Certificado Lei geral de proteção de dados

Certificado Lei geral de proteção de dados
Certificado Lei geral de proteção de dados

segunda-feira, março 23, 2009

Cada vez mais escabroso

Paulo Brossard
Faz um mês, deputada federal e vereador fizeram grave denúncia, com vasta publicidade e repercussão, envolvendo várias pessoas, inclusive a governadora do Estado. Para conferir relevo especial ao caso, acrescentaram os denunciantes terem tido acesso às gravações nas quais a denúncia se fundava e que não deixariam dúvida acerca dos fatos divulgados, fatos esses colhidos em investigação policial ainda sigilosa. Considerando as responsabilidades públicas dos denunciantes e dos denunciados, bem como o conteúdo dos fatos, fossem eles verídicos ou não, a gravidade era inegável, se verdadeiros porque verdadeiros, se falsos por falsos, e não se trata de jogo de palavras. A gravidade é inerente, seja qual rumo que a investigação imprescindível venha a tomar; podem mudar o nome das pessoas, os denunciantes passando a acusados e os acusados a vítimas, mas a seriedade do episódio é indisfarçável e sua apuração necessária e imperiosa. Até o interesse pessoal de cada uma das pessoas envolvidas, denunciantes e acusadas, pouco importa, exige o esclarecimento cabal do caso, sem falar no interesse coletivo, também ferido e ferido gravemente. No entanto, passado um mês, a opinião pública permanece órfã, não de um esclarecimento que a escabrosidade do episódio impõe, mas de uma simples notícia acerca do mínimo que pudesse ser divulgado com seriedade e responsabilidade. Até agora, nada, como se se tratasse de um fuxico à-toa, que não interessasse a ninguém e deixasse a qualquer um a faculdade de extrair as conclusões que quisesse.
Mas, a fazer o fato central ainda mais intrigante, não foi dita uma palavra acerca das supostas gravações que teriam fundamentado a denúncia, às quais os acusadores disseram ter tido acesso, ainda que sigilosa a investigação, promovida pela Polícia Federal. Se sigilosa, como, quando, onde, com quem ou graças a quem teria ocorrido o acesso alardeado pelos denunciantes? Esta é outra questão que deve ser esclarecida sem deixar sombra de dúvida. Houve acesso ou não? E nela se abriga uma garantia que não pode ser ignorada, nem esquecida, nem desprezada, ainda que seja desagradável.
Ao que se diz, a investigação, ou que outro nome tenha, a qual teriam tido acesso os dois denunciantes, corre perante a Polícia Federal. Também é fato notório que um dos denunciantes tem como ascendente o próprio ministro de Estado sob cuja autoridade está subordinada a Polícia Federal. Muitas ilações poderiam ser extraídas, mas vou limitar-me a uma pergunta: como se obtém acesso a assuntos sob apuração sigilosa na Polícia Federal, junto a quem, quando e de que forma?
O certo é que o caso entra em fase melindrosa. Os denunciantes se serviram de gazua para, a desoras, pelo faro se dirigirem à gaveta onde se guardavam as gravações supostamente arrasadoras, ou contaram com a ajuda de alguém? Longe de admitir, mesmo para argumentar, que o ministro de Estado pudesse cometer essa deslealdade, ele praticou ato tendente ao esclarecimento do estranho episódio? Ou não sabia de nada, como de nada sabia o presidente da República no caso de mensalão, e continuou a nada saber até agora? O certo é que a situação vai ficando cada vez mais escabrosa e cada vez mais tem de ser dilucidada, pois ela interessa a todos. E um mês decorreu e a respeito da denúncia arrasadora reina silêncio tumular. Por quê? Para quê? Afinal, como se consegue acesso aos resultados sigilosos apurados pela Polícia Federal em investigações também sigilosas? Ou tudo é falso? A gravidade do caso, o alegado acesso a segredos da investigação em curso na Polícia Federal, afirmado pelos acusadores, não pode ser cadaverizado a ponto de vir a ser recolhido ao silêncio dos túmulos.
*Jurista, ministro aposentado do STF
Fonte: Zero Hora (RS)

Em destaque

Por que temos de ajustar as contas? Ora, para evitar um novo Bolsonaro

Publicado em 26 de dezembro de 2024 por Tribuna da Internet Facebook Twitter WhatsApp Email Bolsonaro é antidemocrático e defende até a tort...

Mais visitadas