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terça-feira, maio 02, 2023

1 Fim de acordo sobre grãos entre Rússia e Ucrânia pode impactar inflação no Brasil, dizem especialistas




De acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA, a Ucrânia exportou cereais no valor de US$ 27,8 bilhões em 2021

Iniciativa do Mar Negro para a circulação de cereais foi assinada em julho do ano passado e pode terminar em 18 de maio

Por Pedro Zanatta e Bruno Torquato

O acordo que permite a exportação de grãos pelo Mar Negro, firmado entre Rússia e Ucrânia pode estar com os dias contados. Na última semana, a Rússia informou, por meio de carta, que pode encerrar o tratado alegando que a Ucrânia e países do Ocidente não estariam cumprindo os termos.

Especialistas avaliam que o eventual encerramento do acordo traz preocupação para o cenário global de insegurança alimentar e deve elevar o preço dos grãos e cereais, pressionando a inflação de diversos países, incluindo o Brasil.

“Em suma, afeta o Brasil porque, se não houver a renovação, o preço da soja vai subir, assim como o preço do trigo. Por um lado, ganham os produtores de soja do país, uma vez que deve haver a busca da soja como substituição pelo girassol, mas, do ponto de vista do consumidor, significa um encarecimento de alimentos que utilizam o trigo”, diz Vinícius Vieira, professor de relações internacionais da Fundação Getulio Vargas – FGV.

Na lista de exigências, Moscou pede que o Russian Agricultural Bank – banco estatal regulamentado pelo Banco da Rússia – seja reintegrado ao sistema de comunicações financeiras, o Swift, e que sejam retomadas as permissões para o acesso a máquinas agrícolas, assim como autorizações para serviços de manutenção relacionados com o equipamento.

Além disso, o país liderado por Vladimir Putin pede ainda o fim das restrições no acesso aos portos marítimos e o reestabelecimento da conduta de amônio entre Tolyatti (Rússia) e Odessa, paralisado desde o ano passado, como também o fim do bloqueio das contas bancárias de empresas russas ligadas à produção e ao transporte de alimentos e fertilizantes.

Na quinta-feira (27), o Ministério das Relações Exteriores da Rússia afirmou que somente a implementação total pode salvar o acordo do colapso. A declaração reafirmou a insatisfação de Moscou com um acordo que visa evitar uma crise alimentar global.

A iniciativa do Mar Negro para a circulação de cereais foi assinada em julho do ano passado entre Ucrânia e Rússia, sob a intervenção diplomática da Turquia. O acordo estabeleceu prazo de 120 dias, renovável pelo mesmo período, desde que ambas as partes estejam em concordância.

Já em março deste ano, a Rússia prolongou a vigência do tratado por 60 dias, pois, segundo Moscou, só foi cumprida “metade do acordo”.

“Sabemos que os representantes da Organização das Nações Unidas (ONU) fazem determinados esforços, mas nem sempre têm resultados. Tal como aconteceu antes, a segunda metade do acordo não funcionou. As condições não são cumpridas”, disse a diplomacia de Moscou na ocasião.

“A Rússia tem sempre uma postura muito acusativa de que o acordo não seria feito pela Ucrânia. Não vejo evidência para tanto, claramente ela quer enfraquecer a Ucrânia e vai usar a não renovação dele, em potencial, para jogar, mais uma vez, uma consequência deletéria da guerra no colo do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky”, explica Vieira.

Implicações para o Brasil

As perspectivas para o Brasil, caso o acordo termine, não são boas. Quem acredita nessa visão mais pessimista é Ricardo Mello, economista e especialista em gestão de negócios.

“Tivemos uma inflação de alimentos importante em 2022, esse ano começou a cair, mas caso haja o fim do acordo, a tendência é que as commodities tenham elevação no preço, impactando diretamente na inflação brasileira”, disse.

Para ele, esse seria outro fator para o Banco Central (BC) não reduzir a taxa de juros no Brasil, que atualmente é motivo de atritos entre a autoridade monetária e o governo federal.

Nesse cenário, Ricardo exemplifica que os preços dos pães, do macarrão e outros itens da cesta-básica podem aumentar. O outro cenário de manutenção do acordo não terá impactos no Brasil, de acordo com o economista.

“Porque a manutenção é esperada, o mercado já precificou que o acordo será mantido. Então não melhora nem piora”, disse.

