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terça-feira, julho 05, 2011

Nocaute no primeiro round

Carlos Chagas

Ultrapassou a presidente Dilma o obstáculo inicial no primeiro teste de combate à corrupção em seu governo. O episódio Antônio Palocci não valeu, pois as lambanças praticadas pelo ex-chefe da Casa Civil aconteceram antes da posse, mesmo revelados depois. Ainda assim, a presidente afastou o auxiliar.

Agora, caracterizou-se a roubalheira explícita no ministério dos Transportes e desde logo Dilma convocou os responsáveis, ainda que Alfredo Nascimento não comparecesse, saltando de banda. Olho no olho ela identificou as falcatruas e exigiu o afastamento de quatro integrantes da quadrilha. Ontem, durante o dia, faltava apenas a defenestração do ministro dos Transportes, já com a cabeça no cepo.

Fica para a Polícia Federal o levantamento do montante de recursos superfaturados, seu destino e a apuração de outros envolvidos, inclusive os empreiteiros, mas a pergunta que se faz é que estruturas Dilma Rousseff irá erigir sobre os escombros do PR. Se pretender manter o singular e diminuto partido em sua base de apoio, procurando bem, encontrará gente honesta, em seus quadros. Mas se preferir desinfetar o ministério, que forças convocará?

Por certo que PT e PMDB estão de olhos e goelas bem abertas para abocanhar mais essa fatia do poder, mas parece pouco provável que o ministério dos Transportes lhes venha a ser oferecido. O mais provável será uma solução parecida com a que ainda agora serviu para preencher a Casa Civil e o ministério das Relações Institucionais: pessoas da inteira confiança da presidente, com vinculação partidária mas muito mais ligadas a ela do que às legendas onde se integram, como Gleisi Hoffmann e Ideli Salvatti.

De qualquer forma, foi pronta a reação à primeira bandalheira descoberta, ao menos conforme as iniciativas adotadas. Dilma não esperou nem contemporizou, como fizeram Fernando Henrique e o Lula em diversas oportunidades. Optou pela fórmula Itamar Franco…

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NÃO MEXAM COM A BAHIA

A frase preferida do falecido senador Antônio Carlos Magalhães era “não mexam com a Bahia”. Diversas vezes ele se insurgiu contra governos e governantes empenhados em prejudicar seu estado natal, até mesmo exagerando no episódio do Banco Econômico, que defendeu com unhas e dentes.

Estivesse entre nós o ACM, estaria distribuindo ponta-pés e caneladas em quantos tentam reavivar a proposta da divisão da Bahia em dois estados, criando-se um novo na região do outro lado do rio São Francisco. A História, a tradição e a política devem ficar acima da geografia, para os baianos da mesma cepa de seu três vezes governador. �

Se o mesmo raciocínio valer para o Pará, o resultado do plebiscito previsto para dezembro revelará o sentimento de unidade da maioria dos paraenses. Até porque, são alienígenas os defensores da formação dos estados do Tapajós e do Carajás. Bem como seus interesses.

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NEM SÓ DE CRIMES DEVEM VIVER AS TELINHAS

A moda vem de longe, mas nos últimos meses acentuou-se fenômeno digno de ampla reflexão. Cada vez mais os telenoticiários especializam-se em divulgar crimes, violência e barbaridades verificadas no país e no estrangeiro. Não que devessem omitir essas desgraças, pretendendo sua inexistência. O problema é que para os responsáveis pela programação informativa parece existir apenas esse tipo de notícia. Até telejornais normalmente permeáveis a outros acontecimentos do dia-a-dia, como política, economia, esportes e entretenimento vão abrindo espaços para a desgraça alheia.

Retrucam ser isso o que o povo quer, ou seja, os índices de audiência aumentam, e o faturamento também, na medida em que se divulgam e esmiúçam assaltos, sequestros, estupros, latrocínios, tiroteios, corrupção, enchentes e terremotos.

Convenhamos, importa menos saber quem nasceu primeiro, se o ovo ou a galinha, ou seja, se o telespectador dá preferência a esse tipo de noticiário ou se esse tipo de noticiário não dá outra opção ao telespectador. Seria bom pensar grande, mesmo mantendo os parâmetros do sistema capitalista e evitando qualquer tipo de controle do conteúdo da informação.

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AINDA ITAMAR

No auge da ditadura Geisel, quando da divulgação da “Lei Falcão”, em 1976, poucos reagiram como Itamar Franco diante da proibição de candidatos fazerem campanha pelo rádio e a televisão, nos períodos de propaganda eleitoral. Só era permitido apresentar, nas telinhas, uma foto do candidato, seu nome, número e profissão, proibindo-se debates e até cartazes nos muros e postes. O senador mineiro foi à tribuna e sugeriu que o governo militar baixasse uma lei mais simples: “é proibido ao eleitorado saber o que pensam os candidatos”.

Naqueles idos vigia o Ato Institucional numero 5, atingindo inúmeros parlamentares do então MDB. Especulações sobre novas listas de cassados eram feitas todos os dias, e Itamar frequentava todas. Aos jornalistas ele dizia não estar preocupado, porque assim teria oportunidade de voltar a exercer a profissão à qual jamais pode dedicar-se, a engenharia.

Fonte: Tribuna da Imprensa

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