas na lista de serviços autorizados a funcionar. Segundo ele, 2.463 dos 12.956 estabelecimentos no País estão fechados por decisões estaduais ou municipais.
Também nesta quarta-feira, ao ouvir a reclamação sobre o fechamento do comércio de um apoiador que se identificou como empresário, o presidente disse que havia conseguido resolver a questão das lotéricas.
CANETADA – “Hoje, por decreto, eu resolvi as lotéricas. Três mil lotéricas fechadas por prefeitos e governadores. Eu consegui resolver numa canetada. Estamos fazendo isso”, afirmou Bolsonaro, em frente ao Palácio da Alvorada.
Em relação às igrejas, o decreto afirma que seu funcionamento deve seguir as recomendações do Ministérios da Saúde. Os templos vinham limitando suas atividades presenciais para evitar aglomerações e se valendo das tecnologias virtuais para fazer cultos e missas e assim diminuir os riscos de propagação do vírus.
SEM AGLOMERAÇÃO – Com a decisão de Bolsonaro, elas ficam liberadas da quarentena. Em alguns locais, como São Paulo e Santa Catarina, igrejas foram à Justiça para garantir a realização de cultos. O decreto, porém, faz a ressalva de que as atividades religiosas devem seguir as orientações do Ministério de Saúde, que tem sido de evitar aglomerações e manter distanciamento social.
O fechamento dos templos também tem sido alvo de críticas do presidente. “O que eu vejo no Brasil, não são todos, mas muita gente, para dar uma satisfação para o seu eleitorado, toma providências absurdas… fechando shoppings, tem gente que quer fechar igreja, o último refúgio das pessoas”, disse Bolsonaro em entrevista ao Programa do Ratinho, do SBT, exibida na noite de sexta-feira.
“Lógico que o pastor vai saber conduzir o seu culto, ele vai ter consciência, pastor ou padre, se a igreja está muito cheia, falar alguma coisa. Ele vai decidir, até porque a garantia de culto, a proteção ao ambiente de culto, é garantida pela Constituição. Não pode o prefeito e o governador achar que não vai mais ter culto, não vai ter mais missa”, acrescentou.
DESAFIO – Reportagem do Estado publicada no domingo mostrou que as medidas de isolamento representam um desafio para as religiões, uma vez que os encontros e eventos fazem parte de uma tradição que atravessa os séculos.
Missas católicas e cultos evangélicos, por exemplo, têm sido realizados com transmissões pela internet, para que fiéis acompanhem de suas casas. Na Primeira Igreja Batista de São Paulo, aconselhamentos pastorais e reuniões de oração também passaram a ser virtuais.
No entanto, alguns líderes religiosos, como Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, têm desafiado a recomendação do Ministério da Saúde para evitar aglomerações e, em meio à pandemia de coronavírus, convocou fiéis a irem aos templos para orar e fazer uma corrente de fé contra a covid-19. O culto, porém, foi proibido pela Justiça do Rio de Janeiro.