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quinta-feira, novembro 21, 2019

Deputado Hélio Negão diz que Coronel não exagerou ao quebrar placa e nega racismo na polícia

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Deu no O Globo
Os deputados federais Hélio Negão (PSL-RJ) e Áurea Carolina (PSOL-MG) têm opiniões diferentes sobre a quebra de um quadro que estava exposto na Câmara sobre o Dia da Consciência Negra. Nesta semana, o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) retirou e quebrou uma tela do cartunista Latuff, uma ilustração de um homem negro, algemado, assassinado por um policial com uma arma na mão.
Opinião: Hélio Negão (PSL-RJ)
O que o senhor achou do fato de o deputado Coronel Tadeu ter quebrado a placa com a charge?
Não vi o Coronel Tadeu quebrar a placa, mas a charge não foi correta. Eu sou negro. Pegar o negro e botar como se estivesse com as vestes da bandeira do Brasil e algemado. Por que um negro algemado? Me fala uma pessoa que foi executada em confronto, um negro com uma bandeira do Brasil enrolada no corpo e algemado? E ali, há uma instituição de respeito, que é a polícia militar. É como se a polícia militar estivesse fazendo mal para o Brasil.
Se você está com armamento, está indo para o confronto, você vai atirar na polícia? A polícia está no exercício regular do direito, então quer dizer. Por que morre mais negro do que branco? Não morre mais negro do que branco, porque 44% (da população) é pardo. Quando eu quero beneficiar para dar número, todo mundo é negro.
O Coronel Tadeu não exagerou?
Não. Eu tenho minha visão, acho que o exagero foi colocar.
Existe racismo na atuação da polícia?
Não. Nem dentro nem na atuação. Eu sou militar. As Forças Armadas e as forças auxiliares de segurança são as mais democráticas que têm, porque você faz uma prova e ninguém olha sua cara, olha sua nota. Pela nota, pega o mérito e você vai ascender na carreira. Eu sou negro, não tem ninguém melhor do que eu para falar da minha situação. Eu não vejo isso.
E no Congresso, o senhor já presenciou?
Não. Nunca. Eu respeito, sou respeitado.
E o que aconteceu com a deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ), que foi barrada (de entrar no plenário pelos seguranças)?
Não. Quem viu isso? Eles sempre me trataram super bem. Nunca vi pessoas aqui serem desrespeitadas pela sua cor. A Talíria é negra? Quem diz que ela é negra? Ela se autodeclara negra. Ó a cor do dente, a sola do pé preto. Eu sou negro, a Talíria é parda.
Mas e na sociedade, existe racismo?
Acho que o preconceito no Brasil tem todos os viés. Racismo existe. Um caso de racismo tem que ser punido severamente. Não defendo racismo. Eu sou contra o racismo, mas o racismo é um preconceito. Existe preconceito contra gordo. Eu tenho preconceito com repórter, é reporterfobia?
O que o senhor acha do Dia da Consciência Negra?
Eu tenho que me conscientizar de quais foram os negros importantes da história do Brasil. Joaquim Nabuco, André Rebouças, Nilo Peçanha, Machado de Assis. A terra do movimento negro é no Rio de Janeiro, pelas faculdades, pela história, a miscigenação. Eu fui o negro mais votado da história do Rio de Janeiro, mas eles não queriam, porque não representa. Então qual a narrativa do movimento negro? É política ou é vitimismo? Dizem ‘Hélio não, porque ele é contra cotas’. Deveria ter o dia da consciência negra, da consciência branca, da consciência humana. Deve ser respeitado o negro, o gay, a pessoa que é gorda. Tinha que ser o dia da consciência humana.
Opinião: Áurea Carolina (PSOL-MG)
O que representa o fato de o deputado Coronel Tadeu ter quebrado a placa com a charge?
Representa uma intensificação da violência no Brasil. Quando obras de arte, símbolos políticos democráticos, quando dados empíricos da realidade são considerados motivo de repulsa, de atitudes violentas, é sinal de que a democracia vai muito mal. E o que me preocupa é a naturalização com que essas coisas têm ocorrido, se agravado cada vez mais.
Como os demais deputados se posicionaram?
Houve uma relativização da atitude do deputado que quebrou o painel da exposição, várias pessoas vieram argumentar que aquela charge não deveria estar lá, que não representa toda a polícia militar. Isso pode ser debatido efetivamente, mas não cabe um ato arbitrário de censura, e na verdade aquela charge retrata uma realidade que está mais do que demonstrada, agrade ou não. O que representa é um momento sombrio da realidade brasileira, e o racismo estrutural está na gênese dessa situação, de como nós chegamos a esse ponto. É gravíssimo. O fato de que muitos não perceberam aí uma atitude racista nos preocupa, mostra que é um debate que está longe de ser feito como deveria.
A senhora já passou por situações de racismo na Câmara dos Deputados, ou já presenciou outras pessoas passarem por isso?
São várias situações, comentários, piadinhas. Ser barrada em alguns locais. Hoje mesmo, soubemos que pessoas negras foram impedidas sem qualquer justificativa de entrarem na Câmara dos Deputados, sendo que estavam completamente aptas e identificadas. Então acontecem coisas muito estranhas aqui, e o fenótipo, a cor da pele, a aparência contam muito.
São códigos ocultos, que as pessoas não têm coragem de dizer e muitas vezes não veem isso conscientemente, mas são códigos eficazes. A leitura que se faz de uma mulher negra como eu é totalmente distinta da que se faz de um homem branco que tem a aparência de um deputado padrão. Eu não tenho essa aparência. Fora o cotidiano, as ofensas mais diretas que nós ouvimos constantemente no plenário, nas comissões. E outras coisas mais sutis, de tentar desqualificar nossa inteligência, nossa capacidade ou ironizar nossa atuação a partir da nossa raça.
A quebra da placa monopolizou o debate no Congresso no Dia da Consciência Negra? A senhora vê isso como algo negativo?
O que esse episódio trouxe foi a constatação de que existe um genocídio da população negra em curso no Brasil. Então o autor dessa violência não foi só o deputado que quebrou a placa. Os que legitimam essa violência são cúmplices, eles vão corroborando, querem negar o genocídio, e veio à tona um debate sobre a existência de um genocídio. Há muitas evidências históricas que comprovam isso (que a maioria dos mortos em operações policiais são negros).
É como desvelar o mito da democracia racial, que ainda é muito presente. As pessoas acham normal e a gente ouve direto “ah, tenho um amigo negro”, para dizer que não é racista. Então a gente está num nível muito primário sobre o debate racial no Brasil, as pessoas não têm um letramento básico sobre questões raciais.

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