Deu em O Globo
A falsa narrativa de que uma conspiração o impediu de continuar por mais quatro anos na Casa Branca tem sido a base do discurso político de Trump antes mesmo dos números da apuração confirmarem a vitória do democrata Joe Biden, no dia 7 de novembro. Além de seus apoiadores, Trump conseguiu que parte dos congressistas republicanos abraçasse a ideia.
Na quarta-feira, quando o Congresso se reunirá em sessão conjunta para contar os votos dos delegados aos Colégio Eleitoral e proclamar a vitória de Biden — a última etapa do processo eleitoral antes da posse do democrata no dia 20 de janeiro — 11 senadores do partido, liderados pelo texano Ted Cruz, anunciaram que vão questionar a validade dos resultados em plenário.
SEM CHANCES – A iniciativa é considerada sem chances de sucesso: objeções à proclamação do resultado precisam ser aprovadas separadamente pelas duas Casas do Congresso. A Câmara continuará sob o comando democrata na próxima legislatura, que tomou posse neste domingo, e muitos senadores republicanos reconheceram a vitória de Biden — incluindo o líder da maioria, Mitch McConnell, e o senador pela Carolina do Sul Lindsey Graham. Ambos foram fortes aliados de Trump durante todo o seu mandato.
No entanto, o esforço servirá para constranger Biden e, mais que isso, pôr pressão sobre os republicanos que votarem no Congresso pela confirmação do resultado — na prática, um voto contra Trump. Além disso, ele transformará um ritual político que normalmente passa despercebido em uma sessão conturbada.
SÃO APENAS 12 – Além dos 11, o senador Josh Hawley já havia anunciado que questionaria os resultados. E no domingo outros quatro senadores republicanos protestarem e disseram que vão apoiar a vitória de Biden,
“Parece ser mais uma manobra política do que um remédio efetivo. Vou escutar atentamente, mas eles têm uma barreira muito alta para superar”, afirmou o senador Lindsey Graham.
PROTESTO SELVAGEM – O cálculo vai além de vencer ou perder. Ao apresentar os questionamentos, os senadores amplificam a alegação de Trump de que Biden venceu graças a uma fraude, o que provavelmente será repetido ao longo de todo o mandato do democrata.
Na quarta-feira, enquanto o Congresso estiver reunido, apoiadores do presidente farão uma manifestação em Washington, um evento que já é visto como potencialmente perigoso pelas autoridades locais. E o próprio Trump o classifica de “protesto selvagem”.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Se os Estados Unidos não fossem um país solidamente democrático, Trump estaria colocando em risco as instituições. Porém, a única coisa que conseguirá é atrasar a reunião do Congresso, que será dirigida pelo atual vice-presidente Mike Pence, que está contra essa postura de Trump denunciar fraudes que não existiram. (C.N.)