Carlos Chagas
Importa menos, hoje, expor preferências variadas ou especular sobre quem sairá vitorioso, se Dilma ou Serra. O fundamental é verificar que há razão quando o comitê de campanha do PT denuncia má-vontade e até má-fé por parte de vasto segmento da grande imprensa diante da candidata. Depois dos jornalões, faltavam as revistas semanais. Não faltam mais, desde o fim de semana.
Como porta-voz ou, mesmo, integrante das elites econômicas, e com as exceções de sempre, a mídia distorce, omite, pressiona e tenta transmitir à opinião pública a iminência do chamado risco-Dilma, ou perigo-Dilma, em cada gesto, iniciativa ou opinião da ex-ministra.
Exatamente como aconteceu em 2002, quando o Lula caminhava para eleger-se, até que cedeu, esqueceu antigas promessas de reformas de base e escreveu a tal “Carta aos Brasileiros”, prometendo manter as linhas-base da política neoliberal de Fernando Henrique. Parece ser isso o que pretendem, cercando e encurralando Dilma Rousseff em cada momento de sua campanha.
No fundo, a grande imprensa e seus mentores estão morrendo de medo. Temem que a candidata possa fazer o que o Lula não fez, interrompendo o fluxo de benesses e favores para o andar de cima e promovendo mudanças essenciais, como o imposto sobre grandes fortunas, a proibição da fuga de capitais, a taxação do capital especulativo e a ampliação da reforma agrária.
Dilma já cedeu uma vez. Seu recuo ao estripar o programa de governo do PT junto à Justiça Eleitoral, semana passada, estimula maiores pressões por parte das elites. Elas estariam felizes e até demonstrariam simpatia pela candidata caso um sucedâneo da “Carta aos Brasileiros” emergisse dessa guerra suja que passaram a desencadear. Resta saber se haverá ânimo para a resistência.
Quem sabe dá certo?
Uma lufada de oxigênio acaba de ser promovida pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Ricardo Lewandowski, ao declarar esperanças na aplicação férrea da lei da ficha-limpa nas eleições de outubro. Quem sabe vai dar certo e os bandidos ficarão fora da disputa pelo voto de 130 milhões de brasileiros?
Não vinham sendo promissoras as decisões da Justiça Eleitoral, concedendo liminares para o registro de cidadãos condenados por tribunais colegiados por crimes variados. Com a palavra do presidente do TSE, emerge a expectativa de correção dessas medidas iniciais quando do exame do mérito dos recursos. Pelo menos, surge alguém a favor da ética.
Sacrifícios
Sacrifícios, todo candidato deve estar preparado para fazer, de comer buchada de bode a enfrentar cotoveladas andando pelas ruas das grandes cidades. Beijar criancinhas até que constitui um refrigério, mas participar de almoços e jantares sem conta, cercando-se de políticos empenhados em bajular de corpo presente, falando mal nas ausências, nem tanto.
Dilma Rousseff e José Serra, sem esquecer Marina Silva, enfrentarão até 17 de agosto essa prova de resistência olímpica, obrigados a sorrir quando melhor seria sumir. Naquela data começa a propaganda eleitoral gratuita pelo rádio e a televisão, levando os candidatos a passar a maior parte do tempo em estúdios de gravação. Pelo menos, e em parte, ficarão livres de arcaicas obrigações eleitorais.
Arroz de povo
Não se sabe bem se foi na campanha de Dilma Rousseff ou de José Serra, mas numa delas alguém teve a infeliz idéia de mandar buscar ou, ao menos, de ir até o aquário onde aquele execrável polvo alemão acertou o resultado de todas as partidas da copa do mundo de futebol. Quem sabe ele não pouparia montes de esforços e de recursos decidindo, desde já, quem será o vitorioso em outubro? A proposta teria sido recusada com indignação, surgindo até a alternativa de que melhor será sequestrar o bicho, antes que se pronuncie, mandando-o para a panela e depois para mesa, onde se serviria um delicioso arroz de polvo…
Fonte: Tribuna da Imprensa