Quinta, 24 de Janeiro de 2019 - 07:20
por Fernando Duarte
Foto: Reprodução / TV Bahia
Era uma vez uma praia de areia branquinha. Essa praia já não era paradisíaca há tempos, mas ainda assim conseguia atrair gente. E não era pouca gente. Era gente de todos os lugares da cidade. Do mundo também. Afinal, aquele destino não era apenas uma praia qualquer. Era um paraíso incrustado numa metrópole. Pensou em algum lugar? Poderia ser Salvador, mas infelizmente não é, já que em pleno verão uma praia de muita visibilidade foi tomada por uma areia preta. E, até agora, as autoridades públicas envolvidas não se entendem sobre quem vai resolver o problema e apenas apontam os dedos para o grupo adversário em busca de culpados.
Tudo começou quando um trecho de uma praia da Barra amanheceu com a areia escura e cheia de detritos. A sujeira das praias não uma novidade na agenda do soteropolitano e de muitos baianos – infelizmente. Porém aconteceu em um dos principais destinos turísticos da capital baiana e durante a alta estação, quando um número enorme de visitantes passa pela cidade. É um absurdo que a praia esteja inapta a receber turistas, todos concordam com isso. Mas de quem é a culpa pela localidade ficar assim? Não dá para ter certeza.
O primeiro a se manifestar foi o prefeito de Salvador, ACM Neto. Por meio das redes sociais, o gestor acusou a Embasa, empresa responsável pela coleta e tratamento de esgoto em boa parte do estado, de provocar o mini desastre ambiental – e econômico, já que impacta na economia do turismo. Para o prefeito, o material que foi jogado na praia da Barra teve origem na rede de esgotamento sanitário e, portanto, responsabilidade da Embasa.
Na sequência, foi a vez da empresa de saneamento se manifestar. Segundo a Embasa, os detritos que chegaram à Barra são resultado da rede pluvial, responsabilidade da prefeitura de Salvador. Ao que parece, ACM Neto até tinha antevisto a justificativa. Tanto que na manifestação inicial ressaltou que não choveu na cidade ao ponto de permitir que tanto material orgânico e inorgânico chegasse às praias. A Embasa, no entanto, admite a possibilidade de ligações clandestinas à rede pluvial terem gerado o crime ambiental.
O resumo da ópera é fácil de saber. Como partes de grupos políticos adversários, o episódio será mais um na batalha diária entre ACM Neto, representando a prefeitura, e o governador Rui Costa, representado nesse imbróglio pela Embasa. Absolutamente nenhuma surpresa. Afinal, a troca de acusações e críticas faz parte do cotidiano de qualquer um dos envolvidos, inclusive da imprensa, que noticia frequentemente embates.
Além de não ser novo, o “reme-reme” não traz nenhum tipo de resolução para o problema. A prefeitura vai acusar a Embasa de cometer crime ambiental. A Embasa vai dizer que a culpa não é dela e que é provável que a prefeitura tenha responsabilidade. E a praia vai continuar suja e com reflexos no uso do equipamento mais democrático disponível no litoral. Sem a população, sem turistas e sem qualquer pudor de admitir que a falta de diálogo entre os órgãos públicos só traz uma consequência: prejuízo para o povo.
Para que não digam que jornalista só sabe criticar, fica uma sugestão: por que a prefeitura e a Embasa não se reúnem para chegar a um consenso sobre esse problema das praias e tantos outros que seguem sem solução?
Este texto integra o comentário desta quinta-feira (24) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM, Clube FM e RB FM.
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