Ele pontuou ainda que a manutenção do acordo é boa tanto para a Rússia, quanto para a Ucrânia. “Entendo que deve ser renovado apesar da tensão maior na guerra. O acordo é muito importante, ele foi importante para segurança alimentar mundial, mas é mais para os dois porque boa parte do que eles exportam são os grãos”, afirmou.

Segundo Ricardo, a Ucrânia, por exemplo, exportou mais de 25 milhões de toneladas de grãos pelo Mar Negro, modalidade que representou 80% do caminho feito pelas exportações ucranianas.

Ele também não vislumbra que o G7 irá influenciar no término do acordo. “Eles querem pressionar a Rússia acabar com a guerra por meio de sanções, mas, no caso desses dois produtos, os outros países entendem a importância e seria prejudicial que esses grãos não fossem importados”, acredita.

Importância e relevância

Firmada no ano passado, o acordo desbloqueou três portos ucranianos no Mar Negro cinco meses após a invasão da Rússia e foi projetada para aliviar uma crise alimentar global.

Ele permite a exportação de 5 milhões de toneladas de cereais da Ucrânia por mês, por meio de um corredor seguro no Mar Negro, ou seja, no local vigora um cessar-fogo entre ambos os países em guerra.

Entre os principais pontos do tratado estão:

    Os navios ucranianos guiarão a entrada e saída de navios carregados de grãos por um corredor em águas portuárias minadas no Mar Negro;

    No total, 5 milhões de toneladas de grãos podem ser movidas por mês;

    A Rússia aceitará uma trégua enquanto os embarques forem feitos através de três portos ucranianos, incluindo Odessa, e em torno de quaisquer navios afetados pela transferência;

    A Turquia inspecionará os navios para aliviar os temores da Rússia de que eles possam transportar armas contrabandeadas e estabelecer um centro conjunto de coordenação em Istambul para atuar em caso de conflito.

A Ucrânia normalmente fornece cerca de 45 milhões de toneladas métricas de grãos para o mercado global todos os anos e é o maior exportador mundial de óleo de girassol. Juntamente com a Rússia, foi responsável por cerca de um quarto das exportações globais de trigo em 2019.

De acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA, a Ucrânia exportou cereais no valor de US$ 27,8 bilhões (R$ 144,4 bilhões) em 2021.

O declínio das exportações ucranianas e a situação global causada pela guerra afetam os preços globais dos alimentos.

Vinícius Vieira, lembra que a Ucrânia exporta 30% menos grãos do que costumava exportar antes do conflito. Deste montante, 26% vão para os países de renda média elevada e 27% vão, de fato, para países de renda média baixa e países da África subsaariana.

Insegurança alimentar

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, um órgão da ONU, alerta que até 47 milhões de pessoas podem ter “insegurança alimentar aguda” por conta da guerra.

A ONU estima que a redução dos preços dos alimentos básicos como resultado da negociação entre os países impediu indiretamente que cerca de 100 milhões de pessoas caíssem na pobreza extrema.

Larissa Wachholz, especialista do núcleo de Ásia do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), lembra ainda que antes mesmo do início do conflito, o mundo já passava por uma situação complicada quando se trata do comércio de grãos e cereais.

A especialista cita a peste suína que atingiu a China e comprometeu metade da produção suína do país. Após o fim da doença, os chineses retomaram a criação dos animais com novos moldes mais profissionalizados e industrializados,

“Ao recriar esse plantel, eles usaram modelos mais profissionalizados e industrializados de criação em larga escala, o que mudou a forma de alimentação desse animais e, por conta disso, exigiu-se maior demanda por grãos”, disse.

Logo em seguida, o mundo foi surpreendido pela pandemia que bagunçou as cadeias globais de comércio e, consequentemente, do transporte de grãos.

Wachholz diz que durante a pandemia muitos países não conseguiram manter contratos internacionais de alimentos, enquanto outros aumentaram seu protecionismo.

“Já vínhamos de uma sequência turbulenta de eventos com impacto na cadeia de suprimentos. […] Combinado a isso ocorre o elemento da guerra da Ucrânia, um país que é um grande produtor de grãos. Então, a perspectiva de cancelamento desse acordo tem impacto de uma avaliação global de preocupação com a segurança alimentar do ponto de vista do fornecimento”.

Agência Brasil / CNN

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