Publicado em 24 de maio de 2023 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
A repercussão internacional sobre o triste episódio de racismo na Espanha contra Vinícius Júnior foi enorme e reflete bem a dimensão do problema que com a sua carga de veneno resiste ao tempo civilizado. Todos os setores se mobilizaram contra o episódio deplorável e, no fundo, humilhante para os seus próprios autores diretos, no caso os torcedores do Valencia, adversário do Real Madrid, no confronto que deu margem a que o racismo se mantivesse em dose agressiva.
O Globo desta terça-feira, reportagem de Vitor Seta, Alfredo Mergulhão, Bianca Gomes, Breno Angrisani, Eliane Oliveira, Diogo Dantas e Renan Monteiro focalizou amplamente o que aconteceu na Espanha, uma repetição de fatos já ocorridos em outros jogos. A Folha de S. Paulo também focalizou o assunto da mesma forma que o estado de S.Paulo.
ATRASO – É Incrível que, apesar das condenações, atos de racismo permaneçam e sejam levados a efeito. Trata-se de um enorme atraso enredado na consciência dos que se julgam supremacistas. Na minha opinião, no planeta Terra só existe uma raça, a raça humana. Comprovando essa visão, relembro o episódio ocorrido em 1959, nos Estados Unidos, quando apesar da lei de integração dos direitos civis, a Universidade de Arkansas recusou-se a cumprir uma decisão da Corte Suprema do país, negando-se a matricular o estudante negro James Meredith.
O presidente Eisenhower decretou intervenção federal no estado. James ingressou na universidade levado por tropas do Exército Americano. Eisenhower, que havia sido eleito em 1952 e reeleito em 1956, defendendo a intervenção, relembrou o desembarque das forças aliadas nas praias da Normandia, em 1944. Desembarcaram 150 mil homens, brancos, negros, mestiços, de descendência indígena e amarela.
OMBRO A OMBRO – As metralhadoras nazistas de Hitler não escolhiam cor e nem raça para abater. Os aliados dominaram a Normandia e libertaram a França. E se cores diferentes puderam estar ombro a ombro a um passo da morte, não faz sentido não poderem estar lado a lado nos transportes, nas universidades, nas diversões, nas pesquisas e na vida em geral. O racismo é irracional, fanático e também uma negação da liberdade e dos direitos humanos.
Se não houve racismo em grandes momentos da história universal, digo, não faz sentido que ele ocorra tantos anos depois, sem levar em consideração as vitórias das democracias, inclusive a brasileira, contra o totalismo fascista e nazista. Vinícius Júnior deu um exemplo ao mundo de como deve ser tratado o racismo, cujo enfrentamento significa assegurar a liberdade e os direitos humanos fundamentais.
PLANOS OPOSTOS – No painel realizado na segunda-feira pela Folha de S. Paulo, o tema dos juros da Selic foi predominante, colocando em planos opostos o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o senador Rodrigo Pacheco, presidente do Congresso Nacional. Reportagem de Eduardo Cucolo, Folha de S. Paulo, expõe de forma ampla os debates realizados.
Dois pontos se destacam. O presidente do BC afirmou que as críticas do presidente Lula à autonomia do Bacen e à política de juros demonstram falta de conhecimento. Incrível, o presidente do Banco Central manter-se na oposição ao próprio governo do qual faz parte. A autonomia não pode justificar uma divergência tão grande como a que se verifica ao longo do atual mandato de Campos Neto.
Rodrigo Pacheco atacou os juros altos afirmando que eles impedem o desenvolvimento econômico: “Nós temos um país em que não se pode invocar a necessidade de se fazer mais reformas como condição para reduzir a taxa básica de juros”, afirmou. A professora Leda Paulani, da USP, afirmou que o Banco Central pode ser independente, mas não pode ser dependente de interesses da riqueza financeira que prejudica o país há várias décadas. Conforme se constata, mais um capítulo sobre as dificuldades de um relacionamento entre o mercado financeiro e o Palácio do Planalto.
LUCROS – Alguns bancos, não só no Brasil, mas também nos Estados Unidos, alcançam lucros estratosféricos uma vez que são os detentores dos títulos que lastreiam as dívidas internas. A dívida interna brasileira oscila em cerca de R$ 6 trilhões. O endividamento do governo americano, reportagem de Emanuelle Bordalo, O Globo de ontem, revela que ela se eleva a US$ 31 trilhões para um Produto Interno Bruto da ordem de US$ 20 trilhões.
A questão veio à tona transportada pela reportagem porque o presidente Joe Biden está empenhado junto à Câmara dos deputados para poder elevar o endividamento sem o que não poderá socorrer alguns bancos que se encontram em crise e que poderão lesar investidores e depositantes. O governo de Washington possui títulos de seguros para os seus créditos, entre eles títulos brasileiros à base da Selic. Mas os papéis somam apenas US$ 24 trilhões, enquanto as dívidas já registradas são de US$ 31 trilhões.
Os Estados Unidos possuem a maior faixa percentual do PIB mundial. O Produto Bruto fabricado no universo oscila em cerca de US$120 trilhões. Os EUA possuem praticamente 18% de toda produção universal. Aparentemente uma contradição; como o maior produtor do mundo, possui uma dívida que também é a maior do universo? Os credores são os banqueiros de sempre.