Pedro do Coutto
O presidente Bolsonaro, manchete principal de O Globo, e chamadas em primeira página da Folha de São Paulo e do O Estado de São Paulo, como se constata, os três maiores jornais brasileiros. As edições desta quarta-feira assinalam nitidamente a profundidade da crise que está envolvendo o governo e colocando em risco o próprio regime democrático.
Aliás, no dia de hoje fica na história universal assinalando para sempre o verdadeiro atentado praticado pelos apoiadores de Donald Trump.
DIREITA DITATORIAL – Temos, assim, duas manifestações da direita que não se conforma com os limites da legislação. E esquecem o princípio hegeliano de que a lei é a conciliação entre os contrários. Mas fiquemos no Brasil.
Jair Bolsonaro afirmou que o Brasil está quebrado e que ele não pode fazer nada, citando como exemplo seu projeto referente ao Imposto de Renda.
O presidente da República atacou frontalmente a imprensa, de modo geral, acusando-a de incentivar a pandemia do coronavírus. Absurdo total. Penso que Bolsonaro está tentando radicalizar o processo político deslocando-o para a área militar. Um desastre sob todos os aspectos.
PONTO FUNDAMENTAL – Na edição de hoje de O Globo, Merval Pereira chamou atenção para um ponto fundamental na manifestação do presidente, que busca o apoio dos militares. “Não posso fazer nada, mas têm de me engolir até 2022”. Em O Globo, a reportagem é de Daniel Gulino, Cássia Almeida e João Sorima Neto. No O Estado de São Paulo está assinada por Emilly Behnke, e na Folha de São Paulo, Ricardo Della Coletta e Bernardo Caram.
Todas as matérias destacam o caráter extremista que reúne o bloco da direita em torno de Jair Bolsonaro. Vale a pena acentuar que o comportamento de Bolsonaro explode também a candidatura de Arthur Lira. Isso porque as correntes políticas vão sentir de imediato a importância das mesas do Congresso Nacional.
O CASO DE JÂNIO – No dia 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros renunciava e transportava o impasse da posse de Jango Goulart para o conjunto das Forças Armadas. É compreensível que as novas gerações de jornalistas deixem escapar o exemplo de 1961. Portanto, precisam estudar a história moderna do Brasil.
Em 23 de agosto de 1961, o governador Lacerda, pela TV Tupi, denunciava ter sido convidado por Jânio Quadros para desencadear um golpe no país. A denúncia teve efeito imediato deixando o Senado e a Câmara Federal preparados para um desfecho dramático.
Assim quando a comunicação da renúncia chegou ao Senador Moura Andrade, presidente do Senado, estabeleceu-se o princípio de que renúncia é um ato profundamente pessoal, não cabendo ao Legislativo examinar a comunicação do Planalto. Fica o exemplo em nossa história. Os sintomas são de uma grave crise cujas nuvens fornecem a antevisão de um temporal.